Tudo muda o tempo todo no mundo

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Não saí do Orkut. Ainda.

Quanto ao Webinsider, daqui não sairei tão cedo. Mas, para aqueles que estranharam minha ausência neste site nos últimos meses, explico: motivos de saúde me mantiveram afastado, e a resolução desses problemas é a razão pela qual agora volto ? aos poucos, em doses homeopáticas, mas volto.

Mas por que a frase críptica no começo deste artigo?

Simples: está ficando cada vez mais conturbado viver no mundo digital.

Os leitores mais assíduos vão lembrar que escrevi, há mais de dois anos, dois artigos sobre o Orkut, que podem ser lidos aqui e aqui. De lá para cá, o que mudou?

Muita coisa. Como toda iniciativa interessante na web, o Orkut teve sua ascensão, sua queda, e agora parece estar atingindo um certo ponto de equilíbrio ? mas não sem muitos problemas.

Um deles foi o uso maciço das informações por criminosos para chantagear usuários por telefone (aqueles já infelizmente famosos golpes, muitas vezes dados de dentro de presídios). Não falo isso levianamente, ou ?de orelhada?, no jargão dos coleguinhas. Pessoas da minha família passaram por isso.

Eu poderia até mesmo citar a quantidade imensa de spams pornográficos que passaram a assolar o Orkut, mas isso não é privilégio desse sistema de relacionamento. A web inteira sofre desse mal e não parece algo que vá acabar tão cedo. Também poderia falar sobre a quantidade grande de comunidades racistas ou de ódio a qualquer coisa que seja, mas quanto a isso, parece que providências estão sendo tomadas.

O mundo virtual não é tão virtual quanto parece ? mas acho que só recentemente algumas pessoas passaram a se dar conta disso. Quanto a mim, prefiro o termo ?comunidades eletronicamente mediadas?, um feliz achado do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (sua obra toda é excelente, mas recomendo em particular o livro Comunidade ? a busca por segurança no mundo atual, Jorge Zahar Editor) para explicar que, no fundo, o que existe quando falamos em web é o seguinte: pessoas usando uma EXCELENTE ferramenta de comunicação. Resumindo muito superficialmente, é isso.

Mas parece que a superfície está na ordem do dia. O que deveria ser utilizado para uma frutífera troca acaba saindo pela culatra. No Orkut, por exemplo, quem acha meu perfil vê apenas a foto de um olho. Não ponho mais fotos de rosto inteiro. Na verdade, isto se deve muito mais ao fato de que, como apreciador e seguidor de um certo movimento literário que dá bastante valor a uma literatura mais fragmentada, gosto do fragmento, tenho especial apreço pelo que não é inteiro, o inexato, como naquela música de Lenine ? minha foto atual no Webinsider também não é de rosto inteiro, aliás.

Uma amiga, webnavegadora de primeira hora e gerente de projetos web de uma grande empresa do Sudeste, me disse que isto é assim mesmo: que o Orkut está sofrendo uma grande mutação e que já não lembra em quase nada aquele site eufórico, meio infantil, onde todos queriam ser amigos de todos.

A pronóia ? termo que nasceu em revistas cyber como a californiana Mondo 2000 e que significaria uma espécie de ?conspiração do bem? ? deu lugar definitivamente à paranóia. Ao medo de sermos invadidos em nossa privacidade.

Há cerca de cinco anos, no auge dos blogs, quando eu mesmo tive alguns, fui a uma festa na casa de um dos blogueiros que estavam com tudo naquele momento. Uma outra blogueira famosa me abordou e, ao me reconhecer, disse: ?Nossa, mas você nunca fala de si mesmo no seu blog…? Porque não era o objetivo. Eu fui um dos primeiros jornalistas blogueiros brasileiros ? infelizmente, no tempo em que dizer isso provocava gargalhadas entre os coleguinhas (ao mesmo tempo em que já se começavam a fazer os primeiros simpósios de blogs jornalísticos na Alemanha e na Espanha). Hoje não tenho mais blog jornalístico. Não quero mais, obrigado.

Perdoem se este meu artigo é algo vago e não cita nomes. Ataques via web e processos via mundo real estão cada vez mais freqüentes hoje em dia. Como aquela velha canção do Lulu, tudo muda o tempo todo no mundo. Tanto no digital quanto no real. E o mundo digital está cada vez mais próximo do nosso mundo real velho e cansado de guerra. Não deveria ser assim. Não precisava. [Webinsider]

Fábio Fernandes é jornalista, tradutor e escritor. Na PUC-SP, é responsável pelo grupo de pesquisa Observatório do Futuro, que estuda narrativas de ficção científica e a forma como elas interpretam e são interpretadas pelo campo do real.

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Uma resposta

  1. No meu blog – onde dou a cara à tapa em vários sentidos, houve uma polêmica grande sobre a proibição de mídia externa em São Paulo. Para variar, apareceram extremistas – alguns apoiando e outros divergindo – que pareciam prontos a sair no tapa.

    Um dia, durante o almoço em um restaurante aqui na Vila Olímpia, onde trabalho, uma amiga comentou que tinha um rapaz com cara de poucos amigos me olhando numa mesa ao lado. Brinquei: vai ver eu mexi com a namorada dele e não lembro. E ela respondeu: Ou é alguém que trabalha em agência de publicidade ou empresa de outdoor e te reconheceu do blog.

    Na hora ri, mas fiquei pensando um bocado naquilo.

    Por enquanto, confio que meu hábito de mudar o visual regularmente me mantenha a salvo de problemas, mas que tenho ficado mais preocupado, isso não nego.

    braços

    Celso Bessa
    http://www.celsobessa.com.br
    http://www.apanelamultimidia.com.br
    http://celsobessa.wordpress.com

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