Série Feud mostra disputa entre atrizes na antiga Hollywood

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Série Feud mostra passado de Hollywood

Série Feud mostra passado de HollywoodAs pessoas ouvem ou leem o nome Hollywood e ele é imediatamente associado às fábricas de fazer cinema que dominaram o mercado mundial durante décadas.

Tudo associado ao nome Hollywood diz respeito à arte de fazer filme e ganhar muito dinheiro com isso. Trata-se de uma marca registrada que ajudou a fazer fama, enriquecer, ou macular ou destruir a vida de muita gente.

Por isso mesmo, a obsessão “Hollywoodiana” de criar mitos ou estrelas, se quiserem, levou ao que antigamente era simplesmente um pedaço de terra transformado em bairro dentro de Los Angeles a ser chamado de La-La Land ou Tinseltown.

O primeiro desses termos se refere ao clima de fantasia e ilusão criado para se obter fama de maneira a mais rápida possível, uma espécie assim de conto de fadas do ideal americano, que é nascer pobre, crescer e ficar rico. O segundo termo é menos lisonjeiro: ele acusa o que foi feito naquele local de uma fabricação de algo sem brilho, de falsa arte, etc.

No seriado de TV Feud, lançado no ano passado, o enfoque é feito em cima das disputas de atenção das atrizes Bette Davis e Joan Crawford, cujo trailer pode ser visto a seguir:

 

 

A questão nem é tanto o estrelismo das atrizes que está em jogo, mas sim a exploração do ambiente ambicioso criado pelos grandes estúdios, na ânsia de ganhar cada vez mais dinheiro.

A ganância Hollywoodiana começa nas origens dos estúdios lá estabelecidos, a maioria deles fundado por emigrantes judeus de famílias perseguidas principalmente no leste europeu. Eram pessoas que descobriram no cinema uma forma não só de ganhar dinheiro, mas também de se protegerem do preconceito racial a eles imposto por anos a fio de perseguição antissemita.

Praticamente todos os grandes magnatas do cinema em Hollywood cresceram em ramos de atividade alternativos, somente alguns poucos que eventualmente descobriram a maneira de exibição de filmes como fonte de renda.

Então, de exibidores passaram a produtores e distribuidores. Uma das raras exceções foi o da presença de Walt Disney, que montou o seu estúdio a duras penas, com o objetivo de explorar a arte do seu ofício. E mesmo assim, teve que se adaptar ao modo Hollywoodiano de trabalhar, com sangue suor e lágrimas até conseguir financiar os seus próprios filmes.

Walt Disney foi uma exceção exemplar, capaz de encorajar seus cineastas com discussões em grupo, sobre a maneira de desenvolver um dado projeto. Claro que a palavra final era dele, mas não é possível descobrir qualquer um de seus principais colaboradores que tenha se sentido ofendido na sua liberdade criativa, a ponto de tornar a convivência com ele impossível.

Os outros chefes de estúdio preferiram partir para o caminho da intimidação direta em cima de seus colaboradores técnicos ou artísticos. Um tipo de autoritarismo draconiano inicialmente disfarçado pela atmosfera de cordialidade que aparentava total apoio ao trabalho.

Em Feud, o enfoque no chefe de estúdio típico desta época é feito através de Jack Warner, temido na vida real por seus empregados, e que aparece no seriado mostrando um dos lados mais visíveis dos grandes chefes de estúdio daquela época: “Se me desafiar mas der dinheiro eu aturo, caso contrário eu destruo”!

Feud não poupa críticas a Jack Warner. Uma vez desafiado por Joan Crawford, ele teve que engolir a proposição do diretor Robert Aldrich de fazer mais um filme com a atriz, cuja presença no estúdio havia sido proscrita anteriormente.

O seriado, entretanto, concentra na rivalidade que aconteceu entre Bette Davis (interpretada por Susan Sarandon) e Joan Crawford, levada à tela por Jessica Lange, deixando de cabelos em pé o já veterano diretor Robert Aldrich.

Este sofre também nas mãos de Jack Warner, que vê nele um diretor de segunda linha, o que não é verdade. Aliás, toda vez que alguém bota outra pessoa para baixo, geralmente o objetivo é o de controlar, e aqui não foi diferente.

Bette Davis e Joan Crawford; Susan Sarando e Jessica Lange

No set de filmagem:

Bette Davis e Joan Crawford

Bette Davis, justiça seja feita, era uma excelente atriz, mas Joan Crawford não ficava atrás. Ambas tinham em comum o profundo desdém pela outra e por outros colegas de profissão. Davis era considerada por muitos como “indirigível”. Crawford tinha a reputação de mãe madrasta.

Como em outras circunstâncias similares, ambas as atrizes envelheceram e perderam público. Seus filmes ficaram desinteressantes para o público emergente, à cata de novidades, e então os estúdios começaram a perder dinheiro. No seriado da TV, as duas sabem que estão desgastadas, mas não se dão por vencidas.

