A coisa funciona mais ou menos da seguinte forma: cada instituição reúne um grupo bastante eclético de professores, cada qual com sua especialidade e com características bastante peculiares que o distingue dos demais. Dessa heterogeneidade e diversidade de pensamentos é que vem a riqueza de sua formação. Você aprende a extrair de cada mestre as melhores lições.
O outro lado da moeda é que raramente existe algum consenso quanto ao perfil de administrador que a instituição deve formar, e aí quem sai perdendo é você.
Muitas instituições, ao contratarem seus docentes, apenas lhe entregam uma caderneta, um plano de ensino feito por outro professor, explicam os procedimentos burocráticos básicos (?você deve bater o ponto até cinco minutos antes de começar a aula, deve preencher o diário de classes com o conteúdo apresentado, deve colocar exatamente um pontinho no quadradinho referente ao dia, deve fazer três avaliações por semestre, blábláblá…?), e boa noite e boa sorte. Nenhum comentário sobre a missão da instituição, ou o que eles esperam do professor.
A ausência de uma visão compartilhada acaba bagunçando todo o coreto. Os alunos ficam à mercê do perfil individual de cada professor. Às vezes, dão sorte de encontrar um professor pra frente, vocacionado, com aulas dinâmicas e ótimo conteúdo. Outras, dão o azar de topar com um profissional desmotivado, desatualizado e que não compreende a amplitude de seu papel como educador.
Falamos tanto em gestão do conhecimento, mas me responda uma coisa: o seu professor de Administração Financeira sabe o que você está vendo nas aulas de marketing?
Pois é… Parece que a comunicação não anda fluindo muito bem em boa parte dos cursos de Administração de nosso país. Ensina-se uma coisa, pratica-se outra. Mas podemos contornar esses problemas, e você pode exercer um papel importante nesse processo de mudança.
Talvez você não saiba o tipo de administrador que a sua instituição deseja que você se torne, mas VOCÊ, pelo menos, deve saber.
Primeira dica: não se restrinja, jamais, a fazer apenas ao que lhe é cobrado. É muito comum encontrarmos professores ?light?, que não exigem o suficiente e são condescendentes com os alunos. A turma adora, não aprende nada e acaba passando com nota boa. Na verdade, desperdiçam uma ótima oportunidade para adquirir conhecimento e desenvolver competências.
Administração, no geral, é um curso fácil, enquanto que administrar é extremamente complicado. Se você não aproveitar a faculdade para desenvolver realmente as habilidades que um administrador precisa ter, terá dificuldades para ingressar no mercado posteriormente ou dar respostas na organização que vier a trabalhar.
Apresentar um trabalho em grupo, por exemplo, é uma oportunidade ímpar para aprimorar sua capacidade de comunicação, trabalhar em equipe, exercer liderança e de superar expectativas. Administradores são obrigados a fazer isso o tempo o todo.
Segundo: aproveite todas as oportunidades que a instituição oferece. A coisa não se restringe à sala de aula. Muitas instituições oferecem programas de iniciação científica e de monitoria, por exemplo. O aluno que participa dessas atividades aprende a pesquisar, escrever, fica mais inteligente e, acredite, isso conta pontos lá na frente, depois da faculdade.
Terceiro: participe de uma empresa júnior. Essa é a melhor forma de aprender na prática tudo aquilo que um administrador precisa saber. Acompanho de perto o trabalho de muitas empresas juniores e, devo admitir, muitas delas não deixam nada a desejar às empresas de consultoria profissionais. Normalmente, os participantes de uma empresa júnior têm carreiras brilhantes, pois já saem da faculdade com experiência, auto-confiança e com uma bela rede de contatos.
Quarto: leia bastante. Faça da leitura um hábito. É um erro pensar que apenas praticando é que se aprende. Essa é uma meia verdade. Você deve ter um excelente embasamento teórico e saber aplicá-lo na prática.
Quinto: corra, Lola, corra! Procure formas de se aprimorar sempre. Faça cursos de extensão, aproveite seus fins de semana para aprender algo novo, viaje e, por favor, não esqueça de aprender outros idiomas. Inglês é fundamental, mas saber outras línguas além dessa, com certeza, irá lhe abrir mais portas.
Sexto: seja legal. Já escutei algumas vezes em sala de aula algum aluno falar que ali são ?todos concorrentes?, pois irão competir por um lugar ao sol mais na frente. Besteira. Sei que o mundo é extremamente competitivo, mas as pessoas cooperativas são muito mais queridas – e acabam levando vantagem sobre os individualistas e mesquinhos. Inclusive, algumas organizações, como o Google, já aplicam diversas técnicas em seus processos de seleção para identificar ? e descartar ? os malas de plantão.
