O Computador para Todos chamou a atenção dos lojistas para o fato de que é viável (e lucrativo) vender computadores com Linux. Há um ano era raríssimo encontrar para comprar computadores com o sistema operacional livre. Hoje, já são anunciados em folhetos de grandes supermercados e redes de lojas.
Para quem ainda não conhece, uma breve apresentação: o Computador para Todos é uma iniciativa que visa facilitar a compra de computadores pessoais por parte da população de renda mais baixa. Para isso, o governo federal definiu uma configuração mínima para os computadores, isentou esses equipamentos de alguns impostos e criou três linhas de financiamento: uma para o varejo – via BNDES – e duas diretamente para os cidadãos – via Banco do Brasil e via Caixa Econômica Federal.
Os primeiros números do programa PC para Todos começam a sair e pelo que tudo indica, será um sucesso de vendas. Em 12 dias, o Magazine Luiza vendeu 15 mil unidades do equipamento.
Do ponto de vista industrial, o programa do governo federal também já demonstrou sua força. Já são 23 fabricantes credenciados, entre eles: Positivo, Itautec, Semp Toshiba, Amazon PC, Epcom, Login e Solectron (que fabricará PCs da HP). Tanto os varejistas quanto os fabricantes elevaram suas expectativas de venda frente à demanda do PC Popular.
Mas como o ponto–de–vista de quem vende e de quem produz tem sido o adotado em várias matérias publicadas pela imprensa, este texto vai tentar uma outra abordagem.
O Computador
para Todos vem com sistema operacional Linux e mais 26 softwares livres instalados. Não se sabe qual parcela desses computadores permanecerá com Linux, mas uma coisa é certa, nunca o Software Livre e o Linux tiveram tanta visibilidade no Brasil. Segundo Marcelo Branco, da Associação Softwarelivre.org, o PC para Todos é a primeira experiência, em massa, de software livre para usuários residenciais no país e uma das primeiras no mundo. “O GNU/Linux e os softwares livres já estão consolidados nos ambientes de rede corporativas e no ambiente da internet, aos poucos estão sendo usados nos desktops de ambientes governamentais e privados. Agora este programa leva o software livre para o varejo e para a casa dos cidadãos. Isso não é pouca coisa”, afirma Branco.
Felipe Fonseca do projeto MetaReciclagem afirma que “O interessante da proliferação do uso de computadores é que ninguém consegue prever quais novos usos serão propostos. É claro que ter computadores em casa não exclui o modelo de telecentro, que tem outra natureza e outros objetivos. Mas a curva de aprendizado e a intimidade com a tecnologia podem se acelerar muito com o Computador para Todos. A questão passa longe da visão tradicional de empregabilidade ou simples acesso à informação. Ter em casa uma máquina de manipulação de informação (talvez uma visão mais etimológica da informática) é um caminho possível para a geração de autonomia e uma visão crítica dessa era hiperinformada.”
Diferente dos softwares produzidos e comercializados por empresas, o Linux e os Softwares Livres são cercados (e feitos) por numerosos indivíduos interessados em compartilhar conhecimento em prol do coletivo. É a chamada comunidade do Software Livre.
BR–Linux é um dos sites sobre software livre mais acessados no Brasil. De acordo com seu criador e mantenedor Augusto Campos o interesse por parte da comunidade tem sido alto. “A expressão Computador
para Todos é uma das 5 mais pesquisadas no site nas últimas semanas, e quase todos os dias alguma notícia é enviada ao site pelos leitores, falando sobre os aspectos técnicos, mercadológicos, ideológicos e até de financiamento deste projeto”. Augusto acredita que “a exposição que o software livre está recebendo durante todo este processo representa a semente de uma mudança de mentalidade e talvez possa reforçar o apoio e os recursos que a comunidade recebe”.
O interesse da comunidade pelo projeto Computador para Todos é demonstrado também na criação de iniciativas de apoio e suporte aos novos usuários. Como todo novo usuário de computador, as pessoas que estão comprando os PCs populares vão encontrar diversas dificuldades iniciais. Levando isso em consideração, surgiram iniciativas como o PC Livre, que desenvolve trabalho de formação comunitária por meio de materiais didáticos elaborado por uma rede colaborativa de autores, visando dar apoio à iniciação de novos usuários de Software Livre. Outra iniciativa criada pela comunidade é o Suporte Livre que foi formado para ajudar a responder as dúvidas técnicas de novos usuários de Linux, gerando e transferindo conhecimento. As duas iniciativas estão abertas à participação de voluntários.
Adriana Veloso, do Estúdio Livre, acredita que “a comunidade do Software Livre crescerá com um tipo de usuário/a diferente daquele que estamos acostumados. Serão pessoas de origem mais simples buscando suporte e criando alternativas. Acho que, a longo prazo, isso será muito benéfico para a cultura digital brasileira como um todo”.
O Computador para Todos abriu espaço para o Software Livre nas prateleiras, na mídia e nas residências. A comunidade está se envolvendo disposta a dar apoio. Resta saber como serão os desdobramentos dessa arrancada inicial do PC para Todos, mas isso só os próximos meses dirão. [Webinsider]
Marcelo Terça-Nada
Marcelo Terça-Nada (marcelonada@gmail.com) faz parte do Poro e da DoDesign. Mantém o blog Virgula-imagem.
Uma resposta
Há uma dificuldade de achar lojas que vendam os computadores do PCpara todos. Gostaria de saber se em minha cidade tem alguma?