A disputa entre as duas veteranas atrizes acontece no set de filmagem de O Que Aconteceu Com Baby Jane, um thriller psicológico de terror. E a guerra entre elas se estende até a festa do Oscar, quando então supostamente Crawford teria mexido os seus pauzinhos para que Davis não tivesse a sua indicação premiada naquele ano como melhor atriz.

Ainda naquela época o preconceito contra a televisão era marcante. Considerava-se um demérito um ator ou atriz participar de um programa ou seriado feitos para a TV. Mas, a realidade da decadência em Hollywood os alcançou rapidamente, e até mesmo os de alta estatura como Bette e Joan acabaram seus dias em shows de TV, se quisessem ser vistas pelo público.

O preconceito entre atores é histórico: antes do aparecimento da TV, ator que se prezasse não faria cinema, ficava restrito aos palcos, onde a verdadeira arte cênica existia. O assunto é mencionado de passagem no excelente musical Cantando Na Chuva, da M-G-M.

Este sentimento de “inferioridade” é o que provavelmente levou produtores e chefes de estúdio a peregrinar pela Broadway em busca de novos talentos e peças, que depois se transformaram em versões filmadas.

A competição da TV

Mas, a verdadeira ameaça vinha do número crescente do número de televisores vendidos e o aparecimento de novos canais de televisão com cobertura continental.

Hollywood fez o que pode para combater a ameaça televisiva. Passou a oferecer nas salas de exibição formatos de áudio e de imagem que a TV (4:3, mono, preto-e-branco), não conseguiria emular.

Mesmo assim o grande público não se fez mais presente, com aparente acomodação na frente da minúscula e limitada tela de TV. Em um segundo momento, Hollywood tentou se “modernizar”, oferecendo filmes de apelo aos mais jovens.

Foi este mesmo público mais jovem que propiciou o banimento dos grandes atores e atrizes pelos estúdios. Não bastava mais fazer algum projeto de filme com nomes de fachada, como anteriormente, de modo a alcançar prestígio nas bilheterias.

Pesquisas de mercado da época tornaram evidente que a frequência de público nas salas era sustentava por pessoas de tenra idade. Um dos primeiros cineastas que interpretou isso literalmente foi George Lucas. Star Wars foi um sucesso imediato de bilheteria. Quem assistir o filme com atenção irá notar traços indeléveis dos antigos seriados de cinema, como por exemplo, Buck Rogers. Então, o que Lucas fez foi adaptar o ambiente das matinês antigas ao cinema moderno. Deu certo!

A entrada do home vídeo

A segunda grande ameaça aos grandes estúdios foi o aparecimento do chamado “home vídeo” em cena (sem trocadilho). A ideia era que “já que o público prefere ficar em casa, vamos levar então o cinema para lá”.

A ameaça à sobrevivência não veio de imediato, porque a mídia inicialmente oferecida ao público era de vídeo discos, que não são graváveis. Mas, quando a Sony ofereceu o vídeo cassete em Betamax a ideia de gravar um filme em vídeo deixou o mundo Hollywoodiano apavorado.

O primeiro estúdio a ir contra foi o Universal Pictures, em um processo na justiça que ficou conhecido depois como o “caso Betamax”. Basicamente, o processo intimidava o público a fazer cópia de filmes, omitindo-se o direito previsto como “uso legal”, e foi por causa disso que a Sony acabou vencedora.

Com o tempo, os grandes estúdios caíram na realidade: o fechamento de uma quantidade significativa de salas, a proibição na lei americana antitruste e vários outros empecilhos de distribuição de filmes, tudo isso acabou por aumentar o número de cópias encalhadas nos arquivos dos estúdios. Anteriormente, ainda era possível lançar reprises, mas aquela farra acabou.

Os filmes ficariam então “apodrecendo” nos arquivos não fosse o home vídeo. Até hoje, esta é a arma de defesa que os estúdios lançam mão para contornar as dificuldades de distribuição de filmes. Até recentemente o home vídeo reinava supremo, somente foi superado pelos serviços de streaming ou tipo VOD (Video On Demand).

Em qualquer hipótese, a telecinagem de negativos ou interpositivos para qualquer mídia passou a ser rotina indispensável para que qualquer grande estúdio não feche!

O lado altamente positivo do home vídeo, a meu ver, é o estímulo para a restauração de negativos importantes, agora feita no mundo todo.

O exagero das estórias em quadrinhos

Hollywood continua até hoje se segurando nas premissas de busca do público jovem, iniciada por George Lucas e outros cineastas. Em decorrência, o que se nota é uma distorção comercial cada vez mais presente nas produções recentes.

Essa distorção é notória no volume de filmes sobre super heróis, muitos deles oriundos das muito antigas revistas de estórias em quadrinhos, como Super Homem, Batman, Mulher Maravilha, etc.

