Os desafios do ensino para o século XXI

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Quando não se vê o todo, qualquer tromba vira elefante.
Nepô, da safra 2011.

Panorama

A chegada da Internet tem sido confundida com uma mudança apenas tecnológica e não como canal de comunicação, aprendizado e interação.

Estamos vendo o rabo, mas não o elefante!

Consideramos esse novo ambiente cognitivo como algo passageiro, como uma nova metodologia de ensino ou um mimeógrafo digital, que vem e passará e tudo voltará como era antes. Porém, os fatos têm demonstrado: estamos diante de uma mudança radical e inevitável e essa vai marcar profundamente a sociedade, incluindo as organizações – entre elas a escola – para todo o sempre.

Os educadores precisam se preparar para entrar nesse debate de forma intensa e não fugir dele (como a maioria tem feito de forma passiva ou equivocada) para que o resultado dessas tensões seja humanamente melhor.

Apresento aqui um pouco do que aprendi, até agora, estudando e debatendo sobre o tema. Se puder ajudar a clarear a minha visão, vá em frente: comente!

Estive no Conecta 2011 , evento da Senai/Firjan aqui no Rio, para debater tecnologias educacionais. Tentei dizer algo que está neste post – o áudio completo da palestra aqui

O texto atual dá sequência na minha obra em progresso, por meio do e-book: Gestão da Desintermediação, que pode ser vista aqui.

Sem ensino, não há humanidade

Um ser humano, quando vem ao mundo, chega pelado de roupa e de conhecimento. Temos que vesti-lo dos dois!

O aprendizado faz parte de uma necessidade humana básica para podermos existir com o mínimo de qualidade. A cada cidadão/cidadã que nasce recomeça todo o processo de aprender tudo exatamente do zero, primeiro com os pais, depois com os amigos, escola, trabalho, na vida.

Há, porém, uma nova regra que estamos aprendendo aos poucos:

“Quanto mais habitantes tivermos no planeta, mais precisaremos inovar no ensino para que ele possa cumprir a sua função. Ou seja, a escola para um bilhão de pessoas no planeta não pode ser a mesma do que para sete bilhões.”

Precisamos ser criativos e compreender: há uma mudança radical a ser feita na nossa mentalidade controladora, se quisermos continuar a crescer dessa forma, cerca de um bilhão a cada 10 anos!

A internet é um ambiente indutor dinâmico para fazer uma macro-mudança sistêmica que nos permitirá ter instrumentos mais ágeis para atender às demandas de um mundo hiper-conectado e isso irá se refletir em como aprendemos, do nascimento à morte.

Os educadores, entretanto, com a chegada das novas tecnologias, principalmente a Internet, estão pouco conscientes do tamanho das mudanças vindouras.

Há uma insegurança e um comodismo no ar e isso tem servido mais para uma postura mais passiva do que ativa, deixando o debate reservado para um grupo muito pequeno de profissionais, muitos deles, sem a visão do educador.

“Avisa aí: não é o tecnólogo sozinho que vai resolver esse mega-problema do ensino!”

Estamos todos, não só o profissional de ensino, em fase de adaptação a um mundo cognitivamente diferente, no qual se faz muita coisa de forma distinta, inclusive aprender e ensinar.

Ou seja, a Internet tem sido vista como uma grande mudança tecnológica, da máquina para a máquina e não do humano para a máquina e da máquina para máquina.

Estamos vivemos um momento raro na história. Estamos mudando a conjuntura cognitiva (e não econômica ou política). Um tipo de alteração com consequências muito particulares, principalmente na educação.

“É preciso analisar que os efeitos das tecnologias variam. As tecnologias cognitivas, por exemplo, são bem diferentes. E as tecnologias cognitivas desintermediadoras, o caso atual, são muito mais diferentes ainda.”

Mexem com algo fundamental na sociedade: o controle e o poder, a partir da desintermediação da informação, da comunicação e do relacionamento entre as pessoas, tal como ocorreu em 1450, com a chegada da prensa, que moldou o mundo como conhecemos hoje.

“Nossa escola é filha do papel impresso. E a dos nossos netos será filha da rede social digital desintermediada.”

Uma tecnologia cognitiva desintermediadora nos permite criar um novo ambiente de troca de ideias muito mais livre, oxigenando a sociedade, permitindo um ar de mudança e a possibilidade de inovação geral das organizações, incluindo a escola.

Ou seja, estamos sendo jogados por necessidade demográfica, sem saída, ou placa de retorno, de forma inevitável, para uma nova forma de controle sociedade-cidadão / organizações-consumidores / professores–alunos mais dinâmica e mais descentralizada.

“Estamos desintermediando atravessadores obsoletos para ganhar velocidade por causa do tamanho da população. E tal tarefa inusitada implica em mudanças radicais na mentalidade de controle social e informacional passados, com forte reflexo no pensar e agir da educação e no trabalho em sala de aula.”

Em função disso, não estamos falando de um novo método de ensino opcional, mas um ajuste obrigatório, por meio de uma escola que tinha uma forte função indutora de saberes e precisará migrar lentamente para outra articuladora de saberes.

“A percepção do inevitável ajuda muito a tomada de decisão. Pois não há o que decidir.”

Eis, que se procuram as perguntas mais adequadas para os educadores nesse novo mundo digital desintermediado em rede do século XXI.

Arriscaria algumas:

  1. O que de fato está mudando de formar irreversível com a chegada da internet e o que e como devemos nos adaptar na área de ensino? É preciso aprofundar estes pontos, como tento mais abaixo;
  2. Como continuar a procura de um ensino produtivo, eficaz, motivador e transformador com a menor taxa de sofrimento possível para professores e alunos no mundo das redes digitais desintermediadas?
  3. Como podemos integrá-las ao processo de ensino, aperfeiçoando a maneira de ensinar?
  4. Quais são os ajustes que os educadores e educados devem fazer para se adaptar a elas?

Em termos de mudanças relevantes trazidas pelo uso massificado das redes sociais digitais desintermediadoras já registrei algumas:

A independência informacional – os alunos aprendem a lidar com o novo ambiente informacional (computadores em rede/tablets/celulares turbinados de forma independente, por meio da Internet) antes de seus pais*.

O aprendizado das tecnologias cognitivas pelas crianças, antes dos pais é um fato inédito na história humana. Antes, um adulto guiou a criança para a leitura, a tevê, o rádio o jornal, hoje não mais. Talvez, essa seja uma regra daqui por diante: filhos chegam antes dos pais nas novidades tecnológicas como regra e não mais exceção. Serão os beta-testadores do futuro.

* Note: aqui não estamos falando das camadas da população mais despossuídas, que têm um problema ainda maior, em termos de exclusão social e de ensino.

A anorexia presencial – as tecnologias cognitivas – sejam quais forem (livro, rádio, jornal, tevê, internet) – tendem a causar uma euforia/encantamento no uso pelo potencial pela melhora na recepção/contato com ideias a distância que conseguem e têm como, contrapartida improdutiva, certa tendência a provocar anorexia presencial. Ou seja, nem sempre tecnologias cognitivas em sala de aula podem ser algo “moderno”, pelo contrário, se o tema não necessita de prática tecnológica, deve-se estimular a conversa/troca entre os alunos. Isso nos leva a, paralelamente, rever o modelo de ensino hiper-focado na forma unidirecional professor > aluno.

O desfiltramento do professor – o professor e o livro – antes os principais canais de passagem da informação e conhecimento para os alunos – foram rompidos pelo Google & Cia. O professor tenta, inutilmente, competir com a Internet, quando deveria fazer dela uma grande aliada para ajudar a usá-la de forma mais rica. Tal fato precisa ser trabalhado na subjetividade do professor, pois nosso ego foi educado para sermos os “donos da verdade” e não “os procuradores das verdades junto com os alunos”;

Grupos on-line – os alunos passam a ter um espaço de troca fora da sala de aula, através das comunidades em rede (se deixar dentro também), o que é um fato novo, pois antes era impraticável, pois tal ambiente presencial dependia de espaços físicos e deslocamentos, mas agora isso foi facilitado.

No futuro, mais e mais, trabalharemos em rede (e temos que nos preparar para isso). Tal potencial deve ser estimulado, tanto presencialmente, como em rodas de conversa, como a distância nas redes sociais internas da escola, a critério dos alunos.

