A capacidade de não reconhecer propaganda

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

“Se o caso fosse de agnosia, o paciente estaria vendo agora o que sempre tinha visto, isto é, não teria ocorrido nele qualquer diminuição da acuidade visual, simplesmente o cérebro ter–se–ia tornado incapaz de reconhecer uma cadeira onde estivesse uma cadeira… teria perdido a capacidade de saber que sabia…”

Em seu livro Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago cita a existência desta doença atípica da visão que, apesar de ser associada aos olhos, é na verdade um caso neurológico.

Nós imaginamos que o mundo visual nos é dado pela simples informação que chega até nossos olhos. No entanto, qualquer conhecimento do mundo que nos cerca implica em uma construção de sentido, ou seja, tudo que nos é apresentado precisa ser representado. Esta construção de sentido implica uma transformação de elementos insignificantes em objetos carregados de significado cultural.

Este nosso desconhecimento, até mesmo entre os profissionais que trabalham com design, é um tanto intrigante, pelo simples fato de vivermos em um mundo cercado por objetos. Passamos nossa vida identificando, classificando, usando e julgando objetos, criando sentido para tudo que nos rodeia.

No mundo das interfaces gráficas eletrônicas, uma forma de agnosia visual foi identificada e vem sendo estudada. Esta cegueira conhecida como banner blindness ou “cegueira de faixa” é descrita como uma tendência que os usuários tem de simplesmente ignorar algumas formas, cores, padrões e tudo que fique relativamente próximo. Nestes casos presencia–se uma incapacidade de se reconhecer o que se está vendo.

Podemos dizer que nestes casos vemos o real, mas não vemos a sua representação.

Isto acontece porque o nosso cérebro, baseado em experiências prévias, elabora modelos cognitivos e passa a ignorar elementos que considere irrelevantes em sua busca por informação.

Nielsen, o “Papa da Usabilidade” nos dá algumas dicas para evitar o banner blindness como usar no máximo três banners por página entre outras coisas. Vários outros autores seguem esta mesma linha de raciocínio.

Mas será que isto é o suficiente para curar esta “cegueira”?

Acredito que o remédio para esta agnosia visual não está na quantidade de banners colocados nos sites e talvez nem na sua forma, como apregoam alguns autores.

Exemplos de maneiras de burlar formas de agnosia (visual ou até mesmo auditiva) já existem em outras mídias, como na televisão, por exemplo, onde anúncios são inseridos entre textos jornalísticos, transferindo toda a carga de valor da notícia para a propaganda e com isto fazendo com que o espectador fique atento no momento da mensagem comercial.

Não quero aqui tratar da questão ética deste tipo de atitude, mas sim demonstrar a importância de se conhecer as ferramentas de comunicação do meio em que trabalhamos, a internet, e todas as potencialidades desta linguagem.

“Os limites da linguagem significam os limites do meu mundo”. Ludwig Wittgenstein [Webinsider]

.

Marcos Nähr (Marcos_Nahr@Dell.com) é formado em Design Gráfico, consultor de conteúdo para o Global eCommerce da Dell Computadores e professor do Comunicação Digital da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *