Nas redes sociais vale a regra do bar: não importa muito a qualidade do bar em si, importa mais se meus amigos estão lá ou não.
Mas imagine se, depois de seus amigos começarem a se encontrar em um certo bar, este estabelecimento fosse dono do direito do grupo se conhecer e se reunir em um lugar? Se fosse terrivelmente difícil para o grupo se encontrar em outro lugar? E se este bar começasse a servir cerveja quente e vocês não pudessem se encontrar em um que tem cerveja gelada?
Nas redes sociais online é isso que acontece. Brad Fitzpatrick, criador do OpenID, e David Recordon, da Six Apart, estão leventando a discussão sobre isso, com propostas bem concretas. Segundo eles, o Grafo Social deve ser aberto.
O que é grafo social
Em matemática, um grafo é um conjunto de pontos conectados por linhas (como na ilustração). Grafo é uma abstração utilizada para modelar a relação entre coisas.
Esta teoria é também utilizada para relacionar as pessoas em uma rede social. A minha rede social é o conjunto de pessoas às quais eu estou relacionado de alguma forma. Segundo Brad Fitzpatrick, o ?grafo social é um mapa global de todas as pessoas e como elas estão relacionadas?.
O problema dos sites sociais é que não existe um só grafo social; existe um no Orkut, outro no Flickr, outro no Twitter, outro no Facebook?
Quem é dono da sua rede social?
No Orkut, por exemplo, há uma lista de 100 pessoas que eu conheço. Como eu não aceito no Orkut ninguém que eu não conheça, estes 100 são todos amigos meus. Essa lista de pessoas que eu conheço foi criada dentro do Orkut, mas fui eu que a criei. Eu não deveria ser dono dela, ou pelo menos ser livre para poder utilizá-la como quisesse?
Ser dono da sua rede social significa poder, com um clique, utilizar essas informações em qualquer programa, não somente no Orkut. Isto é, sua rede social deve ser portável. Mais do que portável, a rede social deve ser livre (no mesmo sentido de liberdade usado em ?software livre?).
Manifesto do Grafo Social Livre
A idéia é criar um padrão para o grafo social, como há com o RSS e ATOM para distribuição de conteúdo. Esta é a proposta de David Recordon a respeito da abertura do grafo social:
- Você deveria ser dono da sua rede social
- Privacidade deve ser levada a sério, deixando o controle nas suas mãos.
- É bom ser capaz de encontrar aquilo que já é público sobre você na internet.
- Todo mundo tem várias redes sociais, e elas não precisam estar sempre conectadas.
- Tecnologias abertas são os melhores meios para se resolver estes problemas.
.
Importar contatos de e-mail é muito perigoso
Há pouco tempo atrás nós vimos a Via6 passando por problemas sérios por causa de convites enviados indevidamente para todos os contatos das pessoas.
Há várias redes sociais que tentam importar seus contatos de e-mail e adicioná-los. Isso é muito perigoso. No caso do Gmail, por exemplo, o mesmo login e senha dá acesso não somente ao seu e-mail (que já tem informações confidenciais suficientes para você não dá-lo a ninguém), mas também aos documentos no Google Docs, às estatísticas do seu site no Google Analytics etc?
Importar contatos de e-mail é um péssima solução para a portabilidade da sua rede social.
O ideal é que haja uma solução livre.
O maior diferencial competitivo entre uma rede social e outra é o seu grafo social. Informação é poder. Controlar os dados do grafo social é o sonho de qualquer empresa. No entanto, é muito perigoso deixar algo tão importante nas mãos de uma empresa privada, cujo objetivo final é ganhar dinheiro.
Assim como o OpenID busca resolver o problema de identidade online de maneira aberta, para que nenhuma empresa tenha o controle sobre isso e também para evitar que você precise criar um novo login e senha (ou seja, uma nova identidade) para cada serviço que você entrar. A idéia é criar uma solução livre que te dê o controle sobre sua rede social.
Os objetivos do movimento
De acordo com Brad Fitzpatrick, os objetivos do movimento de abertura do grafo social são os seguintes:
1. Tornar o Grafo Social um recurso comunitário, utilizando informações de diversos sites sociais, mas descentralizando o controle, de maneira a não depender de nenhuma empresa, e sem deixar que qualquer empresa seja dona do grafo.
2. Para desenvolvedores uma API do grafo social deve fornecer dados como:
a) Equivalência da identidade: ?@gilbertojr? no Twitter é o mesmo que ?Gilberto Alves Jr? no Orkut, que é o mesmo que?
b) Todas as relações entre cada pessoa, quem é amigo de quem, etc?
c) Controle sobre quem é amigo de quem e onde – exemplo: ?gilbertojr? é amigo de ?fulano? no Facebook, de ?Ciclano? no Orkut?
d) Mostrar amigos que estão em uma determinada rede, mas estão faltando em outra.
3. Para o usuário final…
a) Quando um usuário se identificar em uma rede social (ideal, mas não necessariamente através do OpenID), deveria ver uma mensagem assim ?Oi, nós percebemos através de informações públicas de outros lugares que você já tem 28 amigos usando esta rede social. Estes amigos estão relacionados abaixo, junto com o motivo pelo qual os recomendamos (quais nomes eles usam em outras redes sociais). Quais deles você quer que sejam seus amigos aqui??
b) Dar ferramentas para que o usuário controle suas redes sociais, sincronizando umas com as outras e controlando quais informações aparecem para quem.
c) Transformar o grafo social de cada usuário em um documento tão portável quando qualquer outro em um computador. (sem jamais usar o termo técnico ?grafo social? com o usuário final).
Conclusão
Esse assunto é realmente fascinante. Eu penso que no futuro as empresas perceberão que têm muito mais a ganhar com a abertura deste tipo de dado do que a perder. O Google em especial, se leva a sério sua preocupação com o usuário e sua relação com a cultura livre, deve dar boa atenção a este assunto.
Então, o controle sobre a rede social deixará de ser o grande diferencial entre uma rede e outra, e o que vai realmente importar não será se meus amigos estão ou não neste bar, mas a qualidade do bar em si. Será possível tomar a cerveja gelada deste bar, comer os salgadinhos do outro, ouvir a música de um terceiro, tudo isso ao mesmo tempo, junto com seus amigos.
Será absolutamente fácil transportar meus contatos entre um e outro software social. Com este tipo de abertura e a competição no nível do produto em si, todos temos muito a ganhar.
Como disse Alex Iskold, do blog Read Write Web, a questão parece simples na superfície, mas há uma quantidade gigantesca de trabalho para fazer isso acontecer realmente. E este é um trabalho da comunidade de software livre que deve ter um impacto gigantesco na história da humanidade e na maneira como as pessoas se relacionarão daqui pra frente. [Webinsider]
.
Gilberto Alves Jr.
Gilberto Jr (gilbertojr@gmail.com) tem experiência no mercado digital como designer de produtos, fundador de duas startups, gerente de projetos em agências digitais e gerente de produto no Scup. Agora procura um novo desafio. Veja mais no Linkedin.
2 respostas
Artigo seminal, insider!!!
Parabéns Gilberto.