O artigo de Bruno Rodrigues (Jornalismo online: me engana que eu gosto) suscitou uma reflexão acerca das noções de emprego e trabalho, que gostaria de compartilhar com os leitores.
Trata-se de prestarmos atenção para que, em nossas análises, não estejamos com os pés no século 21 e a cabeça no século 20 ? o que pode acontecer com qualquer um de nós, com mais de quatro décadas de vida, e que nascemos e crescemos na sociedade industrial, da produção em série.
Em seu artigo, Bruno Rodrigues relata sua participação no seminário O mercado e o ensino do Jornalismo Online, no qual analisa as oportunidades de trabalho para jornalistas na web, buscando trazer para a realidade aqueles mais sonhadores ou otimistas, que consideram que vão encontrar o melhor dos mundos em sua vida profissional.
Toda sua fala, no entanto, pareceu calcada em elementos próprios do mundo do trabalho do século 20, tais como salários e vagas. À platéia de jovens adultos que o ouviu pintar um quadro entre realista e pessimista, foi sinalizado o emprego como caminho, e não o trabalho, deixando-se ali de convidar os ouvintes a entrar por uma porta que está escancarada no mundo digital.
De que mercado se está falando, afinal? Como bem define, entre muitos outros autores, Deisi Deffune e Lea Depresbiteris (Competências, habilidades e currículos de Educação Profissional, Senac, São Paulo), durante muito tempo, trabalho e emprego foram considerados sinônimos. Dizia-se que uma pessoa trabalhava quando tinha um emprego. Ter emprego significava estar ligado a uma organização, ocupar uma função claramente definida, com obrigações, horários, faixas de remuneração e de promoções, de forma padronizada. Uma realidade bastante diversa daquela que encaramos hoje.
Não se trata, aqui, de exaltar os novos contornos de nossa sociedade que, em nível mundial, vem extinguindo postos de trabalho, em uma realidade perversa na qual fica totalmente na mão do trabalhador a responsabilidade por sua formação, sua ascensão e seu futuro. Não se trata, tampouco, de se fazer uma apologia dos tempos (pós)modernos, nem de deslumbramento diante das maravilhas (ou nem tanto…) da tecnologia. Fato é que há que se ajudar as novas gerações a ver que existe um horizonte a ser explorado com a tecnologia, e fomentar entre esses jovens a noção de trabalho.
Nesses novos tempos, as oportunidades ? ou, pelo menos, a maioria delas ? não estão prontas nos esperando, onde quer que seja. Elas, hoje, mais do que nunca, podem e devem ser criadas. O contrário disso é dar inconveniente finitude ao grandioso e infinito muito da web.
É fácil? Claro que não. A batalha é árdua, mas tanto mais árdua ? e infrutífera e frustrante ? será, se buscarmos oportunidades do século 20 ? salário, emprego, estabilidade, carteira assinada ? em um mercado do século 21. Gostando-se ou não, é um caminho que não se pode ignorar e com o qual é preciso contar, se não quisermos bater de frente com a realidade, olhando em uma única direção, como cavalos que usam aqueles tapadores de olhos, quando há tanto mais para se enxergar..
Como costumo conversar com meus alunos, futuros jornalistas, é preciso estar preparado não só para conseguir uma vaga na Folha de São Paulo ou no Globonline, mas para virar expert em Prontidão para o novo. Pouco pragmático? Com certeza, mas, paradoxalmente, mais seguro ? e muito mais próximo do real. [Webinsider]
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Eliane Bardanachvili
<strong>Eliane Bardanachvili</strong> (ebardana@gmail.com) é jornalista, especializada em Educação, mestranda em Educação e Trabalho pela UFRJ, editora do <strong><a href="http://www.multirio.rj.gov.br/portal/" rel="externo">Portal MultiRio</a></strong> e professora do curso de Jornalismo da UniverCidade.
10 respostas
O meu comentário pode ser impulsivo, ou mesmo repleto de angústia. Tenho 67 anos de idade. Neste país chamado “brasil” (sim com letras minúsculas) porque não posso gostar de um país que só me trouxe angústia e outros péssimos sentimentos. Tanto que um homem com 67 anos neste país não vale mais nada! As empresa acham que só os jovens têm a energia suficiente para levar o serviço pesado em frente. Ora, os jovens estão certos quando recusam tais empregos idiotas. Eles desejam coisas novas e não a imbecilidade da exploração de seu trabalho. Bem por isto vivo minha vida em paz. Não gostaria de voltar a trabalhar, embora goste muito de fazê-lo. De qualquer maneira sei que não vou conseguir nada com vocês aí! Prefiro, pois, dormir o dia inteiro e acordar em algum lugar do espaço!!!!!!!!!!!!!!!!
Não dá para acrediar nesses blogs de araque. O que ocorre é com certeza uma enganação. A gente se esforça, luta, procura e vigia atentamente, mas as mentirosas ilusões continuam nos blogs e sites procurando um otário. Cansei de ser otário. Daqui para a frente serei um cancelador de sites e de blogs.
