Cinco exabytes (5.000.000.000.000.000.000 bytes) de informação nova foram produzidos no mundo. Isso em 2002! Isto equivale a uma pilha de livros que vai do Sol a Plutão ou 8 metros de livros para cada habitante da Terra. Estes dados da University of California at Berkeley (2003) também apontam para outro número igualmente surpreendente: a quantidade de informação nova produzida no mundo cresce a uma taxa de 30% ao ano.
Este é o tamanho do tsunami de dados que bate nas praias do nosso mundo civilizado e retrata o fenômeno da explosão da produção e distribuição de informação que revoluciona o mundo no final do século passado e início deste novo. Nunca se produziu e se distribuiu tanta informação na história da humanidade. ?Uma edição do The New York Times em um dia de semana contém mais informação do que o comum dos mortais poderia receber durante toda a vida na Inglaterra do século XVII? (WURMAN, 1991).
A internet, a grande rede mundial de computadores, é o maior símbolo desta explosão informacional que vivemos. Conectando tudo e todos, esta rede é o meio de comunicação que mais rápido se expande na história e impregna-se na vida da nossa sociedade contemporánea. Segundo pesquisa da Netcraft, em 2004 já existiam mais de 58 milhões de websites oferecendo serviços e conteúdos informativos. Este número prossegue crescendo em velocidade surpreendente.
Esta explosão da informação causa um visível desconforto na maioria das pessoas. Bombardeada por incontáveis jornais, artigos, e-mails, relatórios, filmes e websites a mente humana não consegue absorver toda a informação hoje necessária à sobrevivência de qualquer trabalhador. Quantos jornais, revistas, artigos, livros, newsletters, blogs, sites você precisa ler por semana para se manter atualizado? Quantos filmes, documentários e programas você precisa assistir na TV? Quantos cursos você precisa fazer?
Este excesso de informação pode gerar a síndrome da fadiga da informação. Batizada pelo psicólogo británico Davis Lewis, esta síndrome é caracterizada por tensão, irritabilidade e sentimento de abandono causado pela sobrecarga de informação a que o ser humano está exposto. ?Cobra-se do cérebro moderno o desempenho de um carro de corrida e, ao mesmo tempo, a constância e falta de manutenção de um carro de passeio.? DEL NERO (1997).
Para combater este sentimento de ansiedade Richard Wurman criou , em 1976, um novo objeto de estudo chamado de arquitetura de informação. Seu objetivo é organizar a informação de forma que seus usuários possam assimilá-la com facilidade e assim ?tornar o complexo claro?.
A arquitetura de informação proposta por Wurman começou baseada na mídia impressa, principalmente na produção de guias, mapas e Atlas. Ela se estendeu para os mais diversos campos, desde imagens de radiografia até layout de museus. Porém uma área em que a arquitetura de informação está encontrando um campo enorme para explorar é a organização de websites.
Dentre os diversos tipos de problemas que podem afetar a usabilidade de um website muitos estão relacionados com a organização das informações que ele oferecidas. Falhas na organização dificultam a utilização de um website porque provoca nos seus usuários confusão, frustração ou até mesmo a ira. Quantas vezes você não se irritou com um site só porque não conseguiu encontrar o que precisava?
O livro do urso polar
ROSENFELD & MORVILLE (2002) citam a incapacidade de encontrar uma informação como um dos fatores que mais desagradam os usuários. Já em 2001, pesquisas do Nielsen Norman Group apontavam que 27% das causas de insucesso das vendas de um website de comércio eletrônico se deviam ao usuário simplesmente não conseguir encontrar o item que procurava. E segundo pesquisa da Vidence Research, ainda em 2001, uma má arquitetura de informação é a causa de cinco dos grandes sete problemas de usabilidade mais encontrados em websites.
