Há tempos comentamos aqui sobre as tarefas do designer desenvolvedor web (veja ao lado), principalmente para a fase de pesquisa, quando o profissional deve buscar saber tudo sobre a empresa e/ou produto em questão. O designer (seja de internet, de marca, de produto) deve ter uma preocupação imensa e gastar boa parte do seu tempo com essa pesquisa. Levantar documentos, conversar com pessoas, entender aquele mundinho. Com o arquiteto de informação não é diferente, até porque, assim como eu, boa parte dos AIs vieram do design.
Mais complexo que o desenvolvimento de uma peça gráfica, o desenvolvimento de mídias interativas envolve uma série de conhecimentos específicos, onde o principal deles é a Ergonomia (Usabilidade não nasceu ontem e tem história, veja ao lado). Mas, coitado, o arquiteto de informação pode saber profundamente de tudo? De ciência da informação, de engenharia de sistemas, de engenharia de usabilidade, do marketing? Acho que não…
Repare que mencionei disciplinas diferentes! Pois é, quem cuida do conteúdo é (ou pelo menos em tese) o cientista da informação. Ele trabalha com a catalogação, indexação, utiliza os tais mecanismos bem conhecidos pela biblioteconomia (mais detalhes no artigo Arquitetura da Informação). Quem tem a visão do sistema e delineia seus requerimentos é o engenheiro de sistemas. É quem vai dizer se é possível isso ou aquilo, qual é a melhor maneira de solucionar tal requisito etc.
O engenheiro de usabilidade é quem vai liderar os testes: focus group, análise da tarefa, avaliação heurística, cooperativa (em caso de sites já existentes)… E o profissional de marketing, que é o primeiro a entrar na roda, especifica o produto e o público.
Percebe–se então que o desenvolvimento web é um dos processos mais multidisciplinares que existem. Dependendo, claro, do tamanho do site em questão, a equipe pode contar com cerca de 10 profissionais diferentes. Cada um com uma fatia do bolo (não preparado isoladamente) que ao final, será servido inteiro. Mas – e aí está o ponto – a tarefa do arquiteto de informação é a que converge todo mundo, é a “cola” que une as fatias desse bolo.
O arquiteto de informação tem sim que pesquisar muito sobre a empresa/produto para entender o negócio mas, principalmente, precisa entender as necessidades do usuário que vai interagir com o sistema. (Aliás, de uma vez por todas, vamos deixar isso claro: um website é um sistema, como afirmam Garret, Rosenfeld, Nielsen e outros.)
E é aí que entra a parte prática. Com os resultados levantados pelos outros membros da equipe (todos já bastante conhecedores do assunto), o arquiteto de informação deve congregar essas informações para gerar tabelas, a árvore do site, o fluxograma de tarefas e, muitas vezes, um wireframe (desenho das telas em delimitações de áreas apenas). As duas abordagens explicadas na coluna anterior (Para traçar a arquitetura de informação) dão a tônica do negócio: é importante entender as tarefas dos usuários (Top–Down) e é importante organizar as informações de forma coerente (Bottom–Up). Existem várias técnicas para isso.
Multidisciplinar? Então… agora que o cientista da informação (ou, vá lá, o editor responsável pelo conteúdo) já definiu e organizou os pedaços de informação, está na hora de validar isso junto ao usuário. Trazê–lo para a fase de projeto é, acredite, a forma mais econômica de desenvolver uma solução interativa de sucesso. Os usuários dirão ou mostrarão como pensam a informação (Modelo mental: conheça algumas definições, também ao lado). O que está perto ou embaixo de quê. Que informação se relaciona com qual. E não basta um usuário… Observando as diferenças é que conseguimos gerar soluções! Muitas vezes um único usuário menciona um fator que pode ser determinante para mudar toda a estrutura (se for coerente, claro). Percebendo necessidades comuns entre grupos e diferentes entre outros, poderemos estabelecer links paralelos, por exemplo.
Outra coisa que complica e muito é saber que qualquer veículo web não se encerra em N páginas… Um site continuará mudando a vida inteira. Crescendo ou diminuindo, o conteúdo na internet tende a ser uma coisa orgânica, quase viva. Devemos então acondicionar necessidades dos usuários e dos gerentes de conteúdo, que lidarão depois com essa rede toda.
Como fazer? A Ciência da Informação já diz isso: sem padronização não há organização. Nesse ponto, não tem o que inventar. Bibliotecas existem desde a Alexandria (300 anos a.c.), será que eles ainda não têm respostas para isso?
Ok, a árvore do site já está pronta. Resolvido esse assunto vamos pensar na tarefa do usuário, na tal da abordagem Top–Down. Ora, se eu tenho o conteúdo todo estruturadinho, organizado, catalogado, indexado, buscável (falo aqui de search engines mesmo), o que falta agora é a navegação. E navegação está relacionada à tarefa dos usuários. De novo precisaremos deles…
Técnicas de ergonomia participativa com a colaboração do usuário costumam ser todas muito eficientes, cada uma com seus prós e contras, ajustáveis para cada tipo de negócio. Para desenvolver um terminal de um caixa eletrônico, por exemplo, alguém teve que acompanhar dias e dias o processo nos caixas de banco de verdade. Depois, provavelmente, fizeram um protótipo em papel com simulações de funções e novamente testaram com usuários. Montaram um cenário e perceberam como eles reagiam, o que faltava, o que sobrava o que não estava comunicando corretamente.
Um método que gosto muito é o The Bridge. Na minha opinião o que ele tem de melhor é o fato de reunir os principais membros da equipe (o engenheiro de usabilidade, o desenvolvedor e o engenheiro de sistemas) junto com usuários para traçar o fluxo de tarefas no site. Deste método sai todo o percurso que o usuário deve percorrer para realizar as tarefas pré–determinadas por eles mesmos. Desse fluxograma já saem alternativas para os problemas encontrados em determinados passos do fluxo (principalmente por conta da participação dos engenheiros de sistema) – soluções essas normalmente atendidas pela tecnologia.
No final disso tudo, meu caro arquiteto da informação, você vai perceber: uma coisa pode não estar batendo com outra. Ou seja, a árvore do site pode não estar espelhando os passos de tarefas. E aí, o que fazer? Lembre–se que estamos na internet, onde os nós da rede podem ser alcançados com um simples link em qualquer ponto da navegação. Para isso devem ser considerados vários fatores, como sazonalidade, necessidade momentânea do usuário (naquele ponto específico da navegação), atalhos para pontos importantes ou até mesmo a exclusão desses atalhos (a Amazon fez isso muito bem, ou vocês que já compraram um livro lá nunca repararam que durante o processo de compra propriamente dito todo o menu desaparece?).
Bem, falar de prática não é muito fácil… Imagino que você, caro leitor, esteja extremamente curioso para conhecer esses métodos que citei. Existem vários livros com várias técnicas. Certamente você gostará mais de umas do que de outras e fará sua escolha. Mas de qualquer forma vale conhece–las. [Webinsider]
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Renata Zilse
Renata Zilse (renata@maisinterface.com.br) é designer com mestrado em design e arquitetura da informação.
3 respostas
Então Ricardo, pode abrir o fã clube que eu também me tornei um membro! Belíssimo artigo. Me ajudou muito.
Isso não é um artigo. É uma aula. E das boas.
Virei fã dessa autora.