A distorção cresce agora sem limites, com os super heróis combatendo entre si. Os filmes estão cada vez mais incipientes em contexto e com roteiros cada vez menos criativos.

Para o espectador descompromissado com a apreciação da arte de fazer cinema nada muda. Para o que ainda pensa em cinema como forma de comunicação é um verdadeiro desastre!

O exagero leva inevitavelmente ao desgaste. Não basta explorar mais a figura masculina, é preciso explorar também as mulheres, moças ou não, ou personagens que de humanos não têm mais nada.

E a pergunta fica no ar: quando toda esta exploração cansar, vai sobrar o quê?

O cinema é uma forma de arte, que permitiu autores expressar as suas vozes através da imagem. O cinema comercial de bom gosto não se afasta muito dessa realidade.

Se vício no lado comercial Hollywood deixou de herança foi o exagero na coisa financeira. Cineastas sofreram por causa dele, obras dilapidadas, a criatividade reprimida, e muita coisa boa sem amparo algum.

Se lições tivessem sido aprendidas e assimiladas, nós estaríamos hoje vendo um cinema melhor. Não sei quanto a você, leitor, mas eu estou naquele grupo que cada vez mais raramente entra em uma sala de cinema, por absoluta falta de interesse no que está sendo exibido.

E não é uma tremenda ironia, notar que a exibição de filmes chegou ao nível da sala de estar, em termos de imagem e som, e nem assim os filmes apresentados justificam o esforço de sair de casa? Não seria o caso de voltar a se projetar película, e tornar a exibir filmes que compensem o esforço de ir ao cinema? [Webinsider]

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http://br74.teste.website/~webins22/2017/10/31/fase-widescreen-com-som-estereofonico-da-m-g-m/

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http://br74.teste.website/~webins22/2017/10/12/barra-de-som-para-melhorar-o-som-da-tv/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/10/02/o-mundo-alternativo-de-george-harrison-segundo-scorsese/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/09/06/oled-ou-qled-a-suposta-guerra-entre-as-tvs-coreanas/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/08/29/resolucao-8k-na-tv/

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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3 respostas

  1. É bem por aí, o nível atual do cinema mainstream é indigente. Salvo umas raras exceções, o que mais se vê é remake e adaptação de quadrinhos. Duro de aguentar. Eu acabo saciando minhas “necessidades fílmicas” em casa mesmo com a velha coleção de DVDs, revisitando clássicos ou conhecendo algumas pérolas que ainda não tinha visto (a coleção Film Noir da Versátil é uma aposta válida…) ou em umas poucas mostras ou festivais (por aqui temos anualmente o Fantaspoa, que mostra quase 100 filmes em duas emanas uma vez por ano e em meio a algumas porcarias trash traz alguns filmes realmente diferentes/inovadores/autorais de diversos cantos do mundo e que dificilmente tem ou terão lançamento comercial). O cinema comum mesmo, infelizmente, cada vez menos. Além da falta de títulos que prestem, tem a proliferação de cópias dubladas, o alto custo (estacionamento + cinema pra 2 sai por cerca de R$60 por aqui, se contabilizar gasolina do deslocamento e a pipoca e a coca cola da bomboniere chega perto de R$100) tem ainda a falta de educação dos espectadores (celular na sala é comum) e o desleixo do exibidor (o Cinemark aqui mostra uns 20 minutos de trailers e propagandas, apaga as luzes só depois de transcorridos uns 10 min de filme e acende as luzes uns 5 minutos antes do final, ou seja, por vezes ferra todo o clímax pq além do incômodo vc já sabe que o filme está prestes a acabar pq a luz acendeu…). Resumindo, a experiência que eu mais gostava, que era curtir o filme na sala de cinema, tem sido cada vez mais frustrante…

    De qualquer modo, só pra finalizar, uma coisa que eu já aprendi ao longo dos anos acompanhando cinema, é que quando começam a proliferar esses crossovers que juntam personagens diversos que não tinham nada a ver (Batman vs Superman e etc) é pq um determinado subgênero ou tendência está chegando ao fim, arrefecendo. Então pode ser que essa aporrinhação de adaptação de quadrinhos esteja com os dias contados.

  2. Boa tarde, Paulo. Ótimo texto. Tem razão, já não existe mais motivos para irmos ao cinema. Aqui na praça, uma única sala, ainda de rua exibe apenas cópias dubladas. Quando falamos com o exibidor, vem a frase feita: atendemos a demanda. Parece que nós setentões já somos cidadãos de segunda classe. Triste!
    Abraço.

    1. Oi, Celso, agradeço o seu comentário. Recentemente eu estava em uma loja do shopping do meu bairro buscando discos com trilha Blu-Ray Dolby Atmos. Achei vários, mas os títulos me desanimaram, parece que é isto que vende, eu vou fazer o quê?

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