Outro dia um aluno perguntou sobre um termo que escutou em um programa de TV mas não sabia o que significava. O termo era “Realbasic”. Como ele nunca ouviu seu professor falar em Realbasic antes, achou que seria talvez algum tipo de linguagem baseada em Basic, muito antiga e não mais usada.
A preocupação do aluno em descobrir o significado do termo é elogiável. Por outro lado, a facilidade com que se obtém informações hoje sobre qualquer assunto coloca em xeque a intenção dele. Se ele estivesse realmente querendo descobrir o significado, não esperaria até a aula.
Por que ele esperou?
A resposta não é simples. Para mim, envolve uma série de fatores. Basicamente, ninguém gosta muito de ver no outro superioridade em alguma coisa, mesmo que seja um amigo ou alguém onde essa diferença é normal, como na relação aluno/professor.
No meu caso específico, acredito que na cabeça de muitos alunos eu pareço saber tudo sobre informática. Essa percepção parte da própria deficiência de cada um em avaliar o professor, pois utilizam um referencial errado, que é o próprio conhecimento. E isso é um grande erro.
Cada um no seu lugar. Agora vamos imaginar este aluno como o responsável, em uma empresa, pela seleção de membros para uma equipe de desenvolvimento para um novo projeto. A pergunta é: com pouco conhecimento técnico (ou até mesmo nenhum), ele teria condições de avaliar um profissional para integrar a equipe? A resposta, claro, é não. Então, chegamos à conclusão que para selecionar recursos humanos e administrar o projeto e necessário que você tenha um grande conhecimento técnico, não é?
Não.
O profissional é um ser humano e não um robô. Como todo ser humano, é um universo de inconsistências. Portanto, devem ser feitas avaliações separadas para cada aspecto de sua personalidade, que afloram em determinadas situações que surgem na vida.
Uma empresa quer contratar o indivíduo profissional, mas na maioria das vezes não presta atenção que junto com ele vem uma série de outros “indivíduos hospedados na sua mente” que devem ser avaliados também. Várias faces de uma mesma pessoa. Todos nós somos pessoas diferentes quando estamos alegres ou tristes, calmos ou nervosos, e assim por diante.
A delegação de tarefas como controle de qualidade. Para avaliar um profissional ou você aprende tudo sobre tecnologia, psicologia, sociologia, medicina e por aí afora, ou então delega funções a quem tem instrução e capacidade para isso. Um dos primeiros indícios de um bom administrador ou gestor é a equipe de apoio que o acompanha. O truque então é não tentar fazer o que você não está capacitado a fazer, e sim reconhecer na sua equipe quem está mais qualificado a executar a tarefa.
Esta noção se aplica não só para a seleção do pessoal, mas para todas as tarefas do projeto. Além do mais, lembre–se que os membros de uma equipe têm noção de quando podem cumprir determinada tarefa melhor que você.
É comum profissionais de um grupo sentirem–se deslocados ao saber que poderiam estar fazendo uma tarefa que está sendo realizada pelo gerente do projeto. O profissional pode pensar que o gerente não confia nele ou na sua capacidade. Vai criar, no mínimo, uma impressão errada a respeito dele, ou pior, se tiver experiência, poderá colocar em questão a capacidade do gerente. E aí chegamos ao ponto central da questão.
Muitas vezes um profissional evolui ao longo do tempo, através da participação em muitos projetos, não como administrador, mas em uma outra função qualquer. Um belo dia ele acorda e acha que poderá realizar o trabalho de gerente de projetos. Ledo engano.
Ele vai perceber que a experiência como membro de várias equipes em vários projetos é enriquecedora e facilita sua maior participação na equipe, em função de uma capacidade de visão do projeto como um todo, o que aumenta a importância dele no grupo. Mas a experiência em liderança e tomada de decisões não se aprende de um dia para o outro. E quando o novo gerente vê isso, começa a procurar fazer tarefas que já realizou com sucesso em outros projetos, totalmente fora da sua nova função.
Ao procurar executar algo que sabe fazer, ele obterá um certo conforto, mas não a solução para o problema de ingerência, que com o andamento do projeto resultará em falhas no cronograma.
É necessário saber que a principal função do gerente é apenas definir:
– quem vai fazer o quê;
– quando vai ser feito;
– como será feito.
“Apenas definir” pode parecer uma função pequena ou pouco importante, mas podem ter certeza: é a tarefa mais importante e difícil de um projeto. Há poucos administradores ou gerentes, no sentido da palavra, ligados à área de projetos de TI.
Então já temos o primeiro passo para o sucesso de qualquer projeto. Uma andorinha não faz verão. Um administrador sozinho, por melhor que seja, não faz nada. Cerque–se de pessoas comprovadamente competentes, por experiência, e procure que os integrantes dessa equipe tenham bons conhecimentos em outras áreas, abrangendo assim, a percepção do seu raciocínio.
Fique atento. Sempre é possível aprender mais.
Em tempo (TI para os leigos):
Linguagem: em informática é uma abreviação da expressão linguagem de programação. É um idioma que utilizamos para nos comunicarmos com o computador. A diferença para o idioma utilizado na comunicação entre duas pessoas é que nós não chegamos a conversar com a máquina e sim damos uma seqüência de ordens que ele cumpre fielmente. É com linguagens de programação que o homem cria programas.
Realbasic: é uma linguagem baseada em Basic, para programação em Macintosh e que permite a quem usa criar programas para serem executados em vários sistemas operacionais.
Cronograma: é uma definição de tarefas e dos prazos para serem realizadas.
TI: Tecnologia da Informação (escreverei um artigo inteiro só dedicado a explicar o que significa esse termo que tanto causa confusão, principalmente na cabeça dos profissionais de humanas).
O que é Macintosh? O que são sistemas operacionais? No próximo artigo vamos aprofundar o contato para tirar dúvidas sobre esse universo surrealista que é a informática. [Webinsider]
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