Por que vendi o Webinsider?

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Amigos,

O site Webinsider, que criei e mantive por 17 anos, mudou de mãos. Quem seguirá conduzindo as atividades será o Diego Gomes, da Rock Content e da 12min.

Então é preciso contar por que isso aconteceu e as circunstâncias sob o ponto de vista do conteúdo, da publicidade e do empreendimento na internet.

Um pouco da história de como chegamos até aqui

O Webinsider foi criado em 2000, em um cenário bastante diferente do de hoje, mas igualmente disruptivo.

Vamos voltar ao ano 2000 para contar essa história. Eu trabalhava já há bastante tempo para IDG, editora muito bem sucedida que publicava jornais e revistas sobre informática em dezenas de países.

Era minha segunda passagem pela IDG, depois de alguns anos na minha própria empresa de comunicação e design, com o Diter Stein. Até que decidimos voltar todo mundo para a IDG, em 1995.

Nossa turma foi toda contratada e deu uma revitalizada forte na editora, com aumento de receita na circulação das publicações e na qualidade que retornava às revistas PC World e Publish.

Até que veio a internet.

Bem, a IDG logicamente teve que aderir de imediato e resolveu abrir um site para cada uma de seus publicações. E, além destes, um site de notícias, sempre atualizado com notícias de negócios e internet.

Era o IDG Now, que iniciei a pedido do diretor Ney Kruel. O site de notícias começou em março de 1997, se não me engano, e dura até hoje.

Escrevi tudo sozinho por um bom tempo, enquanto era montada uma operação e uma equipe em São Paulo. Publicava várias notícias por dia, escolhidas e adaptadas. Experiência muito interessante, além do interessante prazer de escrever e publicar imediatamente, sem o processo de impressão e distribuição.

O IDG Now tinha como persona o Fontenelle, um amigo em comum e diretor da Lotus Software. Depois eu conto esta história melhor. Foi o menor briefing do mundo.

“Vamos escrever para que público, Ney?”, perguntei. “Escreve para o Fontenelle”, respondeu. Foi o suficiente.

Foi uma experiência muito instrutiva em termos de escolha de linguagem, formato e construção do texto. Tudo era novo.

Criada a equipe, passei o bastão do IDG Now e imediatamente iniciei o Webworld, um domínio que a editora havia registrado para falar com desenvolvedores, mas que estava sem uso. Sim, havia um site pronto, parado, sem nada escrito.

Sem pedir licença, antes que me pedissem para fazer outra coisa, comecei a editar e publicar, desta vez tendo como persona a minha própria figura. Importante este detalhe. Não seria um site de notícias, uma atrás da outra. Mas sim de textos que fossem válidos por muito tempo e ensinassem alguma coisa.

O resultado foi excelente e durou três anos. Nível lá nas alturas. O Webworld publicava diariamente, apoiado por reportagens e artigos que pinçava das fontes da IDG, como a excelente revista e site Industry Standard, que explicava o que acontecia na internet americana, os investimentos iniciais que preparavam o ambiente de hoje, com o nascimento do e-commerce e da Amazon.

Além destes textos que traduzia e adaptava, o Webworld recebia artigos dos jovens Michel Lent Schwartzman, Fernand Alphen, Marcello Póvoa e Bruno Rodrigues, entre tantos outros.

Mas, como disse, veio a internet e fez um estrago para as publicações impressas.

A editora não conseguia mais vender seus jornais e revistas porque os leitores estavam na internet; as versões online das publicações não conseguiam ganhar dinheiro porque os anúncios eram incipientes (e o público era pequeno, dilema de Tostines).

Corte os custos total. Fomos todos demitidos, o núcleo de queridos amigos do Rio, que iniciou a internet na editora. Esse pessoal aqui.

Celebramos a chegada na Internet na IDG, preparamos o terreno e depois fomos todos demitidos por causa da chegada da internet

E agora, como ganhar dinheiro?

O óbvio era prosseguir o que estava fazendo porque vinha dando muito certo. O site Webworld em três anos capturou o interesse do pessoal que passou a produzir para a internet no texto, no design, na arquitetura, no desenvolvimento, na propaganda e nas vendas.

Tudo estava sendo construido, todos queriam entender e aprender; ninguém sabia nada realmente.

