O profissional de gerenciamento de projetos

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Por se tratar, hoje, de uma função mais que uma profissão, a gerência de projetos é interpretada de diversas formas. E esta diversidade de conceitos sobre o profissional também é refletida nos diferentes perfis em atuação no mercado.

Apesar das habilidades técnicas estarem em processo de senso comum por organizações como o Project Management Institute – PMI, não há um foco ou tampouco um consenso sobre as habilidades comportamentais.

O objetivo deste artigo é delinear o gerente de projeto como profissional, marcando um ponto comum sobre as definições especialista e generalista e consolidar as habilidades comportamentais que mais o influenciam. É um trabalho inicial e sem cunho científico, uma motivação por constatar a falta de uma visão comum sobre o assunto.

Nota do autor: Durante a construção deste artigo, o profissional Ricardo Vargas publicou um videocast sobre o mesmo tema, intitulado O perfil profissional do gerente de projetos. É uma visão sucinta mas bastante próxima do que é discutido aqui.

1. Quem é o gerente de projeto?

No início de um treinamento em gerenciamento de projetos eu costumo dizer: “é algo que você já faz há muito tempo; somos todos gerentes de projeto por natureza. Não é uma ciência nova, mas comum e do dia-a-dia. É planejar, executar e controlar algo que será encerrado. Fazer acontecer o que quer que seja”.

E o profissional em gerenciamento de projetos é um especialista em fazer acontecer. Ele otimiza o que é de conhecimento comum e aplica, de forma coerente, o que há de melhor em técnicas e ferramentas para a condução de um empreendimento. A sua função é viabilizar a transformação de um plano em realidade.

A organização delega ao gerente de projeto a responsabilidade de fazer acontecer. Cabe a ele garantir que o empreendimento será concluído. Independentemente da estrutura organizacional, da autonomia que lhe é concedida, enfim, de qualquer aspecto do ambiente onde o projeto será executado, a responsabilidade é do gerente de projeto.

É sobre esta responsabilidade que serão aplicadas as técnicas corretas, os conhecimentos corretos. Não há receita de bolo. Da mesma forma que todo projeto é único, assim é a sua execução.

2. Generalista ou especialista?

Há um debate constante na comunidade de gerenciamento de projetos sobre o gerente de projeto ser especialista ou generalista. Especialista é o profissional que tem, em sua maioria, formação, conhecimento e experiência técnica na área de atuação do projeto. Gerir o mesmo é uma designação. O generalista detém um vasto conhecimento em gerenciamento de projetos e é multidisciplinar: atua em qualquer área. Seu foco é fazer acontecer, o que quer que seja.

O conhecimento em gerenciamento de projetos é universal. As práticas, técnicas e ferramentas que visam garantir o sucesso da sua conclusão podem ser empregadas independentemente da área de atuação do projeto. O mesmo se aplica às habilidades essenciais de um gerente de projeto (ver item 3).

A decisão de designar um gerente de projeto especialista ou generalista deve levar em consideração não o projeto em si, mas a estrutura colaborativa onde este será executado.

Se a empresa dispõe de um corpo funcional onde os aspectos técnicos podem ser definidos por profissionais dedicados, e se esta mesma estrutura estiver disponível ao gerente de projeto, a designação de um generalista é um trunfo para que o seu foco seja a realização do projeto.

Por exemplo, uma empresa de telecomunicações possui áreas específicas para definição das necessidades de comunicação de dados, marketing e comunicação, financeiro e controladoria, tecnologia da informação, relacionamento com o cliente, jurídico, etc.

O desenvolvimento de um novo produto irá envolver todas as áreas da organização. A designação de um gerente de projeto generalista contribui para que haja um gerenciamento intra-departamental, ou seja, promovendo e consolidando a participação de todas as áreas.

O mesmo pode ser aplicado em uma fábrica de software onde existem perfis colaborativos específicos e dedicados a cada etapa de um projeto de software: análise de requisitos, prototipação, projeto, arquitetura, UI, codificação, etc.

Nestas condições, um gerente de projeto generalista pode executar tanto um projeto de telecomunicações quanto de software. Seu foco é fazer acontecer o empreendimento. A definição do produto ou serviço que será gerado é uma etapa do projeto, assim como a sua construção e lançamento.

O gerente de projeto especialista é designado em ambientes onde decisões técnicas fazem parte da sua competência. Não há ao seu dispor uma equipe ou estrutura que permita o seu foco somente no projeto, e este deve, também, participar efetivamente em questões relacionadas ao produto ou serviço que será entregue.

O seu conhecimento em gerenciamento de projetos não é, necessariamente, limitado ou reduzido, mas a condução do projeto é naturalmente tendenciada/direcionada segundo a sua experiência exclusiva na área de atuação.

O aspecto importante deste debate é garantir que ambos sejam profissionais em gerenciamento de projetos. É deter os conhecimentos e habilidades que promovam o sucesso do projeto.

3. Habilidades técnicas e comportamentais

Conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, hábil é “quem tem a mestria de uma ou várias artes ou um conhecimento profundo, técnico e prático de uma ou várias disciplinas”.

O profissional de gerenciamento de projetos deve ser hábil em aspectos críticos que envolvem a condução de um empreendimento. As habilidades que compõe o seu perfil são a sua formação e definirão o leque de ações que aplicará ao longo da execução do projeto.

O gerente de projeto possui habilidades técnicas e comportamentais. As primeiras são aplicadas de acordo com a complexidade do projeto e a metodologia da organização. Não existe um conjunto básico nem tampouco uma obrigatoriedade. Cabe ao gerente de projeto decidir qual utilizar.

As habilidades comportamentais, por sua vez, são exigidas em qualquer tipo de projeto. A variação da intensidade também depende de fatores como complexidade, tamanho e tipo de organização, mas sempre serão necessárias. São características inerentes a qualquer empreendimento.

O objetivo aqui é listá-las em ordem crescente de influência e descrevê-las de forma sucinta. Há uma literatura vasta na Internet para um maior aprofundamento.

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Representação da influência das habilidades comportamentais do gerente de projeto

Negociação, Resolução de Conflito e Tomada de Decisão (N, RC e TD)

Seja para influenciar um direcionamento ou consensualizar uma divergência, negociações estão presentes durante todo o ciclo de vida do projeto, envolvendo uma resolução de conflito (o motivo) e finalizando com uma tomada de decisão.

De modo geral, rodadas de comunicação com equipe, stakeholders e fornecedores envolvem algum tipo de negociação, resolução de conflito e tomada de decisão. Um profissional sem estas habilidades pode não resolver situações que precedem algum desvio ou problema, impactando no sucesso do projeto.

Antecipação

Em uma corrida de Fórmula 1, os carros são constantemente monitorados e as informações analisadas à procura de algum indício de mal funcionamento, o que poderia ser um risco para a principal entrega naquela etapa: terminar a prova na primeira colocação.

Gerenciar riscos é tratar questões não concretas antes que estas se transformem em problemas. Evitar que algo desconhecido cause algum desvio é essencial para garantir o sucesso do projeto.

Antecipação é uma habilidade chave em gerenciamento de projetos. Procurar antecipar é se preocupar em não ser surpreendido.

Comunicação

Garantir que a informação correta chegue ao receptor correto. Muitos problemas em projetos ocorrem por interpretações equivocadas ou por informações repassadas de forma incompleta. Cabe ao gerente de projeto garantir a fluidez e transparência das comunicações. Este deve ser, ao mesmo tempo, o porta voz, mestre de cerimônia e o principal interlocutor.

Pró-atividade

Uma postura fortemente reativa inviabiliza qualquer gestão de risco. A prioridade do gerente de projeto não deve ser resolver problemas, mas evitá-los primeiramente. A postura pró-ativa é um combustível para a antecipação. É um perfil admirado em qualquer profissional e que demonstra responsabilidade e comprometimento.

Liderança

Ter para si a responsabilidade em fazer acontecer, motivando os envolvidos através da sua empatia mais do que sua autoridade. Liderança não é hierárquico e ser líder não é ser chefe, é ser um ponto de referência para resolução de conflitos, tomadas de decisão, negociação, reporte de problemas e busca de soluções. Liderança está sempre relacionado a pessoas, é um aspecto humano extremamente positivo.

Ética

Não exatamente uma habilidade, mas uma característica e pré-disposição profissional, Ética é o atributo mais influente de um gerente de projeto. Grande parte das suas ações e reações são baseadas e tendenciadas conforme o que ele acredita ser aplicável à situação, organização, mercado ou mesmo país. Postura, comunicação, capacidade de enfrentar situações críticas, tomadas de decisão e liderança serão diferenciadas conforme os valores profissionais do gerente de projeto.

No artigo O gerente de projetos também combate a corrupção defendi que Ética seja considerada uma área de conhecimento do PMBOK. É um assunto complexo, polêmico, mas essencial.

4. Próximos passos

Cabe à comunidade e ao mercado construir o consenso do perfil do gerente de projeto. É a visão do profissional sobressaindo a visão da função, uma profissionalização evolutiva de algo que sempre existiu e que talvez não tenha tomado forma até então.

Existe, hoje, um foco maior em habilidades técnicas em detrimento das habilidades comportamentais, sendo que esta última tem uma abrangência maior na condução de um empreendimento. Não se trata, portanto, de importância, mas da necessidade de equilíbrio.

No longo prazo, a dicussão tende a fortalecer o papel-chave do gerente de projeto, promovendo e exigindo habilidades comportamentais, com foco naquilo que ele se dipõe primariamente: fazer acontecer. [Webinsider]

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Giovanni Giazoon (giazzon@yahoo.com.br) é consultor em gerenciamento de projetos, programas e portfólio. Outros textos de sua autoria podem ser conferidos em http://giazzon.net

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5 respostas

  1. Estou começando a me preparar para ser um profissional em gerenciamento de projetos, e seu artigo me esclareceu muitas dúvidas.

    Obrigada.

  2. Excelente artigo. Tira um pouco do “glamour” que muitos gerentes de projetos tem em seu meio. Todos podem ser desde que tenha empenho e não acredite ser SEMPRE a cereja do bolo.

    Parabéns Giovanni.

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