Parafraseando aquele (já) antigo comercial, o primeiro gibi a gente nunca esquece. Eu não esqueço o meu: foi uma revistinha do Homem–Aranha que minha mãe comprou para mim em 1969. Daí para me tornar um fã da arte seqüencial foi um passo.
Com tudo de bom e de ruim que isso tinha. Porque, na infância, gostar de histórias em quadrinhos era considerado normal, até mesmo saudável. Mas a partir da adolescência, bom, você não acha que já está crescidinho pra gostar de gibi não, rapaz? (era a pergunta default que se fazia na época.)
Mas não tomei vergonha na cara. O que foi ótimo, porque os quadrinhos foram a porta de entrada da leitura para mim. E foram em grande parte responsáveis por eu ter optado pela carreira de escritor – seja de artigos como este, ou de contos, peças de teatro e roteiros de TV e cinema. Devo tanto a Alan Moore e Frank Miller quanto a James Joyce e Guimarães Rosa. E, claro, ao nome que fez os quadrinhos adquirirem o status de Nona Arte: o mestre Will Eisner.
Falecido logo no comecinho de 2005, Eisner foi o criador do Spirit, aquele policial musculoso e mascarado que caçava criminosos na cidade fictícia de Central City, lembram? Mas as semelhanças com super–heróis darks e angustiados como o Batman, por exemplo, acabam na máscara. O Spirit não tinha poderes, era competente mas sujeito a falhas, implacável com os larápios mas desajeitado com as mulheres, e, principalmente, tinha senso de humor. Características que, entre muitas outras, tornaram esse personagem, criado por Eisner no começo da década de 1940, uma das referências no mundo dos gibis.
Que deixaram de ser chamados por esse nome graças justamente a Eisner. Foi ele quem batizou as HQs com o nome de “arte seqüencial” – que, convenhamos, é muito mais elegante e adequado a essa mídia que já é centenária e merecedora de respeito. Will Eisner escreveu dois livros fundamentais sobre o assunto, Quadrinhos e Arte Seqüencial e Graphic Storytelling, e, como se isso não bastasse, ainda criou a expressão graphic novel, que tornou a arte dos quadrinhos mais digna para criadores e leitores.
Eisner era muito querido no Brasil, onde esteve diversas vezes nos últimos vinte anos. Não tive a oportunidade de conhecê–lo, mas não queria deixar passar em branco a oportunidade de prestar uma homenagem ao velho mestre. O site Hyperfan, especializado em fanfictions (para quem não conhece o termo: fanfictions, ou fanfics, são histórias de ficção sobre personagens famosos escritas pelos próprios fãs) de quadrinhos, acaba de publicar esta homenagem.
São quatro textos (um prefácio e três contos; o prefácio e um dos contos foi escrito por este que vos digita, e os outros dois foram escritos por Conrad Pichler e Octavio Aragão). Todo esse conjunto pode ser acessado na URL http://www.hyperfan.com.br/tits/eisner.htm
A homenagem é simples porém sincera. Esperamos que gostem. [Webinsider]
Fábio Fernandes
Fábio Fernandes é jornalista, tradutor e escritor. Na PUC-SP, é responsável pelo grupo de pesquisa Observatório do Futuro, que estuda narrativas de ficção científica e a forma como elas interpretam e são interpretadas pelo campo do real.