Com o fim do Webworld, por sugestão do Fernand Alphen, fui à Zip.net com a proposta de criar o Webinsider. Ou seja, inventar um emprego.

O Daniel Chalfon organizava a Zip, o novo portal que estava sendo montado e chamava a atenção. Ele topou a proposta na hora – o Webinsider pertenceria à Zip.net, que pagaria a mim para editar e poder contratar alguns autores também, como o sempre presente Paulo Rebêlo.

O Webinsider seguiria na mesma linha do Webworld e, no lugar do Industry Standard, poderia usar a Reuters. A agência de notícias na época cobria muito bem os negócios da chamada nova economia com artigos e notícias que a Zip.net tinha o direito de usar.

E assim nasceu o Webinsider, que teve uma carreira linda.

 

O primeiro layout do Webinsider foi criado pelo designer Phillip Rodolfi, em 2000. Tinha um aspecto “futurista Atari”, digamos, e abusava da cor amarela, bem forte. Ao entrar em uma sala onde trabalhavam profissionais de internet, era muito fácil a distância localizar os monitores que exibiam o site. Durou de 2000 a 2006

 

A apresentação do então novo site era simples: os colunistas fixos na coluna da direita, em fotos com close. No centro, cada novo texto ia para o topo alternando as três únicas seções no início (Negócios, Marketing e Tecnologia).

Uma divisão mais granulada por assuntos veio com o tempo. Ainda não usávamos tags e nem havia espaço para comentários nos primeiros anos. A otimização para buscadores iniciou neste período.

Esta interface durou de 2000 a 2006. Foi um ótimo trabalho, marcante e duradouro. A imagem é de maio de 2006.

Tudo corria bem até que a bolha da internet estourou. Os investimentos em internet pisaram firme no freio, pois eram muito afoitos, precoces e trafegavam em terreno desconhecido.

Freiada de arrumação. A Zip.net foi comprada pela Portugal Telecom por 365 milhões de dólares mais 50 milhões de aporte. Mais tarde a Portugal Telecom comprou parte do UOL e passou a Zip.net para o UOL. A Zip foi sumindo.

Em novembro de 2001, eu escrevi aos leitores o texto Não sei para onde vamos mas lá chegaremos, avisando sobre o acontecido.

Crise, todo mundo quebrado e sem emprego ou investimento. O UOL não se interessou de prosseguir patrocinando o site como a Zip fazia. Poderíamos ficar lá, mas sem dinheiro.

Achei melhor sair, com o Webinsider agora independente e sem fundos.

Tive que arrumar um emprego tradicional e lá fui eu de volta para o impresso, trabalhar como editor em uma revista linda, cara e chique (era legal, mas não o que queria).

O Webinsider foi morar de favor num servidor da F/Nazca, ajudinha novamente do Fernand Alphen.

O conteúdo prosseguia colaborativo. Não havia mais Reuters, ou seja, só artigos e pautas frias. Eu apenas editava e publicava os melhores textos que recebia.

Editar antes de publicar sempre foi um segredo do Webinsider. Nem todos os textos vêm prontos para serem publicados e é preciso formatar direitinho. A impressão de qualidade que se transmite depende da boa edição.

Nessa época foi difícil manter o site vivo, pois não havia receita. Trabalhava à noite, nas poucas horas vagas. Foi um sacrifício que valeu a pena, pois o sol voltaria mais tarde a brilhar.

Da revista Petrobras Magazine (conto esta história em outra oportunidade), fui chamado para desenvolver uma intranet também na Petrobras (de volta à internet, quase) e depois sim, para um projeto grande e forte para a consultoria ADL destinada a renovar o site da Petrobras.

Enquanto isso o Webinsider prosseguia. Fomos convidados para a Globo.com, saímos da Globo.com e voltamos depois para o UOL, que desta vez topou patrocinar o site, por valor bem mais baixo, porém importante.

 

Começava outro período marcante do Webinsider, que teve uma boa reforma na interface e ganhou estatura.

Com a direção de arte de Henrique Costa Pereira e a programação de Flavio Kaminisse, da equipe da Webroom, aconteceu a segunda interface, mais calma, mais organizada e melhor adequada à época, com tags e espaço para comentários.

A maior sobriedade fez muito bem ao site. A leitura ficou mais confortável e o reconhecimento dos buscadores se consolidou.

