A primeira vez em que ouvi falar no Orkut foi no dia 1o. de março, através do convite de um colega blogueiro a quem já tive o prazer de conhecer pessoalmente, Rodolfo Filho, autor do ótimo Leituras do Dia. Não fazia a menor idéia do que era, mas confio no Rodolfo: cliquei no link e entrei no site.

Agora, eu preciso confessar uma coisa a vocês: eu sou o beta tester dos sonhos de qualquer empresa. Gosto muito de novidades na web e só não baixo todos os freewares que vejo pela proa porque minha mui sábia e sensata esposa (que é arquiteta de informação e atualmente dirige um grande portal educativo, e logo entende muito mais de web do que eu) me alerta constantemente para os perigos de vírus e de encher demais a máquina – que já está funcionando na reserva, para usar o jargão dos motoristas.

Entretanto, ao entrar no Orkut, percebi que se tratava de uma comunidade de relacionamentos nos moldes do Friendster, para o qual eu já havia sido convidado há mais de um ano. Embora eu tivesse aceito o convite na época, acabei me esquecendo e não retornando, e só recentemente descobri que ele se tornou um serviço pago – portanto não voltarei mesmo.

Escrevo este artigo quinze dias após minha inscrição no Orkut. Quinze dias muito bem aproveitados, diga–se de passagem: através das ferramentas de localização de pessoas (bastante amigáveis), entrei em contato com muita gente boa da web que aderiu – inclusive o editor do Webinsider, Vicente Tardin, e Juliano Spyer, autor de um ótimo artigo sobre o Orkut, que pode ser lido aqui (veja ao lado).

Fui adicionando amigos e conhecidos à minha lista e entrando em todas as comunidades interessantes que vi pela frente. Agora, poeira assentando, estou avaliando melhor o serviço e começando a ver melhor suas vantagens e desvantagens.

A primeira vantagem do Orkut é que ele é justamente o oposto do Friendster no quesito bolso: é um serviço gratuito. Pode até ser que isso mude no futuro, mas por ora está valendo.

A segunda vantagem é que ele não é apenas uma comunidade de relacionamento, mas uma versão turbinada das boas e velhas BBSs. Ao se cadastrar no Orkut você passa a ter o direito de entrar em praticamente qualquer grupo de discussão existente lá (digo praticamente porque alguns grupos são moderados – mas até o momento grupos desse tipo são raros, e os poucos em que tentei entrar me aceitaram no mesmo dia, sem burocracia). E o mais importante: você pode criar quantas comunidades quiser.

A terceira vantagem é que essa comunidade é um meio muito mais rápido de fazer contatos e amizades do que websites, blogs e listas de discussão. As páginas de perfil do usuário, onde você pode colocar uma foto e preencher uma pequena ficha com seus dados pessoais (totalmente opcionais) e gostos, facilitam um contato prévio e evitam que você tente adicionar à sua lista de amigos pessoas que não tenham muito a ver com você.

Desvantagens? Podem começar exatamente por aí – muitas pessoas estão achando que serem abordados por desconhecidos que tentam adicioná-los como amigos sem pedir permissão primeiro (enviando um e-mail ou uma mensagem pelo sistema interno do Orkut) é uma falta de respeito e invasão. Várias dessas pessoas já estão começando a escrever na página de perfil um aviso, pedindo que o usuário se identifique previamente. Embora eu não consiga compreender bem por que uma pessoa se dispõe a entrar numa comunidade cujo principal objetivo é criar relacionamentos e em seguida nega essa possibilidade restringindo o campo de ação da ferramenta, é preciso respeitar sua decisão.

Até porque a segunda desvantagem é uma das mais desagradáveis e desrespeitosas do Orkut: a Cadeia – na qual eu mesmo fui colocado com apenas três dias de utilização do serviço. A cadeia não é um lugar físico dentro da comunidade, mas antes uma condição: caso desrespeite algum dos termos de uso do Orkut, você pode navegar pelo site, mas perde temporariamente o direito de postar mensagens nas comunidades em que está inscrito e mesmo de fazer qualquer alteração no seu perfil – que, em vez de exibir a foto que você colocou, passa a ostentar uma foto de gosto duvidoso com a sombra de uma pessoa entre as grades de uma prisão.

No meu caso, conforme uma troca de e-mails com o helpdesk do Orkut, o que aparentemente ocorreu foi que nos dois primeiros dias de uso do sistema, tentei adicionar uma quantidade muito grande de pessoas – o que não consta das proibições nos termos de uso (ali constam o envio de SPAM ou posts e/ou mensagens de cunho pornográfico). Ao que parece, esse exagero da parte do sistema (ainda segundo o helpdesk, são bots que fazem esse serviço de aprisionamento, e não usuários de carne e osso) anda pegando mais gente do que seria de se esperar – fato que gerou a criação de uma comunidade só para quem já foi preso no Orkut (no sistema, faça um search pela comunidade Jail).

A terceira desvantagem, lembrou-me uma conhecida, é que você não pode entrar no Orkut sem que alguém o convide. Para ela, isso fere a ética hacker da rede, os supremos princípios libertários que regem a internet. Pode ser, é uma questão a se ponderar; mas prefiro ver isso de outra maneira: você não é excluído; você é incluído por amigos ou conhecidos. Se o serviço está fazendo sucesso, as pessoas passam a querer que todos os seus amigos e conhecidos se juntem à turma, para fazer número (não conta pontos, mas é divertido) e criar novas comunidades.

Para mim, até este momento, as vantagens superam as desvantagens. Nessas duas semanas me associei a cerca de 60 e criei duas: uma dedicada à literatura de ficção científica e outra à memória do mestre argentino Julio Cortazar. (Se alguém quiser se associar, fique à vontade para me mandar um e-mail.)

Resumindo? Nesses tempos de ódio e terrorismo, é muito bom ter um serviço como o Orkut, com todos os seus defeitos – nem que seja, como se dizia no tempo de meus avós, como distração. [Webinsider]

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Fábio Fernandes

Fábio Fernandes é jornalista, tradutor e escritor. Na PUC-SP, é responsável pelo grupo de pesquisa Observatório do Futuro, que estuda narrativas de ficção científica e a forma como elas interpretam e são interpretadas pelo campo do real.