E tenho dito
Jeovah
Agradeço a gentileza da Sra. Fernanda Azambuja, bem como seu inteligente comentário.
Jeovah
Concordo com o senhor Jeovah que diz que só a condição de empreendedor pode salvar um profissional da selva de pedra.
Passar por empresas conceituadas no ramo jornalistico porém é um passo fundamental na busca da alforria desse mercado brutal. Uma Folha ou uma Globo são escolas que te pagam (pouco) para aprender mais. Muito mais fácil vender o seu peixe com grandes nomes no currículo do que pasmando no infinito de achidões.
Fernanda Azambuja
Ainda bem que não fiz nenhum curso de jornalismo, apesar de ser jornalista documentado. Ainda bem que não fiz nenhum curso superior e ainda assim tenho vários livros publicados e vários para serem publicados. Explico: tenho 63 anos, fui maltratado e mau pago em todas as empresas onde trabalhei. E não foram poucas. Só depois de muitos anos descobri a camelagem e virei camelô por trinta anos. Experiências exaustivas em lidar com o público em plenas ruas paulistana. Mas, não me arrependo um milímetro porque foi na condição de camelô que me reencontrei com a honra, a decência, a honestidade que as ditas empresas brasileiras não possuem. Elas enganam, mentem, pagam pouco, roubam do trabalhador suas horas extras, são máquinas espoliadoras do ser humano e muito mais o brasileiro humilde. Apesar de jornalistra não consegui emprego em nenhum jornal. Também são máquinas de explorar trabalhadores e só dão bons empregos aos amigos e aos chegadinhos deles. Assim sendo, passei a publicar de forma independente meus artigos opinativos gratuitamente. Não ganho nada e nunca ganhei trabalhando em empresas. Só passei a ganhar quando resolvi trabalhar por conta. Não existe neste país a honra que dá certo, existe a malhação, a falta de critérios ao trabalhador, seja ele varredor, porteiro, jornalista etc. A salvação do trabalhador é ele possuir a alma do empreendedor. Se houver estará salvo porque terá coragem de cair numa rua e vender como um louco seus produtos. O resto é balela. Até um escritor é repudiado neste país, caso não tenha um pistolão, ou não ser chegadinho de alguém poderoso. É o país das oportunidades desde que tenha na parentela alguém poderoso. Somos o avesso do sonho americano!
Jeovah de Moura Nunes
Awe esto a procura de 1 emprego q de apra eu trabalhar com 15 anos de idade por tamto ja tenho diproma de tecnivo de informatica e pretendo fase ciencias da informatica
se alguem poder me ajudar moro em botucatu o meu email é michael_nlg@hotmail.com
Bobrigado
!!!
Boa! Como diz aquele clichê: emprego vai acabar (setinha pra baixo), mas trabalho sempre vai ter (setinha pra cima). Estaremos falando mais sobre isso, por coincidência, lá no Digestivo.
Caramba, Eliane! Que jeito pouco elegante de abordar um tema que, na verdade, foi pego emprestado do trabalho de outro – este e sério bem fudamentado – e lhe garantiu assunto para aparecer com um texto seu no site! E a comparação com cavalo de antolhos (este é o verdadeiro nome dos tapadores de olhos, tá?) é tão indelicada quanto seria qualquer alegoria à vaca ou cachorra no retorno do autor – que, ainda bem, conseguiu ser mais elegante do que isso, mantendo a discussão em um nível razoável. Você, Eliane, que gosta tanto de citar outros, deveria saber o que diz o senso comum: quem perde a educação, perde a razão. Ou seja, podemos concordar ou discordar à vontade, mas sempre mantendo um bom nível, né?
Eliane, como você bem disse, gostando-se ou não, é um
caminho que não se pode ignorar – mas o horizonte de
trabalho não é, necessariamente, o melhor dos mundos.
Quanto a bater de frente com a realidade, olhando em uma
única direção, como cavalos que usam aqueles tapadores de
olhos, quando há tanto mais para se enxergar – comparação
infeliz, né, Eliane? – nem sempre aceitar (e enxergar) a
realidade como ela é significa que o que vemos adiante é
algo promissor, como a idéia de trabalho substituindo
emprego.
Lindo discurso para quem tem 20 anos, incômodo para os que
tem 30 e bem desagradável para o bolso dos que sustentam uma
família daí por diante – e talvez até antes.
Bruno Rodrigues
: Especialista em Informação para a Mídia Digital ::
: Autor de Webwriting – Redação & Informação para a Web ::
: Coordenador da Pós-Graduação Gestão em Marketing Digital
(DIG 1) das Faculdades Integradas Hélio Alonso (RJ) ::
Eliane,
Mais do que isso, hoje já se pode trabalhar como jornalista sem necessariamente estar ligado a nenhum grupo de mídia. Essa revolução é pessoal e intransferível.