Na época da mudança muitos leitores se queixaram do abandono do “amarelo queima retina”, mas logo as vantagens se tornaram evidentes, apesar do apego de muitos fãs do amarelão.

 

O período de 2006 a 2012, outros seis anos, mostrou que interfaces sólidas aguentam muito tempo. A imagem é de 2011.

O período de 2006 a 2012, outros seis anos, mostrou que interfaces sólidas aguentam muito tempo. A imagem é de 2011.

 

Aumentaram os anúncios pagos. Agências de propaganda ligavam e reservavam espaço para banners, pagando até bem! Empresas de cursos e de telecom patrocinavam o site.

Tudo corria com prosperidade, até surgirem as redes sociais e os anúncios do Google.

Os anunciantes foram todos para lá, pois a segmentação que oferecem para o anunciante é muito melhor do que a oferecida pelos sites. Sem chororô.

Uma vez um anunciante me perguntou: “- Posso colocar anúncios apenas para Belo Horizonte?”. Claro que não podia. Aí é que está a vantagem. Hoje ele pode, mas pelo Google. E os sites que exibem estes anúncios recebem muito pouco.

Estas facilidades de Google e Facebook para o anunciante mataram a fonte de receita de veículos baseados em publicidade. Os sites tiveram que rebolar. O UOL hoje vive em parte de serviços financeiros e meios de pagamento (PagSeguro), por exemplo. A Globo.com tem a televisão. O iMasters virou um produtor de eventos e cursos e por aí vai.

Não escolhi nenhum destes caminhos, como abrir cursos, virar uma empresa de eventos ou trabalhar com afiliados, apesar de ter trafegado neles todos.

A terceira mudança manteve o amarelo

Foram possibilidades que considerei bastante, porém apenas promessas de longo prazo. Por outro lado, havia clientes que requisitavam meus serviços profissionais em conteúdo e gestão de ambientes online.

Com o tempo tornou-se sem sentido manter o Webinsider, considerando que o mundo mudou várias vezes e eu também. Mantive acesa a chama e já começava a olhar em busca de quem pudesse carregá-la.

O próprio ato de publicar tornou-se mais sofisticado e trabalhoso — publicar um artigo demanda uma camada extra de SEO que exige bastante do editor.

Com a queda no valor dos anúncios, se uma publicação como o Webinsider não gerar receita de alguma forma, ela não faz mais sentido. Um site tem que converter ou ele não é nada. O problema é que não havia nada para vender em escala, apenas meus serviços que não são escaláveis.

Quando conheci o Diego Gomes, um dos fundadores da Rock Content, fiquei muito surpreso com o negócio que eles criaram. Ele me disse também que era grato ao Webinsider, cuja leitura o ajudou tantas vezes no passado a tomar melhores decisões na construção de sua empresa.

Tempos depois comprou espaço para testar a captação de leads e ficou satisfeito. Bastante tempo depois foi quando começamos a conversar sobre passar o Webinsider para ele. E assim está sendo. Repare que os anúncios foram retirados no novo Webinsider.

Agora ficou perfeito e faz sentido, pois a audiência do site vai trazer muitos novos leads para a Rock Content e a 12min. E o Webinsider segue ensinado e espalhando conhecimento, que é o que a Rock e a 12′ fazem. Pronto, fechou o ciclo.

Obrigado em especial mil vezes também para Fabiano Denardin, Edelmar Ziegler (Ícaro), Marcello Póvoa, Ari Meneghini, Manuel Lemos, Marcos Montenegro, Felipe Vaz, Tiago Ayer, Paulo Rebêlo, Viviane Danin, Igor Broseghini, Ricardo Saldanha, Rafael Rez, Daniel Souza, Eduardo Kasse e Juliano Alvarenga e tantos outros que tanto ajudaram.

Missão cumprida

Não fiquei triste em passar o negócio, pelo contrário. Fiquei aliviado por não precisar fazer este trabalho diário e satisfeito em saber que o site prossegue revigorado, para uma nova fase.

Boa sorte, Diego e equipe, agora é a vez de vocês!

Vou continuar contribuindo com muito orgulho para o Webinsider e contente agora de atuar do lado de fora e do Outrolado também.

Vicente Tardin (vtardin@webinsider.com.br) é jornalista e criador do Webinsider. É editor experiente, consultor de conteúdo e especialista em gestão de conteúdo para portais e projetos online.

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