Não somos radicais

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Esta semana eu debati com vários amigos que fazem, usam e defendem o uso de software livre sobre uma iniciativa de alguns deles. Cansados dos bushismos do atual Ministro das Comunicações Hélio Costa (quem tem minha idade, deve lembrar dele no Fantástico anunciando, dezenas de vezes, a cura do câncer), eles propuseram um abaixo assinado pedindo a demissão do ministro.



Eu concordo com quase todos os termos da petição. O que eu não preciso dizer de novo é o quanto isso não é construtivo.



Números


Na última vez em que olhei, ela tinha gerado menos de 4 mil assinaturas. Quatro mil assinaturas não devem ser suficientes para encorajar ninguém a mudar um ministro nem em Mônaco (que tem uns 30 mil habitantes). Duvido que isso funcione até mesmo no Vaticano (que ainda que tenha menos de 900 habitantes, não é uma democracia).



Má–vontade


A menos que ele seja uma pessoa muito bem–humorada (e, no emprego dele, eu não seria), o que fizeram foi declará–lo incompetente ou corrupto, ou ambos, e pedir sua substituição.
Atirar uma torta em alguém não é a forma mais inteligente de começar uma conversa. Qualquer um com mais de cinco anos de idade sabe disso.



Radicalismos


A criação de um abaixo–assinado assim cai, mais ou menos como “Se for assim, eu não brinco”, ou “Eu não quero ele porque ele não gosta de mim”. Não é assim que a coisa funciona.



Eu também não concordo com desmontar programas de inclusão digital ou usar dinheiro público ensinando pessoas a usar Windows. Acho uma oportunidade desperdiçada de promover padrões abertos de rádio e TV digitais (mas aí, vai uma pergunta pra comunidade – existe algum?). Acho um saco não poder ter um “naked–ADSL” (um “Speedy sem telefone”). Acho um porre não poder ter um cable–modem com acesso à internet, mas sem ter que pagar pela programação de TV junto. Adoraria ver uma ínfima fração do dinheiro público que seria gasto em licenças de Oracle ou Office ajudando a melhorar ferramentas que eu uso – e que qualquer um, em qualquer lugar do mundo, pode usar – como o PostgreSQL ou o OpenOffice.



É importante lembrar que, embora alguns de nós tenhamos optado por assinar a torta, muitos não concordam com o formato que ela tomou. Não faço questão que ele seja demitido. Gostaria, no entanto, que as decisões que motivaram o abaixo–assinado fossem explicadas ou revistas.



Estamos aqui para ajudar


Eu preciso dizer, no entanto, que o ministro tem todo o direito de desconhecer alguns assuntos. Muitos desconhecem a maioria deles e não é trabalho do ministro saber tudo de todas as coisas que dependem das suas responsabilidades. É por isso que ele conta com dezenas de pessoas que são capazes de entender as minúcias de cada assunto que sua pasta toca (coisas como comparar padrões de TV digital e de alta–definição, aplicação do FUST em programas de inclusão digital, padrões de rádio) e, ao mesmo tempo, falar a mesma língua que ele. Ele deve confiar que essas pessoas estejam adequadamente informadas porque, se elas estiverem erradas, a culpa, no final, é dele. O cargo dele inclui ser culpado por tudo o que acontece debaixo dele.



Não deve ser um trabalho fácil.



A nossa parte (a de quem defende a bandeira de padrões abertos – e software–livre é uma conseqüência de padrões abertos) é estar à disposição, dele e de qualquer outro – para responder perguntas sobre porque e quando padrões abertos devem ser usados e quando e porque padrões proprietários devem ser evitados – para que eles possam ajudar o ministro a tomar as decisões corretas na hora certa.



Na ausência de perguntas (e isso acontece tanto com quem ou entende tudo sobre alguma coisa, com quem não entende absolutamente nada de alguma coisa ou com quem já tomou uma decisão e quer não entender mais nada), nosso trabalho é o chamar a atenção para estas questões.



Temos também que apontar erros. Devemos, sempre que pudermos, alertar sobre decisões que prejudiquem os interesses da sociedade e apontar soluções para reduzir os danos de qualquer equívoco.



É preciso explicar, para quem quiser (ou precisa) ouvir, porque e como o poder de orientar padrões e gastos do governo – em particular, nesse caso, do ministério – pode e deve ser usado para incentivar a geração de tecnologia, empregos e riquezas locais.



Não adianta nada gastarem rios de dinheiro que acabam formando mão–de–obra altamente capacitada, se ela morar no Vale do Silício, em Redmond ou na Índia. Precisamos de gente boa aqui no Brasil.



Até porque os impostos que eles pagam vão ficar por lá mesmo. [Webinsider]



Ricardo Bánffy (ricardo@dieblinkenlights.com) é engenheiro, desenvolvedor, palestrante e consultor.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *