Você já assistiu Babylon 5? É um show de TV de ficção científica da década de 90 sobre uma estação espacial que funcionava como um posto diplomático entre povos alienígenas e a Terra.
Em Babylon 5 os Vorlons eram a espécie alienígena mais interessante e se tornaram tão importantes que reapareceram na série–filhote produzida pela Warner a partir de B5, Crusader. Quando um Vorlon encontrava um indivíduo pela primeira vez, ele fazia três perguntas. É sobre essas perguntas que iremos conversar.
Qual é a relação das perguntas Vorlon com sua carreira? Já veremos.
Who are you?
É interessante observar como muitos profissionais esquecem de fazer essa pergunta a si mesmos. Todos acham que sabem o que são, que estão trabalhando da melhor maneira possível para atingir seus objetivos profissionais. Entretanto é comum depois de algum tempo as pessoas passarem por crises profissionais do tipo “Eu queria ser zoólogo e virei veterinário de cães e gatos. Não era o que eu queria”. Anote aí, essa é uma pergunta que você precisa fazer a si mesmo várias vezes ao ano: Quem é você?
Há muitos anos eu tive de fazer uma escolha complicada. No começo da internet comercial não existiam muitos aplicativos, eu fui aprender HTML e escrevia o código manualmente. Um site se fazia assim: imagens e hipertexto, só. Depois de um ou dois anos, entretanto, outros softwares foram sendo lançados e eu passei a ter diante de mim duas opções: me dedicar a estudar softwares profundamente para montar melhor websites ou continuar estudando arte, design, tipografia, história da arte e me tornar cada vez mais especialista em direção de arte, mesmo na internet.
Eu não comecei minha carreira na internet, eu comecei na área impressa, trabalhei com revistas, livros, cinema, tv e depois com internet. Eu sabia que se aprendesse cada vez mais apenas tecnologia muito provavelmente seria facilmente contratada para qualquer vaga de webdesigner oferecida por empresa de qualquer porte.
Mas também sabia que quanto mais eu aprendesse sobre direção de arte mais eu me tornaria uma especialista que poderia trabalhar em web, com revistas, cinema, publicidade, como eu sempre trabalhei. Eu não queria perder essa agilidade entre diferentes meios de comunicação e me tornar especialista apenas em web. Também não queria que confundissem “cargo” com profissão. Qual a minha profissão? Artista Plástica e Designer. Que cargo eu normalmente ocupo? Diretora de Arte.
What do you want?
Uns dois anos depois, quando desenvolvia um portal financeiro imenso com uma equipe de nove pessoas eu percebi que tinha feito uma boa escolha, eu estava trabalhando como Diretora de Arte, eu coordenava os designers para trabalharem junto com os analistas de sistemas envolvidos no processo de criação daquele portal.
O meu trabalho era criar a identidade visual, analisar a arquiteura do site, decidir a comunicação visual. Eu não ficava sentada 12 horas diante de um computador apenas montando páginas dhtml ou arquivos em flash, eu passava o dia todo comparando o projeto e os sketches com o material que estava sendo produzido por pessoas que eu coordenava. Para o meu perfil, a minha personalidade, o que quero da minha carreira, era a situação ideal. E eu fui muito bem remunerada para fazer isso.
A minha experiência em cinema foi importantíssima para essa decisão profissional – e para as ações que se seguiram. Cinema se faz em equipe. Quando você é Diretor de Arte em cinema – uma das coisas que mais gosto de fazer – o que interessa é o seu conhecimento de arte, luz, cores, visual, figurino, cenário. Você precisa de conhecimentos técnicos sim, mas não precisa ser especialista em fotografia, iluminação, câmera, edição ou montagem. Você precisa saber como funciona todo o processo de produção de um filme para poder trabalhar e precisa ser especialista em direção de arte para que o resultado final fique exatamente como o planejado.
Eu queria e continuo querendo ser diretora de arte. Não quero ser contratada por uma empresa ou chamada para um trabalho porque tenho conhecimentos em software e sim, porque tenho profundo conhecimento em direção de arte. É um diferencial qualitativo. Muitas pessoas podem saber como usar um software mas nem todas elas sabem como criar um produto visual – seja esse produto um folder impresso, um site, um Cd multimídia ou um filme para cinema – com qualidade visual, criatividade e diferencial. Posso ser webdesigner? Sim, já fiz isso várias vezes. Posso trabalhar com direção de arte em cinema ou publicidade? Sim, porque sei fazer isso. Sou uma Diretora de Arte.
Who do you trust?
Ao longo da minha carreira algumas das questões que se apresentam diariamente são “quem vai integrar a equipe?”, “que perfil de cliente eu quero atender?”, “para qual tipo de empresa eu quero trabalhar?” ou ainda “com que pessoas eu quero estar associada?”
As pessoas que você escolhe para trabalhar com você são importantíssimas para sua carreira. Ao longo da minha vida profissional, tive que tomar decisões complicadas para manter a qualidade do trabalho e a equipe escolhida foi fundamental para que não acontecessem desastres. Algumas vezes deixei de fechar um contrato com um cliente porque o cliente queria encolher o orçamento a um tamanho tal que não seria possível fazer um bom trabalho. Deixei de trabalhar em algumas empresas que me ofereceram emprego ou trabalho free–lancer, mesmo precisando do dinheiro, porque percebi, na entrevista, que aquela empresa iria ser problemática de trabalhar devido à filosofia de trabalho deles, que não combinava em nada com a minha.
Você é o seu trabalho. As pessoas vão olhar o seu trabalho e julgar se você é ou não um bom profissional pelo resultado que estão vendo. Ninguém quer ouvir a triste história de como não tinha orçamento nem prazo, de como você teve que trabalhar com um equipamento velho e defeituoso ou de como o sujeito que era responsável por alguma parte essencial do projeto resolveu chegar mais tarde no dia D porque tinha ido a uma festa no dia anterior e não foi produtivo. No trabalho vale aquele antigo ditado: “diga–me com quem andas e eu te direi quem és”.
As três perguntas Vorlon são muito úteis para você identificar como se sente em relação à sua carreira e como está indo o seu trabalho. Eu as uso sempre porque quero sempre ser mencionada pelas pessoas como uma profissional de talento, de trabalho qualitativo e de confiança. Pode contratar a Dani que vale cada centavo – é isso que eu quero que digam de mim. E você? [Webinsider]
Daniela Castilho
<strong>Daniela Castilho</strong> (teatime@havesometea.net) é artista plástica, designer, ministra aulas de direção de arte em cinema e mantém um <strong><a href="http://www.havesometea.net/" rel="externo">blog</a></strong>.
3 respostas
Muito bom, Daniela.
Entender esse artigo é uma faca de três gumes.
eu quero saber se vc acha que esporte combima com drogas
Daniela, me identifiquei muito com seu texto.
Trabalho em uma agência de publicidade, no setor de Criação, onde eu não crio nada além do design de embalagens, folders, catálogos e outros impressos.
Sou um estagiário que não tenho um superior para me ensinar, ou orientar, nem relacionados à técnicas de softweres, técnicas de criação ou design. Sou meu próprio estagiário.
Tenho algum conhecimento com os softweres de criação gráfica e capacidade para desenvolver muito mais do que desenvolvo hoje, sei disso, mas não sei em que direção seguir, eu preciso de orientação. As empresas hoje querem exatamente o que vc disse, querem alguém que domine os softweres, a criatividade e capacidade está ficando em segundo plano.
Um grande abraço,
Eduardo Rico