Quando a nossa existência depende de cliques

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relacoesEdward Hooper—Nighthawk (Detalhe)

Descobriram que se podia chegar a qualquer pessoa no planeta por meio de outras pessoas. Mas depois da internet, os Seis Graus de Separação*, que ganharam fama nos anos 1990, viraram algo instantâneo e comum.

Um pó mágico digital que nos transforma mais em Sininho do que Peter Pan. Mais em coelho apressado do que em Alice.

O buraco agora parece muito mais fundo, como uma queda vertical de montanha russa. Bom, ruim, péssimo, ótimo. Os extremos nunca ficaram tão distantes.

A distância antes resolvida de pessoa em pessoa através de seis níveis agora passa por poucos cliques. Rápidos, impulsivos. Abrir, ver, receber. Curtir, comentar ou compartilhar.

Desconectar é agora um não existir. Mesmo fora do computador continuamos ligados a celulares, tablets e outros aparelhos eletrônicos.

Aceleramos as conexões e reduzimos o universo. O mundo ficou menor e com bilhões de indivíduos mais egoístas.

Tanta distração e informação gritando em sons e cores de todos os tipos. Um carrossel que não para de piscar, girar e acelerar, nosso parque de diversões particular.

E que vai nos deixando cada vez mais hiperexcitados, mas sem foco, vivendo um momento presente para sempre, que só acelera, lembrando cada vez menos.

É uma linha de tempo onde uma coisa vem atrás da outra e da outra, infinitamente, um feed de rede social que nos empurra sem começo nem fim.

Mais do que nunca sabemos de tudo e não sabemos de nada.

Aparentamos a princípio ser mais coletivos mas nunca fomos tão “selfies”, “eu acho”, “eu fiz”, “eu quero”.

Parece que nos aproximamos mais, quando basta um clique para abrir uma janela para mandar uma mensagem para alguém ou um grupo.

Temos a chance de interagir mais abertamente, com pessoas que não víamos ou contatávamos há anos ou então com gente que nem conhecemos na vida real, com quem partilhamos momentos e coisas na web.

Mas mesmo assim acabamos nos distanciando mais, quando agimos mais e mais por impulso, sem pensar, postando o que vem à cabeça ou lendo e vendo sem ver direito as coisas.

E também julgando ou opinando sobre algo sem estar bem informado ou sem dados verdadeiros ou suficientes sobre determinado assunto ou sem questionar a fonte. Ficou fácil, falar, comentar e postar qualquer coisa.

Palavras que acabam cristalizando significados na tela digital e provocam mais, permanecendo, rebatendo, ecoando.

Uma nuvem enorme de lixo girando por toda a web. Todos falando e gritando ao mesmo tempo. Ninguém se escuta.

Mesmo sem querer acabamos por criticar, agredir, falar mal. Estamos tão perto que nos esquecemos dos limites da individualidade.

Não temos mais tempo de ser educados, solidários, cordiais. É mais divertido gritar, botar o pé na frente, rir do outro, chutar o balde.

Nunca foi tão fácil entrar na intimidade de alguém em questão de cliques.

E afinal, agredir ou criticar é sempre muito mais fácil do que ajudar de alguma forma, do que um gesto amigo, ou de um carinho ou abraço.

Nunca estivemos tão próximos e distantes. E ainda podemos nos isolar mais. Conhecemos e desconhecemos centenas de pessoas o tempo todo, e não sabemos mais estabelecer relações concretas.

Não sabemos mais dizer adeus. Apenas pulamos, fugimos, seguimos em frente sem olhar para trás.

Mesmo com as milhares de telas piscando, com respostas, emails, solicitações, alertas ou comentários na espera, ainda continuamos no nosso mundo de casca digital, de onde só damos sinais de vida se quisermos.

O cursor pode piscar sem resposta ou o mouse ficar imóvel. Podemos simplesmente estar em outras telas, segundas, terceiras e outras realidades.

Podemos até estar mortos dentro de nós mesmos e nem saber, mesmo com tanto barulho e luzes lá fora. Quem vai notar?

Mas talvez haja esperança.

Ainda não se conhece na vida digital o que vem depois da morte. [Webinsider]

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Roberto Tostes (@robertotostes) é profissional de comunicação e web na área de marketing digital e design gráfico. Publicitário e escritor. Possui o blog robertotostes.com/.

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