Por fim, lidere movimentos de mudança em sua instituição. Não fique esperando melhorias do tipo top-down (de cima para baixo). Muitas instituições de ensino estão apenas enroscadas no catatau de processos burocráticos que criaram ao longo dos anos. Os paradigmas estão aí para serem quebrados. Lembre-se de que você é parte da instituição.
No fim das contas, você, os seus professores, coordenadores e diretores, estão no mesmo barco. Qualquer um pode dar sua contribuição e deixar seu legado. Foi-se o tempo em que as melhores estratégias saíam apenas das cabeças do presidente ou dos membros iluminados do conselho.
Muitas das grandes idéias que revolucionaram o mundo partiram de pessoas envolvidas diretamente com o processo. Se você consegue identificar falhas e ? o mais importante ? consegue enxergar soluções para os problemas identificados, você pode ser um importante agente de mudança. Todo mundo irá ganhar com isso, inclusive você.
Pronto para começar? [Webinsider]
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8 respostas
Meus parabéns!!!
Excelente artigo, com diversas verdades que precisam ser ditas.
Gostaria que todos que chegam às minhas equipes tivessem esta filosofia e mentalidade.
Que todos os estudantes tenham a oportunidade de ouvir isso enquanto estão na faculdade.
Abraços, Fred,
Caro Leandro,
Gostei de seu artigo. Reflexivo e provocativo. Excetuando as universidades que se esforçam e trabalham duro para um ensino de qualidade, sabemos que muitas IES ainda não acordaram para a nova sociedade que desponta, a do conhecimento – nesta, a questão é aprender a aprender, pois o conhecimento se transmuta/trasforma com muita rapidez e o que se aprende, por um tempo, deixar de valer da forma que se quer. Sugiro a todos que não fiquem só no papel (nesta mídia eletrônica). Façam HISTÓRIA… levem este assunto adiante – transformem em um Fórum, para que a partir daí se faça um seminário, com mesas redondas, para se discutir e CONSTRUIR PROPOSTAS CONCRETAS, UM PLANO DE FORMAÇÃO DE ADMINISTRADORES alinhado a uma VISÃO de Brasil que queremos. Vamos dar um recado as instituições trabalhando com as mãos na massa: saindo das idéias para a prática… Afinal, Administração, também, é muita prática, não é mesmo?!
Grande abraço a todos
Logo que esse artigo fio publicado no http://www.administradores.com.br/, imprimi várias cópias, olha que coisa demode!, e distribui na minha classe… Não vou dizer que a repercução foi ZERO, não tenho visão olímpica, é bem provável que alguem tenha sido minimamente incomodado na sua zona de conforto, mas só um colega veio trocar-uma-idéia sobre o texto. Embora minha faculdade não seja de grife ou de ponta, a considero bem estruturada. O corpo dicente parece como aquela ilustração do livro Cuidado escola, onde o aluno é representado por uma grande orelha e o coprpo docente uma grande boca. Há pouca contestação e muita reinvidicação para conteúdo papinha, é só engolir, nem precisa mastigar. Quando esse aluno bebê vai pleitear um vaga, me desculpe o pessoal de RH, a condição é sim de igual-para-igual, ou de desigual-para-igual.
Caro Leandro, fico muito feliz quando alguém mostra a realidade das instituições de ensino, pois, sou formado em administração e se dependesse da faculdade eu me formaria sem saber como abrir uma empresa!
Tentei algumas vezes colocar em prática umas idéias de competitividade e conhecimento dentro da instituição, mas fui ridicularizado.
Quando mandei um programa para o dia do administrador, onde seria uma competição entre turmas e que cada uma deveria pelo menos mostrar no papel a criação de uma empresa desde o início, não fui aceito. E pra minha felicidade na outra semana foi a prova do programa Aprendiz 3.
Ou seja, as instituições não aceitam propostas de conhecimento e crescimento dos alunos.
Grato.
Na realidade temos vindo a ver isto no maeu pais (Angola) é muito elucidativo: obrigado
Leandro, parabéns pelo artigo. A única observação que eu faria é que é uma carta aberta a todos os estudantes e não só aos de administração.
Infelizmente a grande parte das instituições de ensino estão preocupadas apenas em transferir conhecimento técnico e não em ensinar como esse conhecimento pode ser realmente aplicado, combinado e contextualizado.
Ótimo artigo!
Como Almir falou ilustra com clareza as realidades das universidades e também de praticamente todos os cursos, não só o de administração, o que é uma pena.
Parabéns pelo artigo 🙂
Parabéns,
Belo artigo e ilustra com clareza as realidades das universidades e as ações que devem ser tomadas pelos estudantes.
Novamente, parabéns!