E-learning pode gerar empregos… na Índia

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Alexandre Bobeda

Começa assim: João Costa, que vive no Rio de Janeiro e trabalha em uma grande empresa estatal, acessa o ambiente de EAD onde está o treinamento que ele e outros funcionários precisam fazer. Mas, algumas dúvidas sobre o andamento do curso online o fazem enviar um e–mail a uma equipe de tutores.



No dia seguinte, lá está a resposta em sua caixa de mensagens, em bom português e com informações bem claras. João fica satisfeito com o serviço e nem precisa saber que o tutor que o acompanha em seu processo de aprendizagem está em algum ponto da Índia.



É evidente que a história acima é pura ficção inspirada pela realidade. Fala–se inglês na Índia e até agora nenhuma empresa brasileira divulgou publicamente que compra serviços de E–Learning de alguma empresa indiana. O fato, contudo, pode não estar longe de acontecer, uma vez que a Índia, juntamente com a China, são as grandes estrelas mundiais da economia e todas as apostas de desenvolvimento e criação/comercialização de produtos e serviços em larga escala, em nível mundial, poderá vir desse lado mais distante do planeta. É um assunto muito discutido no momento e talvez com a Educação à Distância seja a mesma coisa em breve.



Quem sabe seja a Índia que se destaque nesse mercado? Afinal, com a recente onda de “exportação” de empregos de empresas dos EUA para esse país e mais a China, por conta de bons empregados e baixa remuneração, é simples visualizar e imaginar um futuro no qual toda a criação e o acompanhamento de treinamentos e cursos via E–Learning venha dos novos gigantes asiáticos.



Possivelmente, na China esse processo poderá levar mais tempo para acontecer porque a Educação à Distância é algo relativamente novo por lá. Tal questão foi levantada e discutida em uma conferência realizada em julho de 2003 em Edimburgo, na Escócia, chamada eLearnChina. Segundo o relatório do evento, várias empresas escocesas de EAD vêem a China como uma excelente oportunidade para negócios nesse segmento, inclusive inserindo o país em uma possível “próxima geração do E–Learning”, na área de apoio personalizado ao desempenho do aluno. Isso, sem falar nas universidades chinesas que estão adotando a EAD em seus cursos e nas iniciativas de multinacionais ou médias empresas que lá se encontram e já se movem nesse terreno.



Para um país que cresce continuamente e tem dimensões continentais como a China, tudo isso é como sinais de fumaça com um óbvio significado – advinha?! (Pode ser que os chineses possam aplicar engenharia reversa ou coisa parecida nesse caso, de forma mais barata, embora em termos de mercado o usual seja a tão–falada inteligência competitiva – afinal, estamos tratando de serviços para o conhecimento e não de produtos tecnológicos!)



De volta à Índia, é provável que estejamos diante da próxima grande potência de serviços que agregam tecnologia, como a Educação à Distância via internet. Com sobras, esse país do centro da Ásia tem muitos profissionais qualificados, fluentes em inglês e especializados na área tecnológica, sendo mão–de–obra altamente especializada e requisitada, principalmente em Bangalore, chamada de “Vale do Silício da Índia”, em uma alusão à região que concentra as empresas de informática dos EUA, na Califórnia.



Há tempos que produtos e serviços nesse segmento vêm se destacando no mercado por serem made in India – tão bom quanto um similar americano ou europeu e de baixo custo. Além disso, se empregados na área de telemarketing podem atender aos cidadãos americanos, por que não então esperar por uma empresa na área de E–Learning, de grande qualidade e alcance mundial, baseada em também em Bangalore?



De forma geral, o tom de alerta (e certa admiração) é dado por muitas empresas ao redor do globo, como a Deloitte Consulting, para as quais as companhias que oferecem soluções em EAD do país são vistas como possíveis idealizadoras e exportadoras de muitos projetos de Educação à Distância para grandes empresas ao redor do globo, como a própria Deloitte.



Vontade e empenho são fatores que não faltam: um site chamado Outsource2India (ou algo como “terceirize na Índia”) atua como um mecanismo que fomenta os investimentos e a compra de serviços feitos por empresas indianas em muitas áreas, inclusive E–Learning. Segundo esse mesmo site, a Índia é um “país com orientação altamente acadêmica” – o que se pode notar pelas inúmeras reportagens já feitas mundo afora sobre a qualificação dos profissionais indianos.



E ainda tem o lado feroz da cultura do baixo custo desse país: segundo estudo do The Hindu Business Line, uma publicação local que cobre a economia na Índia, uma hora de treinamento por E–Learning pode levar cerca de 500 horas para ser elaborado. Pelos cálculos deles, um serviço desse porte sai por 75 dólares/hora nos Estados Unidos, enquanto que na Índia, o mesmo serviço de qualidade comparável sai por incríveis 15 dólares por hora! Levando em consideração que o mercado de Educação à Distância, pelos mesmos indianos, deverá movimentar até 23 bilhões de dólares no fim deste ano, as informações acima não são nada desprezíveis.



Melhor, pois, sermos otimistas, mas a vontade do governo brasileiro de fazer negócios com indianos e chineses pode ser um instrumento de canibalização para nosso próprio mercado no futuro, caso não haja um bom nível de desenvolvimento e profissionais de qualidade, bem preparados. Eles ainda não descobriram o Brasil nem falam português, mas não custa nada estar atento e de olhos bem abertos ao que acontece à nossa volta. Ou não mais apenas os americanos lamentarão a transferência de empregos. [Webinsider]



Artigos de autores diversos.

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Uma resposta

  1. Vejo com bastante interesse o desenvolvimento do mercado de TI na Índia e as oportunidades de trabalho que possam ser geradas por lá. Este artigo vei confirmar alguns conhecimentos que eu já tinha a respeito do assunto. Muito bom, por sinal! Estou, agora, às voltas com a identificação de oportunidades de trabalho por lá, pois, no Brasil, principalmente para quem já está na casa dos cincoenta anos, a valorização profissional está voltada para os formandos, que estão saindo quentinho do forno, digo, da faculdade, mesmo que em detrimento de profissionais qualificados e com fluência em outros idiomas.

    Parabéns pelo artigo.

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