Charles Mingus, músico americano, disse certa vez “tornar o simples complicado é fácil; tornar o complicado simples é criatividade”. Por que não estampam essa frase nos monitores de cada desenvolvedor de sites do planeta?
O Google aprendeu bem essa lição e sua interface franciscana lhe rende mais de 200 milhões de visitas diárias e faz com que seja uma das empresas mais valorizadas da internet com um valor de mercado por volta de 50 bilhões de dólares.
Sua simplicidade e objetividade trazem exatamente o que a nossa dinâmica cotidiana atual exige. Nossa sociedade sem tempo não admite mais um site, que, ao invés de informação relevante e de valor, nos premia com um quebra–cabeças visual em que, além de termos que adivinhar seus caminhos, tal qual um mundo de Alice, ainda temos que tentar descobrir sua lógica.
Sites que nos impingem execráveis pop–ups, layouts inexplicáveis e apresentações não solicitadas só nos fazem perder tempo e faz com que tenhamos experiências negativas com as marcas que os assinam.
Tecnologia, muitos sites têm de sobra, porém, há uma absoluta ausência de usabilidade.
Segundo a ISO 9241–11, usabilidade é “a extensão na qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com efetividade, eficiência e satisfação em um contexto de uso específico”, dizendo isso com usabilidade: simplicidade que dá certo.
Infelizmente, tal simplicidade e assertividade têm passado ao largo de 99% dos sites em todo o mundo e, ao que parece, quando se trata de internet, complicar as coisas, ao invés de simplificá–las, é algo considerado muito natural.
Jakob Nielsen, um dos papas em usabilidade, é categórico ao afirmar que se deve retirar da página tudo que não auxiliar o usuário na sua navegação. É claro que, se falando de Brasil, onde a ditadura da beleza e do design impera já há algum tempo, devemos tomar essa afirmação com muita parcimônia, contudo não podemos esquecê–la.
No quesito “auxiliar a navegação”, muitas empresas se esquecem de fazer o óbvio. Existem alguns padrões na web que não podem ser ignorados. Se os usuários estão acostumados com uma navegação vertical e com barras de rolagem em tons de azul e cinza dispostas no lado direito da tela, por que colocar uma rolagem em forma de serpente na parte inferior da tela em uma navegação horizontal da direita para a esquerda?
Nem tudo que é bonito ou inovador é útil. Uma grande besteira continua sendo uma grande besteira, mesmo que com um belo design.
Os sites em Flash lideram o ranking dos de navegação mais complexa. As possibilidades que o flash permite parecem inebriar adolescentes imberbes que lidam melhor com a tecnologia do que com o bom senso. Alguns sites parecem uma obra pós–moderna: só o autor é capaz de explicar o que queria dizer com ela.
Deve–se sempre ter em mente a probabilidade de um usuário conseguir completar uma tarefa simples como avançar uma página ou achar uma determinada informação. Se o site de uma empresa não lhe oferece tal facilidade, certamente, o botão “voltar”, um dos mais conhecidos do usuário, entrará em ação minando uma venda.
Só para se ter uma idéia do tamanho o problema, a Amazon, em recente pesquisa, concluiu que cerca de 60% dos carrinhos de compra em sites de e–commerce em geral são abandonados por dúvidas no procedimento de compra. Se o e–commerce no Brasil movimentou no somente no primeiro trimestre deste ano cerca de 1 bilhão de reais, imagine o quanto não poderia ter movimentado se usabilidade fosse algo corriqueiro.
Você pode pensar que o bordão “vamos dificultar a vida do usuário” só é entoado em alto e bom tom em sites de pequenas empresas que não dispõem de capital para contratar uma boa agência e que sites de grandes empresas estão livres dessa sina. Ledo engano.
Recente pesquisa do Ibope Inteligência, intitulada “Site Fácil –Melhores Práticas para Relações com Investidores”, analisou os sites das 20 maiores empresas em volume de negócios listadas na Bovespa. Muitos deles perderam pontos por falta de uma navegação intuitiva, estruturação de conteúdo precária, difícil acesso à área de investidores e outros vários fatores que não foram satisfeitos.
Os sites devem ser centrados na experiência do usuário e não na mente do diretor de criação que o concebeu ou no dono da empresa. De nada adianta a empresa erigir monumentos em homenagem ao seu site se o mercado não o aplaude. O usuário é o verdadeiro juiz. Será ele quem dirá se o site da empresa está bom ou ruim.
Se você é um empresário, preste bastante atenção no que a sua agência anda fazendo com o site da sua empresa.
Se você é um usuário, tenha paciência (mesmo porque com as nossas atuais velocidades de conexão, é só isso que lhe resta).
Se você faz sites, pelo amor de Deus, cole a bendita frase de Mingus no seu monitor.[Webinsider]