Em meados dos anos 90, com o crescimento explosivo da web, surgiram as primeiras tentativas de aplicar os conceitos de arquitetura de informação no design de websites. Louis Rosenfeld e Peter Morville foram os pioneiros. Fundaram a primeira empresa a trabalhar exclusivamente com Arquitetura de Informação na web (Argus Associates) e lançaram o primeiro livro sobre o assunto (Information Architecture for WWW). Logo diversas agências web começaram a adotar a Arquitetura de Informação como uma disciplina essencial para o design de websites surgindo um novo profissional no mundo da internet, o arquiteto de informação.
A Argus não existe mais. Foi engolida por outro tsunami, a bolha da internet. Mas o livro que eles escreveram continua. Apelidado de ?urso polar?, ele foi atualizado em uma segunda edição e hoje é praticamente uma bíblia para arquitetos de informação em todo o mundo.
Como tudo que é novo, a arquitetura de informação ainda tem muito por fazer. Precisa se explicar, se definir e provar sua importáncia. Ainda existem poucos livros que consolidam seus fundamentos, poucos trabalhos acadêmicos e poucos casos que medem os retornos de seus investimentos. Mas a cada dia ela vem se mostrando como uma ferramenta essencial para o design de qualquer site. Uma ferramenta que ajuda o usuário a encontrar a informação certa na hora certa e sobreviver ao tsunami que o afoga todos os dias. [Webinsider]
Guilhermo Reis
<strong>Guilhermo Reis</strong> (reis@guilhermo.com) produz o <strong><a href="http://www.guilhermo.com" rel="externo">Guilhermo.com</a></strong>, sobre AI, usabilidade e webdesign.
6 respostas
um tsunami esse seu texto, hein?
Sim, a arquitetura de informação ainda precisa se explicar, se definir e provar sua importância. Quem conhece e trabalha com ela é sabe que está com um diamante negro nas mãos, que precisa ser mais bem analisado e enxergado em seu valor pelo mercado.
Vejo a ausência desta definição de AI como sendo a causa de não difundirem em massa seus bons resultados. Em website, muitas vezes os bons resultados obtidos por uma boa arquitetura são atribuídos a outras características do site. Assim, a importância da arquitetura da informação, ao invés de ser mais um dos fatores do sucesso do site, torna-se algo inexplicado.
E o que fazer? Apresentar completamente o que é AI.
Guilhermo, você foi extremamente feliz em sua colocação de explicitar o fato de ainda existirem no Brasil poucos livros e pesquisas (acadêmicas e mercadológicas) sobre o assunto. Aqui em Fortaleza, já estão surgindo empresas com esses valores encabeçados. Veremos então se esses valorizam adentram nas Universidades, nas pesquisas e ganhem cara para assinar os bons resultados que trazem.
Parabéns pelo artigo, Guilhermo. Gostei muito.
Eu acredito profundamente na vantagem de uma boa arquitetura da informação, maximizando a probabilidade de sucesso na lapidação de quaisquer projetos, gerando retorno significativo devido a facilidade de uso.
Também tenho interesse em conhecer este livro …
Guilhermo,
Parabéns pelo artigo. Você sabe onde encontro essa livro no Brasil? Não encontrei na internet. Um abraço, Luiza.
Mesmo sem estudos claros, organizar o montante de informação é necessário, simplificando o acesso e criando linhas de raciocínio.
O que cega a visão dos que chegam agora para mexer com essa disciplina é a falta de critérios e objetivos na hora de definir sua arquitetura.
Muitos não sabem priorizar a informação justamente por acharem tudo importante, transformando o trabalho de arquitetura em apenas mais um daqueles projetos mirabolantes que ficam empoeirando na gaveta.
Oi Guilhermo! Concordo contigo, o livro do Urso é muito bom mesmo, principalmente a segunda edição. Dei uma folheada na primeira e senti falta de algumas coisas. Parece um outro livro, não outra edição.
Tomara que esse artigo aqui fique bem difundido, pois sintetiza o essencial do conhecimento que gestores e clientes deveriam ter sobre a disciplina de AI. Abraços…