Mais que uma mídia ou uma rede de computadores conectados, a internet é a verdadeira materialização em interface gráfica e multimídia de expectativas e referências globais. Nos tornamos cidadãos de um mundo que pode ser visitado ou explorado em poucos segundos, com alguns cliques.
Essa perspectiva toma uma proporção social muito maior quando o acesso à internet evolui para as classes menos favorecidas, em projetos de inclusão digital. Mas dar acesso, dar ferramenta, não significa tudo quando não se dá instrução. Sem conteúdo dirigido e formatado para exercer a função de fomento de uma cultura digital estruturada, corremos o risco de sofrer um nível de analfabetismo digital que coloca em risco todos os que estão na rede.
Estamos incorrendo no mesmo erro. O Brasil se industrializou, mas nunca se educou. Já passamos pelo ciclo da Revolução Industrial sem dar a devida atenção ao sistema educacional. Por isso uma população despreparada e desempregada, miséria, violência e disparidades sociais tão profundas, difíceis de serem consertadas por um só governo.
Nos perguntamos qual é o papel das novas tecnologias frente a isso e qual o cenário que a comunicação por celular, banda larga e TV digital pode trazer, do ponto de vista de inclusão digital em massa.
Que tipo de usabilidade deve haver para podermos inserir o Brasil na sociedade digital e de informação, através dos correios, do acesso nas escolas públicas, nos hospitais, nas bibliotecas?
O mercado de comunicação ainda não despertou para o nível de disputa ideológica e política que irá ocorrer nas próximas eleições e que consiste, basicamente, na comunicação com o cidadão–eleitor online.
Qual o parâmetro ético de uso dos meios eletrônicos para as estratégias políticas–partidárias? Que diferença há entre um banner e um outdoor na próxima disputa de Prefeituras? Na verdade, apenas a questão de privacidade, a capacidade de praticar um e–mail marketing digitalmente correto e não invasivo. Esse fator é relevante por mudar o eixo de comunicação massiva e impessoal, para uma comunicação dirigida, interativa e pessoal.
A virtualidade da internet possibilitou o que antes era impensável: conectar o indivíduo com seu Estado, no sentido de Ente Governamental responsável pela garantia de seus direitos fundamentais.
E que direitos são esses atualmente? Segundo Bernardo Sorj, em seu excelente livro Brasil!@povo.com, são infra–estrutura física de conexão, acesso a equipamentos e a conexão individual, alfabetização digital, capacitação intelectual e conteúdo são os novos pré–requisitos da vida civilizada, de acesso a uma melhor qualidade de vida, ao emprego e à participação ativa na sociedade.
Os novos produtos de consumo são artefatos tecnológicos que se impõem como condição de integração social e por isso estão transformando profundamente os valores fundamentais da sociedade atual. O desafio maior da tecnologia e das redes de comunicação está na importância da desmaterialização do sistema produtivo em que as telecomunicações são o fator central da dinâmica social.
Como é consumido um celular hoje? Como ferramenta essencial de trabalho para mais de um terço da população da economia informal do Brasil, que passa a ter a oportunidade de atender ligações imediatamente, que garantem os serviços de bico e o pão de cada dia. Essa classe não quer fazer ligação pelo celular, quer receber, quer estar conectada.
Se pudesse, teria um website para divulgar seus serviços, em cooperativa. E como nos comunicamos com todos esses brasileiros, consumidores das novas tubaínas tecnológicas? Como disseminamos uma cultura de segurança de informação, uso de firewall, preenchimento consciente de cadastro e banco de dados na web? Muitos deles conseguem ter um e–mail gratuito, mas não têm conta em banco. Como fomentar o consumo de serviços e produtos como o SMS sem antes termos um arcabouço cultural?
O desafio é mais que tecnológico, é de engenharia social. A mesma engenharia que deve ser feita para permitir o exercício de eleições pela internet, consulta de partidos, recebimento de opiniões dos eleitores, informação e conscientização de todas as classes que tiverem acesso à web. Estamos presenciando uma relação em tempo real entre estado–mercado–consumidor. Qual o papel dos gestores dessa relação?
As fraudes na web, o uso da internet para venda de produtos ilegais e os spams são fruto da ausência de uma política governamental, em conjunto com uma iniciativa privada orientada para a gestão dos bancos de dados do Brasil e dos brasileiros e do fomento educacional de construção de uma cultura digital.
Acima das transações estão os valores sociais, que inclusive são determinantes para diferenciação das marcas. Então, quais serão os nossos? [Webinsider]
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Uma resposta
Achei o artigo muito interessante.