Sistemas fazem sexo, interfaces fazem amor

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Podem ler, fiquem tranqüilos, inclusive os estagiários com menos de 18 anos. O artigo é sobre internet e apenas faz referência ao best–seller dos autores americanos Alan e Barbara Pease, Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor.

O artigo mal começou e a turma do patrulhamento cultural já deve estar de cabelos em pé, achando que o editor deste site enlouqueceu. Afinal, o tal livro é considerado subliteratura, literatura de massa, auto–ajuda ou coisa de mulher. Epa! Ato muito falho!!!

Mas concordo com os julgamentos acima expostos. O livro é de fato muito ruim, a profundidade científica tende a zero, os autores resumem tudo a uma fórmula simplista e o trabalho serve principalmente para reforçar estereótipos. Entretanto, é preciso admitir que ele tem algumas coisas engraçadas, em especial a tentativa de classificar, por meio de exemplos do cotidiano, ações ou comportamentos como “coisas de homem” ou “coisas de mulher”; e vice–versa. Qualquer um pode supor a quem é atribuído, por exemplo, o comportamento comum de não encontrar um cortador de unhas numa gaveta cheia ou a quem é atribuída a dificuldade de estacionar um automóvel.

Deixemos um pouco de lado o casal Pease e vamos ao que interessa. Com o apoteótico advento da internet comercial, os sistemas corporativos ganharam escala e deixaram de ser sistemas departamentais para se tornarem sistemas web.

Sistemas web são, por definição, sistemas que podem ser acessados por qualquer pessoa conectada à internet, a qualquer hora e de qualquer lugar do mundo. Isso determinou a necessidade desses sistemas serem obrigatoriamente fáceis de usar e, sobretudo, interativos e intuitivos (tipo “coisas de interface”, sabe?). Afinal, quem teria a pretensão de conseguir expor a treinamento um usuário chinês – considerando o fuso horário de 12 horas – como pré–requisito para ele acessar um sistema de e–commerce ou, por exemplo, o site da Fedex?

Ficou confuso? Então, observe: qualquer projeto de pretensão mínima na internet é constituído pela equação sistema mais interface. Pense comigo: o Orkut, o portal UOL, o site da sua empresa, o seu homebanking, o seu site de compras preferido, a última campanha digital da Brahma, o Amazon, o Google e tudo que você realmente utiliza na internet é construído, basicamente, sobre dois pilares: um grande sistema integrado a uma bela interface desenvolvida para você. Por isso, você pode, em vôo solo (sem treinamento prévio ou tutorial), comprar na Amazon ou ver o extrato do seu cartão de crédito nas Lojas Renner.

Na internet, sistemas e interfaces foram feitos um para o outro e devem conviver em absoluta harmonia. Bom, mas talvez você possa observar que existem – até mesmo na sua própria empresa – sistemas rodando sem preocupação com a interface para o usuário (exemplo: um sistema contábil) ou até interfaces que andam sozinhas sem, necessariamente, acessar sistemas legados da empresa (ex: um catálogo de produtos). Isso pode ser verdade, mas este não é o caminho natural das coisas. No futuro, todos os sistemas serão reescritos para o ambiente de internet e deverão conviver harmoniosamente com interfaces “amigáveis”.

No ambiente de internet, enquanto os bons sistemas – usados basicamente para processar as informações – são necessários, imprescindíveis, confiáveis e seguros, as boas interfaces exercem uma relação muito mais subjetiva: elas nos tocam, nos encantam, nos fazem respirar fundo e, quando estamos longe, nos fazem sentir saudades.

Sistemas são representados por milhares de linhas de códigos desenvolvidos em diferentes tecnologias e representadas por siglas incompreensíveis aos não–técnicos; como, por exemplo, um sistema para internet desenvolvido em ASP, JSP ou Java, acessando bases de dados SQL Server ou Oracle.

As interfaces são diferentes, as interfaces são gráficas, são visuais, são, de fato, aquilo que o usuário percebe. A interface responde pela estética do mundo digital, ou seja, são a soma da arte e do design para web, associados à arquitetura de informação e usabilidade.

Usabilidade, em especial, significa conseguir realizar tarefas de forma rápida, fácil e satisfatória. Para desenvolver sistemas de qualidade é preciso capacidade técnica, para desenvolver uma interface de excelência é preciso conhecer o comportamento humano.

Pois bem, entrando numa lógica um pouquinho mais técnica, a defesa que faço é em prol dos usuários de internet que, infelizmente, ainda não estão organizados e não possuem um sindicato. Afirmo que todo sistema na web deve ser desenvolvido orientado a priorizar a interface com o usuário, e nunca o contrário.

Algumas empresas de projetos web já vem há bastante tempo evoluindo nesse conceito e, na minha visão, possuem uma estrada pavimentada na disputa de espaço na construção da internet corporativa. Com metodologia própria e equipes especialmente dedicadas ao planejamento e controle da qualidade da interface, essas empresas garantem um aprimorado resultado ergonômico e visual, ao mesmo tempo que, de forma orgânica, fazem com que seus sistemas se integrem e “sirvam” às funcionalidades que a interface e a usabilidade do projeto determinam.

O fato é que desenvolver um sistema web orientado à interface depende de usarmos novas metodologias que contrariam as metodologias atuais para desenvolvimento de sistemas, mas seguramente significa aproximar os sistemas da lógica humana e simplificar nossas vidas.

Finalmente, lamento que o casal de escritores americanos não tenha experiência com o mundo digital e corporativo, pois certamente simplificariam todo esse nosso complexo debate sobre construção de sistemas web e diriam simplesmente que sistema é “coisa de homem” e interface é “coisa de mulher”. [Webinsider]

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Cesar Paz (cesar@ag2.com.br) é Board President na AG2 Nurun.

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