A rede virtual dos engarrafados no trânsito paulistano

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Se existe algo que paulista entende é engarrafamento.

Assim, nada mais natural que partisse deles a rede virtual dos engarrafados.

A iniciativa é da Rádio Eldorado, da capital paulista, que incorporou informações sobre trânsito enviada pelos ouvintes, via celular, à sua programação.

A qualquer minuto entra alguém “diretamente do volante” para contribuir muitas vezes não só sobre informações sobre congestionamentos, mas sobre a causa, sugerindo mudanças em horário de realização de obras, tempo de semáforo, etc.

Ali, temos no coração do Brasil um exemplo atual, vivo e popular (fora da web) da nova comunicação horizontal do muitos para muitos, gerando inteligência coletiva, que pode servir de modelo para outras iniciativas na internet e fora dela.

Vejamos os ingredientes necessários que explicam, justificam, reforçam e intrigam nessa experiência, que são universais a qualquer projeto de comunicação horizontal:

As causas que fazem com que este tipo de rede se forme:

Do cenário geral:

Excesso de informação e falta de tempo para digestão. Doença do tempo moderno, o que faz com que haja uma completa impossibilidade da rádio em acompanhar todos os engarrafamentos que ocorrem a cada minuto em São Paulo. É o mesmo fenômeno com a multiplicação dos websites, livros, pesquisas relevantes para tomar decisões na nossa vida.

Do ponto de vista do cliente:

Multiplicação dos olhos. Interesse da comunidade sobre como saber, evitar e sair dos engarrafamentos. Sabendo que cada um, ou uma rádio tradicional, não consegue ser suficientemente ágil para cobrir todos os locais, no tempo necessário, nada melhor do que o próprio engarrafado tomar a dianteira. O problema que fica para depois: como interagir apenas com os que estão próximos do meu caminho?

Do ponto de vista da empresa promotora:

Procura de novas formas de interação com o público para criar um diferencial competitivo frente à concorrência. Oportunidade de negócio, usando a rede de usuários, que trocam informações e geram dados originais, ágeis e úteis do interesse do público, como faz a Amazon, que permite comentários bons ou ruins dos visitantes sobre os produtos;

As conseqüências que são geradas depois que uma rede muitos–para–muitos se forma:

Do cenário geral:

Uma nova forma de comunicação. Redes como esta da Rádio Eldorado se multiplicarão dentro e fora da web, envolvendo som, fotos e vídeos, já que cada cidadão será (e muitos já são) uma micro–equipe–de–reportagem–ambulante circulando por aí com seus celulares com voz e câmeras − carentes de interação. Ali, qualquer um é repórter, com a ampliação por milhares da capacidade de prospecção do mar diário de novidades. É o resultado da entrada de uma nova tecnologia, que permite a ampliação dos emissores, como são os computadores em rede e agora os celulares, reforçando o potencial dos grupos de interesse.

Do ponto de vista do cliente:

Aumento do status social do participante ao ser útil para a comunidade. Além do benefício direto para todos, cada um visualiza e usufrui de um reconhecimento social, o mesmo fenômeno já visto no desenvolvimento das comunidades virtuais em rede, o que reforça a força do voluntariado, vide Linux, MP3, Wikipedia. Resta saber, é algo para sempre, ou cíclico?

Do ponto de vista da empresa promotora:

Mudança do perfil do profissional de comunicação. Com a entrada em cena de um ávido batalhão de repórteres voluntários, pois notem bem a mudança: o ouvinte não entra no ar para opinar, como até já é de costume, mas para principalmente informar. A rede muda aos poucos o perfil dos veículos de comunicação, que diminuem profissionais na prospecção e apuração e passam a gerenciar a recepção e filtragem das ligações. Passam assim de geradores de informações para administrador de comunidades de usuários voluntários;

Questões para o futuro, enquanto estamos engarrafados:

Se todas as rádios adotam o modelo ouvinte–ouvinte qual será o diferencial entre elas? Será daqueles que conseguir gerir melhor a comunidade?

Passada a novidade, os usuários exigirão contra–partidas para participar? O voluntariado romântico dará lugar ao mercantilismo interesseiro? Este é um fato sempre natural? Há formas de manter o voluntariado inicial?

Como focar as comunidades de usuários por engarrafamentos de interesse? Naqueles que realmente me atrapalham? Rádios web regionalizadas? Comunidades de celulares como rádios–amadores por área de circulação?

Digam–me, ando curioso. [Webinsider]

Avatar de Carlos Nepomuceno

Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

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Uma resposta

  1. Repórter voluntário nada mais é do que um empregado sem custos para um veículo de comunicação. Muito bom, em vez de qualificar seus serviços de informação, as empresas recebem, de graça, por um trabalho que deveria ser produzido por ela mesma.
    Agora, motorista enviando uma informação é outra coisa completamente diferente, nada tem a ver com reportagem.

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