De um lado iniciativas de marketing valorizam dados sobre seu público e investem em iniciativas que privilegiem o cadastro ? desde o simples formulário com nome, idade e sexo até fichas mais completas com a personalidade, gostos pessoais, currículo etc.
Ao mesmo tempo, a cibercultura valoriza mais a comunicação que a própria mensagem ? o importante é interagir. O usuário cria, então, um personagem virtual, um avatar que espelhe a sua individualidade, a fim de participar da sociedade.
As redes sociais concentram inúmeras informações de milhões de pessoas: preferências musicais, melhores filmes, estado civil, idade, personalidade, opção sexual, hábitos, formação profissional, fotos, vídeos e por aí vai. Tudo disponibilizado pelo próprio usuário. O sistema de filiação em comunidades completa a personalidade de forma indireta, porém satisfatória.
Nos micro-blogs o usuário coloca por livre e espontânea vontade a sua rotina ? o que está fazendo naquela hora. Na página do perfil de cada um é possível descobrir vontades, manias, desejos, hábitos e paixões.
Com informações no Orkut e no Twitter qualquer um consegue traçar o perfil de alguém. Há pessoas que até disponibilizam contatos (telefone, endereço, e-mail). Se não bastasse tantos dados pessoais, um aplicativo criado pela fusão entre o Apontador e o Maplink será integrado às redes sociais e serviços de mapas com o recurso ?onde estou? ? os usuários poderão informar onde estão naquele momento e o mapa indicará a localização quase precisa.
É praticamente um convite para ser abordado no meio da rua, à parte um pequeno problema adicional, a segurança. Uma pessoa má intencionada sabe como você é (viu sua foto no Orkut), sabe o que está fazendo (seguiu pelo Twitter) e agora sabe exatamente onde está! E quem deu as informações necessárias foi você mesmo.
Diante disso, o uso destes dados pessoais por empresas, como bancos e lojas, para criação de um cadastro de mala direta não pode ser considerado ilegal porque o próprio detentor dos dados disponibilizou o conteúdo abertamente. A financeira de cartão de crédito não precisa mais violar cadastros em bancos ou assinatura de revistas. É só entrar no Orkut que está tudo lá! Nós estamos passíveis de receber cada vez mais spam e correspondências, principalmente porque as empresas estão certas do que você gosta.
Nunca o direito à inviolabilidade da vida privada, intimidade, honra e imagem citados no art. 5º, inciso X da Constituição Federal foi tão fácil de ignorar.
Obviamente, o poder de aproximação que a criação dos perfis possibilita é notável; as pessoas têm a chance de agrupar-se em comunidades específicas, feitas sob medida (o viver em comunidades virtuais ? se são ou não anti-sociais ? é uma outra discussão que merece atenção exclusiva). O que não podemos esquecer é o fato de que qualquer um tem a possibilidade de acessá-las. A cautela não pode ser deixada de lado por modismos.
A preocupação com a violação de privacidade deu lugar ao consentimento ? a um convite sem destinatário para que sua vida seja totalmente escancarada. [Webinsider]
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Gustavo Audi
<strong>Gustavo Audi</strong> (gustavoaudi@fiocruz.br) é formado em Rádio e TV pela UFRJ, trabalha com produção de vídeo para a Fiocruz, é especialista em Mídias Digitais pela UNESA e mantém o blog <strong><a href="http://www.simplesdelembrar.wordpress.com/" rel="externo">Simples de lembrar</strong></a>.
9 respostas
Quanto mais eu consigo proteger minhas informações pessoais, mais pontos pra mim.
Não estou preocupada em quantos spams vou receber a mais ou a menos, pois vou deletá-los sem dó. Quando quero algo, eu procuro. Detesto a idéia de desconhecidos tentando criar necessidades em mim, seria puro consumismo aderir a elas.
O grande problema da Privacidade 2.0 é que a sociedade não está habituada a ela e mais: a maldade é inerente ao ser humano. Não que eu me preocupe em ser sequestrada na esquina, mas, se qdo adolescente não gostava sequer de dizer ao meu pai onde ia, quem dirá nos dias de hoje dar esta satisfação à toda a sociedade?
Sites de relacionamento nada mais são do que uma maneira de se perder tempo na vida, com relações reais. A minha foto do Orkut é a mais bonita que tenho. Não reflete a minha imagem de hoje, enquanto escrevo este comentário. As pessoas querem ser o que não são. E espiritualmente falando, pra que despertar nas pessoas um sentimento ruim como a inveja de uma vida que vc mostra, sabendo que é apenas o que vc gostaria de ser e na verdade não é?
Só quem merece saber da minha intimidade e da minha rotina é a minha mãe.
Afinal, Orkut não paga minhas contas…
Rodrigo,
Eu também achava que mesmo disponibilizando dados no Orkut, eles estariam protegidos. Mas descobri que pelo fato de ser aberto, os dados no Orkut estão automaticamente liberados (neste caso, legalmente, não há proteção ao uso deles) – peguei esta informação de um advogado especialista em direito digital (em uma aula sobre propriedade intelectual).
Quanto ao fim da privacidade, este é um movimento do iniciado e aprovado pelos próprios usuários. O cuidado não deve ser o de aderir ou não ao movimento, mas sim o de não perder o controle sobre os próprios dados. A personalização do conteúdo é fundamental, mas deve ser por opção, e não imposição.
Achei bastante interessante a discussão, e o artigo talvez um pouco exagerado. Sim, nós mesmos disponibilizamos informações nas redes sociais, mas o fato de constar meu e-mail em um site como orkut, por exemplo, não significa que ele é de domínio público.
Acho que do mesmo, modo, com lista telefônica ou sem, continuam nos importunando e tentando vender cartões de crédito. Mas o telefone não toca 24h/7
Dito isso, só não acho que é um caminho tão sem volta que daqui uns 10 anos qualquer um saberá absolutamente tudo sobre você. E prova disso é que as redes sociais estão atentas à questão da privacidade e começam a bloquear os dados dos usuários para pessoas não autorizadas, por exemplo, as fotos do orkut hoje estão abertas apenas aos amigos, entre outros dados.
Acredito que o caminho que estamos trilhando é esse. Haverá cada vez mais informações sobre nós na rede, mas teremos o controle o direito de dar a chave delas somente a quem conhecemos.
(Sim, sempre haverão hackers, mas esse é um paralelo com os bandidos que entram até nos prédios de mais alta segurança, não vale a pena ser paranóico pela questão da escala).
Agora, se alguém conseguir ser odiado por toda uma multidão, é bom começar apagando alguns dados…
Bom artigo, e boa discussão por aqui!
Abraços!!
http://peixefresco.net
Discordo da preocupação demonstrada com a privacidade.
Na real, concordo é com o título: a privacidade já caiu por terra sozinha! Caiu porque era super-estimada…
Pra que tanta privacidade? Quem sou eu para ter pessoas preocupadas em saber quem sou, onde estou e o que faço? Este risco é tão remoto quanto me escolherem aleatoriamente no meio da rua.
O mais importante é que o benefício supera em muito qualquer inconveniência, porque EU estou oferecendo minhas informações, EU estou definindo como me vejo e como quero que se comuniquem comigo.
Isso bem feito, certamente irá garantir que ao invés de qualquer spam, eu passe a receber comunicações e promoções relevantes para o meu real perfil.
Privacidade para que? Não tenho nada a esconder…
Aliás, esse fenômeno de conseguir informações de uma pessoa na net se chama Little Brother (http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Brother_%28disambiguation%29
{4º item da lista}), egosurfing (http://en.wikipedia.org/wiki/Egosurfing), enfim, só sendo paranóico agora para ter a própria segurança updateada nos dias de hoje.
Concordo com o Gustavo quando ele menciona que uso das mídias sociais – é uma evolução natural do comportamento participativo.
A forma com que nos comunicamos está mudando (já mudou) e como toda mudança, esta também gerou certo receio e desconforto.
Invasão de privacidade, não creio que seja tão intenso assim, pois as informações fornecidas para que chegassem até nós foi dada por nós mesmo. Alguma fonte mais fidedigna? (rs)
Eu mesma preenchi o cadastro, eu mesma clickei no opt-in, eu mesma twitei onde estava e o que fazia…
Eu mudei os meus hábitos, a comunicação faz parte disso e quanto aos conceitos da sociedade?
Como disse o Giovanni nos adaptar aos novos conceitos de privacidade
=)
Concordo plenamente (e defendo) a importância e o uso das mídias sociais – é uma evolução natural do comportamento participativo. Mas não devemos esquecer o mundo em que vivemos – seria utópico demais acreditar que a sociedade brasileira está inteiramente inserida na sociedade da informação. Acredito que, daqui a alguns anos, poderemos atestar a informatização do Brasil, mas, enquanto isso não acontece, o uso das TICs deve ser cauteloso (principalmente para optar pelos melhores usos – o que gerariam uma melhor aceitação por parte do usuário). A palavra-chave é equilíbrio.
Sobre a propaganda, realmente se direcionarmos melhor as mensagens o custo para a empresa seria menor, consequentemente, o produto ficaria mais barato para o consumidor. Infelizmente, não acredito nisso ? acho pouco provável que as empresas diminuam o valor de seus serviços por gastarem menos com publicidade. Sabemos também que os efeitos da propaganda na mídia são pequenos, necessitando uma quantidade grande de mensagens para haver algum retorno real (Castells, 2005). Devido a este grande número, ainda acho que o consumidor deve optar por receber ou não aquela mensagem (opt in e opt out do Guia de Boas Maneiras da ABEMD).
Torço para que o respeito e o bom senso prevaleçam nesta cultura aberta, pois eu faço questão de participar dela…
Concordo plenamente com o Giovanni acima. Lutar contra o progresso da internet é e sempre será em vão. Cabe a nós nos adaptar.
E como ele mesmo disse, as informações que disponibilizamos em redes sociais são fáceis de achar por diversos meios diferentes desse. Eu, na verdade, acho até que disponibilizar esse conteúdo (com um grau de bom senso, é claro) pode trazer mais benefícios do que malefícios. Os spams deixarão de ser spams, justamente porque estarão destinados ao meu gosto, ao meu perfil. Receberei propaganda? Sim, mas 90% delas serão de um conteúdo que combina comigo e que possa eventualmente me interessar. Além disso, grandes empresas como bancos, cartões de crédito e etc já sabem que a propaganda sem controle acaba denegrindo a imagem deles, sem trazer muitos pontos positivos. Assim, com certeza eles poderão utilizar dessas informações pessoais para fazer propaganda sim, mas com muito mais bom senso e muito mais direcionamento ao target deles.
Olá Gustavo,
Acredito que o caminho é realmente de mão única: temos que nos adaptar aos novos conceitos de privacidade (Privacidade 2.0, ha!). Ou isso ou fechamos completamente qualquer atuação na Internet, uma opção praticamente impossível para qualquer um que tenha algum tipo de atividade online. O Google eventualmente vai mostrar qual a sua opinião sobre um determinado assunto quando você se expressar em alguma página (ex, google: giazzon + privacidade vai te indicar esta página).
Os pontos preocupantes são relativos. Por exemplo, ativistas de assuntos polêmicos podem facilitar a ação de extremistas ao informar aonde vão estar em um determinado momento do dia. Ao invés dele esperar você sair de casa (informação pública) e te seguir, ele gasta menos tempo indo no horário certo aonde o mapa indica.
Grande parte das informações divulgadas nos sites sociais são de fácil acesso por outros meios. É uma exposição voluntária com efeitos colaterais e oportunidades das mais diversas, para o bem ou para o mal. Vale o bom senso no que se divulga e o quão exposto você quer estar.
Grande abraço,
Giovanni Giazzon dos Santos.