Outro dia, meu professor de TI do MBA comentou em sala de aula sobre o fenômeno dos blogs. As filhas pequenas dele mantêm os seus e ele, por dever de pai e profissional da área, foi conhecer melhor o que era esse raio de blog que tanto as meninas usavam.
Uma das coisas que chamou sua atenção foram as pesquisas que o provedor do serviço estava fazendo. Caiu a seguinte ficha nele: a empresa consegue coletar dados cadastrais dos seus usuários, imagine o que pode fazer com isso! Marketing direto, cross–selling, segmentação etc. Na minha revisão do dia seguinte, refleti um pouco sobre a aula… interessante o conceito? Sim, mas apenas se pensarmos sob o ponto de vista tradicional do marketing.
Só pra lembrar, coleta de dados online não é privilégio dos blogs. Pelo contrário, muitos deles não pedem nada além do login, senha, nome e e–mail. Existem dezenas de outros serviços online gratuitos que pedem também cadastramento. E–mail e acesso, para ficar só com os mais conhecidos. O grande salto dessas ferramentas para as empresas é outro, mais qualitativo.
Milhares de pessoas estão escrevendo os seus blogs, desde as filhas deste professor até profissionais experimentados e, com isso, formando enormes bases de informação (aqui não vamos fazer juízo de valor sobre a qualidade). Sabe–se não só que determinado blogueiro é do sexo masculino, tem 19 anos e mora em São Paulo, mas também que, como ele mesmo escreveu no blog, gosta de Mozart, dirige um fusca verde e torce pelo Atlético Mineiro. Melhor ainda, sabe–se que ele tem um celular e não passa um dia sem atualizar uma nova crítica sobre a operadora, de forma construtiva e pública.
Não é (ainda) econômica e operacionalmente viável rastrear individualmente todos os comentários de cada um dos blogueiros (uma das razões da compra do Blogger pelo Google?). A proposta é além: analisá–los qualitativamente.
Olhando por uma visão mais ampla, percebe–se que o conjunto de blogs representa na prática um focus group virtual gigante e espontâneo. Além de relatos do passo a passo cotidiano (acordei às seis, escovei os dentes, troquei de roupa…), esses websites pessoais contém coisas muito mais valiosas: comentários, análises e reflexões. Melhor ainda, é comum que seus autores façam referência ao que seus colegas escrevem, de forma que, muitos assuntos são repercussão do que a turma está falando. Costumo chamar isso de submundo virtual.
A parte mais visível da internet são os websites, porém, esse mundo à parte representa a força vital usualmente ignorada, onde tudo acontece fora do controle das empresas. E não só nos blogs, mas, também nos grupos de discussão via e–mail, foruns, chats e instant messengers como o ICQ. É o que Hernani Dimantas, o MarketingHacker.com.br, chama de conversações de mercado.
Para não ficar só no conceitual, vamos pegar exemplos práticos. Levante o dedo o internauta que nunca ouviu falar de websites do tipo eu–odeio–a–empresa–x.com.br. E softwares de trocas de música como o Napster, que já repercutia nos grupos alcançando uma enorme base instalada de usuários muito antes que as gravadoras se dessem conta do estrago que estava por vir?
E assim, marcas, reputações e até mercados estão sendo (des)construídos sem o menor conhecimento de seus donos corporativos. [Webinsider]
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