Toda demanda é demanda de amor

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Toda relação é uma relação de amor.



Fui ver o filme Dolls, do japonês Takeshi Kitano, semana passada e saí muito tocada. É um dos filmes mais belos que vi recentemente e conta a história de amor dos mendigos amarrados, que são bonecos apaixonados no Kabuki da vida. A história mostra como pode um ser perder–se no outro, pelo outro, perder–se de amor para depois reencontrar–se na incondicional entrega amorosa.



Desde pequenos ao sermos introduzidos no mundo da fala e dos outros somos inseridos em uma teia de relações amorosas sem fim que vão dando forma ao imenso tecido de nossas vidas, seus mistérios, suas alegrias, suas paixões e suas dores.



O inferno são os outros? Nossa vida são os outros?



Viver é viver o Outro, os outros, com os outros, para os outros, pelos outros, apesar dos outros.



“Viver é muito perigoso”, nos alertava sempre Guimarães Rosa.



É perigoso sim. E requer profundidade, sensibilidade, delicadeza e, de novo afirmo, auto–conhecimento. Auto–conhecimento de si e do que esperamos dos que se relacionam conosco.



Sempre esperamos que o outro nos dê aquilo que nos falta, que precisamos, que demandamos incessantemente. Nosso “obscuro objeto de desejo”, lembram?



E como “escutar” este objeto obscuro dentro de nós para depois podermos o escutar no outro? (devo lembrar que esta coluna é sobre atendimento e sempre procuro me remeter a esta relação básica no final… assim sendo, como escutar nosso cliente?)



Tudo transita na esfera do amor. Toda e qualquer relação que um ser humano estabelece na vida é uma relação que pode ser chamada de amorosa e que a psicanálise conceitua como “uma relação de transferência”.



Quando escrevi o primeiro texto desta coluna um amigo me perguntou: “– E como ficam as relações afetivas entre Atendimento e Cliente? Amor e ódio?”



Estamos no campo da transferência, sempre, em qualquer contato humano estabelecido. Desde o bom dia que damos ao cara da padaria de manhã, passando pela discussão acalorada com o diretor de arte sobre uma refação, ao beijo de boa noite em nossos filhos ou ao sexo enlouquecido com nosso maior amante.



A transferência é algo que está sempre lá. Segundo a psicanálise, e muitos podem não concordar com ela, transferência é o modelo, a matriz de amor impressa um dia em nós, lá longe na primeira infância, por aqueles que primeiro nos amaram ou deixaram de amar, os nossos pais.



A partir desta matriz, que com o tempo vai ganhando contornos cada vez mais sobredeterminados, e por isto nada simples, estabelecemos nosso amores: em forma de amizades, relações mais ou menos indiferentes, inimizades, paixões intensas, relações fraternas etc.



Com o tempo passamos a nos relacionar com um número cada vez maior de pessoas na vida e cada uma vai imprimindo um detalhe novo neste modelo, modificando–o em sua aparência, mas devemos ter a consciência de que a essência mater é sempre a mesma.



Saber de nossa matriz, conhecê–la a fundo, nos possibilita uma nova forma de estar com o outro, de entender os sentimentos que cada um nos instiga, de compreender que sentimentos o outro pode nutrir por nós, viver, e até mesmo antecipar relações.



Porque sempre me meto nessa roubada?

Porque sempre me coloco nesta situação?

Porque me apaixono por fulano?

Porque não suporto ciclano?

Porque fulano não gosta de mim?



Porque o outro, assim como nós, nos toca a alma ou não. O outro pode acender nossas paixões mais secretas e nos levar à loucura… Temos que saber do que se trata. Temos que conhecer nossos meandros para não cair em situações complicadas.



E se soubermos escutar o outro e sua demanda obscura e nesta demanda soubermos separar o que é nosso e o que não é e nos colocarmos como campo neutro, abre–se para nós um mundo cheio de possibilidades, que só trará ganhos para todos.



Outro dia encontrei uma pessoa que havia lido o artigo sobre “escutar” e que me disse: “– Ah, Ana, depois que li o texto saí com a impressão de que temos todos que fazer análise! Que coisa!”



Pois é, eu sou suspeita pra responder… mas, pessoalmente acredito piamente que em qualquer área, mas mais ainda no Atendimento, que requer que nos relacionemos diariamente com pessoas, um processo de auto–conhecimento só traz sucesso e ganhos.



É para pensar.



Ops! Como sei que este tema é muito hermético, deixo aqui aberta a possibilidade de que se alguém quiser enviar por e–mail alguma questão ou mesmo uma história, caso de atendimento, que queira contar, sinta–se à vontade. O que eu puder, respondo… [Webinsider]


Ana Clara Cenamo fundadora e produtora executiva da Spanda Produtora.

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