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Aconteceu comigo: há dois anos, quando eu trabalhava na criação de conteúdo para um portal de business, um colega jornalista entrou em contato comigo, preocupado porque estava desempregado há vários meses e sua reserva de dinheiro estava acabando.

Na época, a empresa para a qual eu prestava serviço ia de vento em popa, e poderia contratar mais um profissional para produzir textos (no caso, artigos e entrevistas com personalidades da área de gerência e business). Comentei o assunto com meu colega, cuja resposta foi: “Não sei, não me sentiria à vontade. Minha área é cultura”. Em todo caso, ele prometeu pensar no assunto. Ele não entrou mais em contato comigo desde então.

Em uma primeira análise, poderíamos elogiar o comportamento supostamente ético do meu colega. Afinal, ele é especialista em uma área determinada que nada tem a ver com aquela a qual eu estava lhe propondo serviço. Então, mesmo que isso lhe proporcionasse um período mais longo de desemprego (o que estava dificultando sua vida, bem com a de sua esposa e filhos), ele optou por não tentar.

A atitude dele foi errada? Não necessariamente – mas nos leva a pensar.

Em Jornalismo, existe uma corrente de pensamento que ensina que o bom profissional é o generalista, ou seja, aquele que entende de tudo um pouco. Um defensor dessa postura era Cláudio Abramo. Em suas palavras: “Para ser jornalista é preciso ter uma formação cultural sólida, científica ou humanística”.

Claro que o pensamento generalista tem suas restrições, devidamente ressalvadas por Abramo. Para ele, é preciso eliminar a chamada “mentalidade administrativa” que impera nos jornais e dar a cada jornalista a atribuição mais adequada às suas habilidades. Se o profissional é um especialista em transportes, transferi-lo para as páginas policiais será um desperdício de tempo e dinheiro.

Mas esses casos costumam se aplicar mais a redações de jornal, e com jornalistas que trabalham fixos. Se você é um profissional de criação de conteúdo free-lance ou (como é muito freqüente nas ponto-com) trabalha fixo mas precisa se desdobrar em dois ou três porque sua empresa tem deficiência de pessoal, você terá mais a ganhar com o pensamento generalista.

Não é tão complicado quanto o meu colega de Cultura achava – mas é preciso um certo esforço. Ler jornais (de papel ou na web) diariamente, ler o maior número possível de revistas semanais, ver os canais jornalísticos da TV a cabo, de preferência não só os de língua portuguesa (eu já falei que ter o domínio de outro idioma além do português é desejável? Espanhol ou inglês, no mínimo; se possível, ambos), e ler muitos livros. Para Cláudio Abramo, as peças de Shakespeare substituíam perfeitamente a leitura de Freud. Nem tanto – na dúvida, leia Shakespeare e Freud. Mas leia.

E, principalmente, não se coloque nenhum obstáculo. Se você não gosta mesmo de determinados assuntos (digamos, esporte), também não precisa forçar a barra. Só não deixe de se informar sobre outros assuntos sobre os quais você nada conhece, e que podem vir a ser úteis no futuro.

Diz o velho ditado português que saber não ocupa espaço. E atualmente, com a web, também não custa praticamente nada. O que você está esperando? [Webinsider]

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Fábio Fernandes é jornalista, tradutor e escritor. Na PUC-SP, é responsável pelo grupo de pesquisa Observatório do Futuro, que estuda narrativas de ficção científica e a forma como elas interpretam e são interpretadas pelo campo do real.

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Uma resposta

  1. Olá, talvez um pouco atrasado gostaria até de poder debater o assunto que para mim é importantíssimo e anda preocupando bastante, mas penso que aqui o espaço é pequeno…Na minha profissão que é ilustrador, o mercado prefere, assim como em outras áreas, que um profissional tenha um estilo, uma linha, uma linguagem própria ou uma cara pela qual possa ser reconhecido e eu me enquadro justamente no oposto: sou eclético, gosto de trabalhar em várias técnicas, vários estilos, mas tenho isso de forma natural, não de forma intensional pra abrir um suposto leque de opções como artista gráfico; porém o que mais ouvi nos últimos anos foi voce não tem um estilo e então aprendi que minha primeira resposta era equivocada eu faço um pouco de tudo, mas em determinadas situações ha quem pense (no meu caso, os contratantes) que quem faz um pouco de tudo, não faz bem efetivamente nada; comecei então a pensar: jamais responderei de novo que faço um pouco de tudo, mas sim que faço de tudo, que trabalho em todas as técnicas e em todos os estilos, ainda que soe pretencioso (no que sou absolutamente contra) é uma questão de posicionamento. Acho que essa questão conteúdo não se resume apenas a estas situações; conteúdo pra mim começa desde pequeno na escola quando os educadores passam leituras, pesquisas, trabalhos sobre livros e alí devemos aprender a identificar aqueles assuntos que mais dispertam nossos interesses e ao crescer e amadurecer, a leitura, a informação e consequentemente a cultura devem vir de dorma consciente e espontânea por que de forma forçada como muito bem fala o texto desta matéria pode ser contra producente e até nocivo tanto no ambiente profissional quanto no convivio pessoal.

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