Mobilidade e interatividade compõem o novo social

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Há uma relação entre o comportamento do indivíduo e a tecnologia, não há como negar. Até que ponto um influencia o outro é um território cheio de opiniões. Uns dizem que quem dita o comportamento é a tecnologia criada; outros afirmam que é o homem quem define as características da tecnologia em função de sua necessidade. Entretanto, saber quem mexe com quem não é a questão, admitir a quebra de paradigmas é o mais importante.

No atual paradigma social, da Sociedade da Informação, a tecnologia atinge todos os segmentos na vida de um homem: profissional, afetivo, familiar e particular. A conjuntura é de pessoas interligadas em rede, colaborando na troca de informação.
Na medida em que os aparelhos ficam mais baratos e fáceis de usar, a necessidade se confunde com o modismo. Com isso, o número de usuários destas tecnologias cresce rapidamente.

Duas tendências estão em evidência: a mobilidade e a interatividade.

Resumidamente (e comercialmente), vamos entender a mobilidade como a possibilidade de carregar conosco a nossa central de comunicação (para simplificar, vamos reunir aqui mobilidade e portabilidade).

Interatividade seria a possibilidade de o usuário participar e agir sobre o conteúdo (o conceito é muito mais denso que isso; a palavra interatividade é revestida de marketing e na realidade o que as empresas vendem é participação).

A convergência de mídias, pela adoção da linguagem digital, se encarregou de juntar os diferentes usos em poucos equipamentos. A mobilidade e a interatividade caminham unidas na sociedade da informação.

O computador em si é interativo, a mobilidade veio com o laptop. O celular é o símbolo da mobilidade. GPS, TVs portáteis, MP3 players e videogames são exemplos de equipamentos que surgem priorizando a mobilidade e a interatividade.

O comportamento social do indivíduo é alterado. Pensando de forma maniqueísta, este paradigma possui dois lados: o Bem (espiritual) e o Mal (material).

O contato com pessoas diminui. Antes, você precisava se dedicar para encontrar alguém, realizar uma ação (sair de casa, por exemplo). Hoje, esta dificuldade se foi ? na sociedade digital, o conceito de espaço e tempo é alterado.

Ao viajar, não é mais necessário parar para pedir ajuda, usa-se o GPS. O contato 24 horas do dia através de redes sociais e do próprio celular tira a urgência da conversa, pode-se transmitir o conteúdo na hora que quiser. É só passar um e-mail ou mandar um scrap.

O computador é pessoal. Usá-lo pressupõe isolamento: é um mouse, com um teclado e uma tela. Possibilitar o deslocamento do computador para qualquer lugar é garantia de menos uma pessoa participando da atividade; ela pode até continuar inserida, mas no mínimo sua atenção ficará comprometida.

São pequenas atitudes que somadas atrapalham o convívio social. No trabalho, é mais fácil mandar um e-mail, onde você consegue elaborar melhor o que dizer, que falar pessoalmente. Na vida amorosa, um rapaz conhece uma garota, acha-a no Orkut, pega seu MSN e começa a conquista através de frases esporádicas pelo mensageiro instantâneo (tudo online).

Com os amigos e familiares, não é mais necessário encontrá-los com o objetivo de evitar perder o contato ? eles já estão registrados na rede social, na agenda do celular e no catálogo de endereços.

A urgência pelo encontro desapareceu devido à disponibilidade o tempo todo. Eu não preciso marcar de sair com meu primo, pois o encontro sempre no MSN e conversamos lá mesmo!

Por outro lado, as novas tecnologias possibilitam um maior acesso a informação, a cultura é mais facilmente disseminada. Maior informação gera a necessidade de filtragem, de escolha, e, portanto, um conhecimento especializado e personalizado. As redes são formadas baseando-se nas características de cada usuário; comunidades de pessoas parecidas são formadas priorizando a colaboração.

Com a formação de grupos, o conceito de amizade se expandiu. Não se faz amigos só na escola ? as crianças de hoje conversam com o mundo todo, seja na comunidade sobre um jogo de videogame ou no fórum sobre futebol.

A interação pode ter ficado virtual, mas ficou facilitada. Mais e mais pessoas se juntam com o objetivo de trocar informação e experiências específicas ? há a formação de uma cultura global, um espaço comum a todos os povos. A internet é a praça do mundo, as redes sociais são os bancos onde as pessoas sentam para conversar.

A facilidade em encontrar uma pessoa (seja pelo celular, rede social, MSN…) ao mesmo tempo em que tira um pouco a sua privacidade (e individualidade ? o direito de ter um tempo solitário, individual, perdeu-se), também facilita a resolução de problemas e a troca de informação.

O maniqueísmo é necessário para listar os prós e contras. Não pode ser usado como inibidor ou estimulador, mas sim como guia para o comportamento. O ideal, como tudo na vida, é o equilíbrio. Uma atitude não deve valer mais que outra, não deve ser substituta. Deixar de interagir pessoalmente para interagir virtualmente não pode ser uma regra. O contato é fundamental para o crescimento intelectual e afetivo do indivíduo.

Vivemos um período de transição, de descobertas. A visão popular do termo social, do convívio em comunidade, está ultrapassada; ela não implica mais necessariamente o convívio, a intimidade, o conhecimento mútuo. Desconhecidos conseguem se relacionar com base em peculiaridades, como o gosto por determinado hobby.

Os laços de amizade ficaram diluídos em campos gigantescos de afinidade ? hoje, saber quem uma pessoa é, seja presencial ou virtualmente, já a intitula como amiga (vide o número de ?amigos? em redes sociais). O mais incrível é que mesmo o laço sendo estruturalmente fraco, o contato existe e a probabilidade de crescimento é exponencialmente maior do que se nenhum registro digital fosse feito. O que quero dizer é que existe um laço, apesar de não haver história compartilhada para aquela formação.

O novo social mescla o presencial e o virtual (no sentido de online ou mediado por tecnologia). O preconceito no uso destas tecnologias para interagir é um discurso ultrapassado. Usar o computador, jogar, navegar e conversar pelo Orkut já não são mais coisas de ?nerds? ou ?geeks?; são comportamentos apropriados à realidade que vivemos.

O desafio é não ficar deslumbrado com o potencial da tecnologia e desaparecer em avatares, em personagens intangíveis nas diversas redes formadas. Afinal, o calor de um processador com o cooler quebrado não substitui o calor humano. [Webinsder]

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<strong>Gustavo Audi</strong> (gustavoaudi@fiocruz.br) é formado em Rádio e TV pela UFRJ, trabalha com produção de vídeo para a Fiocruz, é especialista em Mídias Digitais pela UNESA e mantém o blog <strong><a href="http://www.simplesdelembrar.wordpress.com/" rel="externo">Simples de lembrar</strong></a>.

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2 respostas

  1. Bom texto! É válida a reflexão.

    Só discordei do …(e individualidade ? o direito de ter um tempo solitário, individual, perdeu-se)….
    Não somos tão escravos assim da tecnologia! Ainda podemos desligar o celular, bloquear quem não queremos conversar no msn, deixar o notebook em casa, etc. Nós podemos (e devemos de vez em quando) nos desconectar e desfrutar do calor humano e dos aspectos off-line da vida, incapazes de serem reproduzidos por máquinas.

  2. Ainda que com um certo rancor de momento, postamos um texto exatamente sobre isso. As divergências humanas na era da convergência. Com a certeza de que nada substitui o diálogo, viva o que melhor podemos viver de social nas redes.

    Parabéns pelo texto!

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