Dois eventos agitaram o mercado latino-americano e hispânico norte-americano no final de junho em Miami.
A segunda edição do Search Engine Strategies Latino, parte da mais importante franquia de eventos de search marketing, atraiu um número maior de brasileiros e search marketeiros em geral em relação a 2006. Ainda há pontos a melhorar, principalmente na dinâmica das apresentações, já que cada painel (não há apresentações individuais) contou em média com cinco profissionais, o que deixou pouco ou nenhum tempo para perguntas da platéia. E convenhamos: a falta de interação em um evento de mídia interativa é um contra-senso.
Assim como no ano passado, ficou claro que o maior desafio para atuação regional ainda é a localização de conteúdo, que é bastante diferente de se traduzir palavras-chave ou conteúdo de um site. Localização envolve o ?sabor local?, gírias, regionalismos.
Por exemplo, em português temos pelo menos três termos para traduzir ?tangerine?: mexerica, bergamota e tangerina, dependendo da região do país em que você mora. Outro fator importante a ser considerado são as expressões em inglês e aqui vai outro exemplo: ?spyware? (softwares maliciosos que são muitas vezes são instalados no computador sem o conhecimento do usuário) é sempre escrita no singular, porém, faça uma rápida pesquisa no seu site de busca preferido e você encontrará ?spywares? (no plural) em diversos sites especializados.
Em minhas apresentações procurei deixar claro aos interessados em investir no nosso país que, por ser o maior e mais sofisticado mercado da região (180 milhões de dólares investidos em publicidade online em 2006, contra 30 da Argentina e 50 do México), o Brasil precisa ser encarado de forma diferente, não só pela língua, mas também pela sofisticação dos usuários de internet locais.
Todavia, nossos próprios ?hermanos? consideram o Brasil como um mundo à parte em relação ao mercado latino: mais de um palestrante ao apresentar os sites mais importantes da região deixou de fora qualquer menção ao Brasil. Ou seja, sites da Colômbia, Venezuela, Peru e Chile são ? na opinião deles – fundamentais para qualquer estratégia para atingir latinos. Entretanto, vale lembrar que, com mais de 33 milhões de usuários, o mercado de internet brasileiro é maior que a população de alguns países do nosso continente.
Já o Ad:Tech Latino, que estava em sua primeira edição, contou com um público maior que o SES e uma organização mais profissional.
Aqui, a meu ver, a dificuldade dos organizadores foi reunir palestrantes de peso para tratar de temas como mobile marketing, conteúdo gerado pelo consumidor e ações de cross media, já que a maioria dos países carece de maior desenvolvimento nessas áreas. A saída foi focar mais o conteúdo no mercado hispânico norte-americano, o que acabou atraindo alguns nomes interessantes.
É fácil notar a surpresa de todos quando mostramos nossos números, até porque as referências utilizadas pelos norte-americanos quando se trata de Brasil nem sempre são as mais atualizadas.
Por exemplo, recentemente o eMarketer, fonte constante em 9 entre 10 apresentações de executivos de internet brasileiros, soltou um relatório completo sobre a internet brasileira. Antes de tudo é importante lembrar (ou esclarecer) que o eMarketer não é um instituto de pesquisa: eles compilam dados de diversas fontes, analisam e publicam estudos, o que é bem diferente.
Isso muitas vezes gera problemas, se as fontes não forem as mais atuais. E foi o que aconteceu nesse relatório sobre o Brasil: li apenas alguns números em um sumário executivo e já deu para perceber que, por exemplo, o número total de usuários não bate com nossa realidade atual (25 milhões no relatório, contra mais de 33 milhões). Por isso, acho fundamental a participação de executivos brasileiros nesses eventos e o apoio institucional do IAB, como entidade representante de nosso mercado.
Aliás, o IAB mês passado teve uma iniciativa muito importante e que merece ser aplaudida, ao criar um documento com as principais informações e projeções de crescimento do mercado de mídia online brasileiro. Minha expectativa agora é ver esse material traduzido ao inglês e distribuído a todos os capítulos internacionais da entidade; além disso, espero que ele receba uma atualização periódica.
Apesar de ainda poder melhorar, ambos os eventos foram de grande valia, já que abrem uma porta para nossas empresas entrarem em um mercado até aqui explorado na maioria por argentinos, colombianos e chilenos. Nada contra, mas acredito firmemente que os brasileiros têm muito mais a oferecer, dado nossa experiência, qualidade e amadurecimento. Porém, há barreiras a serem transpostas e uma delas é a língua: do mesmo modo que o português acaba por servir de escudo contra uma possível invasão estrangeira, a falta de conhecimento em espanhol e inglês é um limitador para nossos profissionais, como ficou patente em algumas apresentações em Miami.
Já nossos concorrentes latino-americanos trafegam com maior desenvoltura junto aos anunciantes e investidores norte-americanos e são muito bons em contar histórias sobre o quão grande e maduro é o mercado de internet no México, Chile, Argentina e países andinos.
?What about Brazil??
?El Brasil non es América Latina?. [Webinsider]
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Marcelo Sant'Iago
Marcelo Sant'Iago (mbreak@gmail.com) é colunista do Webinsider desde 2003. No Twitter é @msant_iago.
3 respostas
você ta dizendo que os latinos não aceitam ser subjulgados então.
deve ser difícil mesmo, alguns países não aceitam, as vezes por não simpatizar com o nosso Brasil, como no caso da argentina, levando em conta fatores superficiai, é por isso que eles ainda continuam em baixo, a argentina sempre em segundo ou terceiro, sobre a potência na américa latina isso é sempre contestado pelo méxico e argentina, da pra ver que não engolem mesmo, o Brasil não é perfeito, Argentina e México são muitos melhores que nós em outros fatores, como educação, saúde, emfim, uma série de fatores que fazem com que o Brasil não seja levado a sério, quando o Brasil, estiver comparável aos Estados Unidos, que já é comparado em algumas coisas, é que eles vão aceitar o peso do Brasil no cenário latino, o Brasil também depende muito de uma melhor relação com o restante dos latinos, pra isso precisa ser levado a sério, e do jeito que o Brasil tá crescendo rápido, “o espetáculo do crescimento” ¬¬’
acredito que não vai demorar muito, só basta o brasil não fazer cagada.
A verdade é que o Brasil hoje, além de ser o maior em territorio e em populaçao, também pode ser considerado como mais desenvolvido e rico financeiramente. Temos praticamente tudo em dobro comparado aos visinhos sulamericanos; ou seja, maior mao de obra, maior mercado consumidor, maior exportaçao e importaçao, mais usuarios na internet, enfim, em quase todos os aspectos somos superiores. Apesar de alguns vizinhos nao quererem aceitar isso, o Brasil é diferente do resto da américa latina.
Em termos absolutos é realmente difícil de competir com o Brasil, basta olharmos para um mapa e ver o tamanho do Brasil. Mas a inclusão digital ainda está engatinhando como mostra essa notícia:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u315244.shtml