Como vimos no artigo anterior (O trabalho do editor em sites de empresa), a gestão de conteúdo de um site corporativo envolve processos complexos, com muitas nuances políticas e culturais. Para encarar esse desafio, os melhores instrumentos são os menos palpáveis: legitimidade, tangibilidade e credibilidade. A partir daí, vamos tentar responder uma perguntinha que atormenta quem trabalha em empresas pouco familiarizadas com a internet: “Como faço para vender a minha área internamente?”
Soa familiar? Para mim também, e para muita gente mercado afora! É surpreendente a dificuldade que profissionais online ainda encontram em conquistar recursos e visibilidade dentro de grandes empresas. Nas pequenas e médias, as restrições financeiras levam a culpa, mas é nas maiores que o verdadeiro problema salta aos olhos: pouca gente entende, acredita e contribui efetivamente na gestão do canal internet. Então, para o nosso próprio bem, precisamos levantar essa bandeira.
Antes de partir para táticas de auto–promoção, precisamos entender bem aonde queremos chegar. Em outras palavras, o que significam e para que servem os três ativos citados no primeiro parágrafo? Vamos lá:
Legitimidade
Para fazer um bom trabalho, o editor precisa ter uma visão global do negócio e a maior imparcialidade possível para dar o peso correto a cada informação. Algumas vezes, isso implica desagradar um ou outro cliente interno, estabelecer regras e evitar que interesses departamentais prejudiquem a efetividade do site. Nessas horas, o respaldo da presidência ou alta diretoria da empresa é fundamental. Na pior das hipóteses, um gerente com um ego maior que seu produto vai respeitar uma decisão do editor de vetar uma pop–up histérica na home page.
Tangibilidade
Como os outros podem valorizar o seu trabalho se eles nem entendem direito o que você faz? Se muita gente só compreende o que consegue enxergar ou quantificar imediatamente, o editor precisa buscar formas de tornar mais palpável “esse tal negócio de internet”. Aí vale fazer analogias com outras atividades, estabelecer critérios de mensuração e desmistificar a gestão do site com apresentações didáticas e papos informais. Ter uma caixa–preta na mão até faz a gente se sentir especial, mas vale muito mais a pena ser entendido pelos outros 99% da empresa.
Credibilidade
Além de levar mais tempo para ser conquistado, esse é o ativo mais recompensador de todos. Quando as pessoas enxergam você como uma referência no assunto, elas te consultam independentemente dos processos oficiais. Esse voto de confiança funciona como um passe livre em organizações submersas em estruturas confusas e disputas entre departamentos. A credibilidade também é uma forma de se legitimar, só que por mérito próprio. Aliás, não depender de “canetada” também aumenta a sua segurança no caso de demissões na cúpula… ;–)
Com esses objetivos em mente, aqui vão algumas dicas para você trabalhar a sua própria campanha interna:
Estude as expectativas e aspirações da chefia: o seu chefe direto conhece o potencial do site para os negócios da empresa, tem apenas uma vaga idéia ou acha tudo isso uma bobagem? Ter um superior que ignora ou até sabota o seu trabalho é um passo para o inferno corporativo, então evite isso a todo custo. Se os argumentos conceituais não funcionarem, explore as ambições políticas dele, mostrando como a evolução do site pode trazer mais prestígio para a área.
Adapte–se à língua da empresa: organizações que valorizam o relacionamento com o cliente e ações de cunho institucional costumam ser receptivas a benefícios intangíveis. Já em empresas obcecadas por resultados financeiros de curto prazo, falar em “fidelização” ou “construção da marca” é pior do que xingar a mãe do diretor. Adapte o seu discurso para ser ouvido com atenção e respeito, e para fugir de um estereótipo indesejável.
Implemente formas de mensurar os resultados do site: trabalhar com relatórios de acesso ao site, pesquisas de satisfação, testes de usabilidade e outros instrumentos de mensuração ajuda a tangibilizar o seu trabalho e – o mais importante – estabelece critérios de comparação. Como você vai provar que trouxe resultados se não tiver à mão o famoso “antes e depois”?
Provoque a atenção dos funcionários: pense em formas de chamar a atenção da empresa para as novidades e os resultados do site. E–mail marketing interno, apresentações, relatórios personalizados para figuras–chave, vale tudo para a sua área cair na boca do povo. Quer dizer, só não vale exagerar na dose e virar uma “mala sem alça”.
Dissemine conceitos: é fascinante trabalhar em uma atividade inovadora e pouco conhecida, mas a incompreensão da maioria é um preço que nós pagamos. Aproveite isso como uma oportunidade e vire uma referência em conteúdo e comunicação online dentro da empresa. Evangelize, defenda conceitos e use notícias da imprensa especializada para reforçar os seus argumentos. Convencer os seus clientes internos de que conteúdo não é só texto já é um bom começo.
Acerte no posicionamento: ao se divulgar para pessoas pouco familiarizadas com o mundo online, mantenha o seu foco. Se você é um editor ou gestor de conteúdo, procure ser percebido como um profissional de comunicação online com visão de negócio, e não um consultor de negócios que também entende de conteúdo.
Parece muita coisa? Não se preocupe em aplicar todas essas dicas ao mesmo tempo, mas aproveite todas as chances que surgirem para explicar e promover o seu trabalho. Fazendo isso, você também contribui para fortalecer a atividade de editor de site corporativo, o que é bom para todos nós. Boa sorte e até breve! [Webinsider]
.
Daniel Aisenberg
Daniel Aisenberg (daniel@palavrachave.info) é jornalista, pós-graduado em Marketing e professor.
Uma resposta
Leia.