Um mundo líquido – a velocidade das mudanças, por diversos fatores, incluindo o demográfico, colocou-nos em um mundo cujo conhecimento pouco se consolida. É alterado com muito mais constância, em um ambiente digital, coletivo, múltiplo, o que nos obriga a termos um aprendizado líquido e contínuo para toda a vida.

É preciso fazer os ajustes no material didático, além de alterações na didática em sala de aula. O professor terá que se rever também, não é (como nunca foi) como obra acabada;

Para onde vamos então? 10 sugestões de ações práticas

Tais fatos nos levam à necessidade um novo contraponto educacional. Precisamos ter, com adaptações, inicialmente, em espaços pilotos de experimentação (que faltam no modelo educacional brasileiro) monitorados para serem multiplicados, conforme a idade do aluno:

1) Precisamos criar escolas experimentais. (Por que as escolas federais do tipo Pedro II ou Caps, não são escolas pilotos para multiplicar experiências?) Precisamos de algo assim para testar novos modelos! Cada escola deve abrir projetos desse tipo, com professores/alunos interessados a experimentar, experimentar, experimentar!

2) A passagem do material didático sólido (em texto) para digital, sempre sujeita aos ajustes pelo coletivo (incluindo outros professores e alunos) e não mais prontas e acabadas, com verdades absolutas congeladas no papel. Devemos preparar as pessoas para conviver (não só na escola), mas nesse novo mundo líquido/dinâmico de constante atualização;

3) Preparação dos docentes para voltar a exercer com intensidade o papel de pesquisador mais experiente para criar e atualizar o conhecimento de forma coletiva. Estimulá-los a ser mais um animador do que um proprietário de verdades. Um reposicionamento na posição da autoridade que sabe tudo para uma mais aberta a aprender junto com a turma;

4) O docente, assim como jornalistas, médicos, corretores, vendedores, deve criar uma nova relação com seus alunos/projetos de ensino, que inclua como fator fundamental: mais troca aluno-aluno (como até sugeria, aliás, Paulo Freire) aluno-professor em uma relação mais desintermediada de poder, lidando com de forma distinta com o ego e com o que se reconhece como diferencial diante dos que aprendem;

5) Os alunos deverão ser estimulados a aprender mais coletivamente e sozinhos na rede, sob a orientação de pessoas mais experientes, principalmente o docente, compartilhando informações dentro e fora da sala de aula, não só com uma turma fechada, mas com quem está no mesmo campo de interesse, na mesma ou em outras escolas;

6) É preciso pensar como criar espaços de troca desse tipo (redes sociais internas na escola) para aproveitar os fatos do lado de fora para que rendam mais do que estão rendendo. É um espaço educativo que deve ser aprimorado, debatido e utilizado cada vez melhor, pois cada vez mais trabalharemos em redes desse tipo;

7) Direcionar a didática para superar o modelo de receber algo pronto e decorar a informação para um perfil mais voltado a colaborar, filtrar, associar, selecionar, comparar, sintetizar de forma a garantir qualidade e relevância, sem perder a atenção e a motivação, conseguindo juntar parte e todo de forma inteligente;

8 ) Nessa direção, forte estímulo na didática para que o aluno possa ampliar a sua capacidade de analisar cenários, tal como retorno do estudo da Filosofia (mentalidades humanas invisíveis), mais do que o foco na informação abundante. Precisam criar tampas da caixa do quebra-cabeças, muito mais do que perder tempo com peças isoladas, com as quais se perde tempo e não se chega a lugar nenhum num mundo líquido e mutante;

9) Ou seja, a escola deve procurar sair da luz que o Google já ilumina e acaba sendo uma memória de fatos desarticulados. É preciso estimular a capacidade de juntar esses fatos em algo com mais sentido;

10) Superação da dificuldade de lidar com encontros presenciais, por meio do oferecimento de rodas de conversa presencial (aluno-aluno/aluno-professor) e de conversa a distância, via Internet, em um processo mais co-criativo de conhecimento. Em alguns momentos a tecnologia deve ser terminantemente proibida (quando as pessoas estão juntas) e fortemente estimulada (quando estão à distância).

São estas algumas das questões que os educadores devem se debruçar para pensar o ensino do novo século, experimentando juntos, incluindo a juventude no processo para procurar melhores respostas transitórias e garantir um ensino mais humano e adequado às nossas necessidades.

Que dizes? [Webinsider]

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Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

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