O PowerPoint e a transmissão de conhecimento

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Você certamente já viu uma apresentação de algum assunto, projeto, trabalho ou qualquer outra coisa que exija uma exposição oral do tema criada em PowerPoint? É muito provável, acredito!

Mas eu estive pensando, após perceber que tenho dezenas de arquivos para esse excelente programa de criação de slides, se seria possível juntá–lo com conceitos básicos de comunicação (que seria essencial) e Gestão do Conhecimento (que seria acessório).

Vi muita alegoria, cores, (falta de) informações e efeitos no material encontrado. Logo, imaginei como poderia ser uma bela apresentação, em amplo sentido, cuja performance daquele que discursa transmitisse e/ou criasse conhecimento. Infelizmente, não é assim que nos acostumamos a usar o PowerPoint.

Dependendo da forma como as apresentações são feitas, pode–se extrair o conhecimento do palestrante ou de quem quer que esteja envolvido, claro, de acordo com sua disposição ou disponibilidade para o fato.

Ainda que haja em cada slide um texto próprio e muitas vezes resumido e ditado por palavras–chave, o êxito da exposição depende em grande parte – senão totalmente – da habilidade e do conhecimento do “apresentador”, que incluirá, a cada imagem na tela, algum comentário, insight, alguma experiência própria, um case ou uma forma de contar estórias e de exemplificar acontecimentos que provavelmente deixará uma significativa diferença para a platéia. É preciso lembrar que a apresentação, arquivo ou documento, é uma só, mas a exposição é infinita.

Embora de forma quase polêmica e arrogante o todo–poderoso New York Times afirmara certa vez que o PowerPoint “torna as pessoas idiotas”, é preciso discordar se olharmos a questão à luz dos temas caros à Gestão do Conhecimento, como o capital intelectual, compartilhamento de conhecimento, elaboração de estórias, entre outros e tentarmos entender que o inofensivo programa (da nem tão inofensiva assim Microsoft) apenas faz com que determinado assunto seja mostrado a alguma platéia de forma visual, lúdica e direta, baseada em palavras que transmitam a idéia central, fixando–a na mente com certa facilidade.

Por essa razão, evitando o “emburrecimento” dos interlocutores/espectadores, uma digressão para a área da Semiologia, que é a ciência que estuda os sinais e a arte de empregá–los, faz–se necessária como forma de relacionar “exposição” e “conhecimento”.

Segundo Roland Barthes, intelectual francês e crítico literário que se aprofundou no estudo da comunicação, tudo começa com o signo, ou seja, com um elemento que substitui o objeto que precisa ser conhecido, representando–o e apresentando–o a um indivíduo.

Profundamente confuso, mas imagine uma apresentação de slides com uma figura qualquer e uma ou várias palavras aparecendo na tela, sem concatenação, deliciosamente desconexas, coloridas em tons berrantes e que não deixa muito ao final, a não ser cumprimentos pela pirotecnia vazia apresentada. É o preço pela falta de objetividade e clareza na comunicação. Não cria conhecimento nem provoca a reflexão.

Para Barthes, um dos elementos do discurso é o binômio denotação/conotação. A denotação é a significação óbvia do signo, o que é transmitido. A conotação é quando o signo se encontra com os sentimentos e emoções – talvez com o conhecimento também, vejamos – de quem o usa e com os valores da sua cultura.

É o que se percebe em uma apresentação feita em PowerPoint, na qual o próprio conteúdo físico (uma figura, animação, texto, foto etc) se relaciona, quando tornado oral, retransmitido pelo “apresentador”, com uma mensagem complementar, de acordo com o estilo de quem o apresenta e com seu próprio expertise, seu capital intelectual.

Essa exposição do conteúdo por um profissional qualquer é a base do conhecimento e sua gestão através do PowerPoint, já que se trata de um outro sentido para o que é mostrado, com tratamento e abordagem únicos do que passa na tela por parte desse profissional, de quem a exposição reflete a transferência de conhecimento tácito que, logo a seguir, evoluirá a explícito.

Portanto, adaptando as definições para o conhecimento de Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeushi, em Criação do Conhecimento na Empresa, durante uma apresentação de slides com esse famoso programa, poderíamos identificar dois fatores:

Socialização do conhecimento: de tácito para tácito – quando há uma interação real e completamente livre entre quem expõe o conteúdo e sua platéia, compartilhando conhecimento de ambos os lados, valores, soluções e formas de encarar problemas já experimentados (sentido de comunidade).

Externalização do conhecimento: tácito para explícito – a apresentação com o diferencial de quem expõe o conteúdo, combinando cada slide com suas próprias explicações, metáforas, analogias e hipóteses (criação de novos conceitos).

A partir desses fatores, pode–se chegar a novos conhecimentos, a novos conceitos ou uma nova apresentação, possivelmente construída pela platéia a partir do que viu ou ouviu. A ressalva é que o “apresentador”, na hora do show, tenha uma certa empatia com seu público, interpretando com naturalidade o que ele sente ou pensa no momento da comunicação de qualquer tema, já que não se trata de simples informação, mas de uma relação de conhecimento, específico ao contexto – nesse caso, ao momento da apresentação.

Como conseguir isso? Com simplicidade, sem ensaiar falas e atos, deixando o pensamento fluir com liberdade. O conhecimento, pois, vem naturalmente, emergindo e submergindo na mente de cada um. Talvez assim o PowerPoint deixe de ter o status de um brinquedo sofisticado e seja mais bem utilizado.[Webinsider]

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Alexandre Bobeda (@dezbloqueio) é redator, professor, designer instrucional, autor publicado. Criou o dezbloqueio conteúdo & ideias.

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5 respostas

  1. Boa Noite,shr Alexandre sou aluna do curso de pedagogia e gostaria de receber claros conceitos de transmissão de conhecimento para os meus estudos de tecnologia educacional.
    Obrigada.

  2. Boa tarde, Sr. alexandre, eu gostaria de sua ajuda para apresentar umas aulas sobre o Aprovisionamento, e estou com muita dúvida em como apresentar.

    Dulcínia

  3. Boa tarde .gostaria de sua ajuda meu trabalho é em uma bancada e tenho dificuldade de fazer uma apresentação vou fazer curso mas poderia me ajudar.

    Edi Carlos

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