Por que o jornalista tem dificuldades para blogar?

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O jornalista não se adapta à web porque está submetido a um mercado profissional que favorece a especialização técnica, não enxerga valor na prática do relacionamento e promove a anulação da personalidade do profissional.

Esse é o resumo do que eu falei em uma entrevista gravada há umas duas semanas, a pedido da jornalista Patrícia Santos, para ela usar em um trabalho de conclusão de curso do Knight Center da Universidade do Texas, sobre o papel do jornalista nesse novo cenário da comunicação trazido pela internet.

Provavelmente por me sentir à vontade para falar, soltei a seguinte frase em algum ponto da gravação: Clovis Rossi é blogueiro sem ter blog. Minha interlocutora, inteirada dos debates sobre o assunto, protestou: Mas e a conversa? Ela se referia à interlocução, característica diferenciadora do profissional que produz conteúdo horizontalmente, dialogando com seus pares, em relação àquele que ocupa o topo da cadeia produtiva da comunicação: a empresa de notícias.

A conversa acontece, eu respondi, mas nos corredores, nos elevadores, pelo telefone. Na prática, o trabalho do Clóvis é muito mais próximo do do blogueiro que do jornalista das redações. Pelo menos na maneira como o jornalista e blogueiro Renato Cruz entende a diferença entre essas duas atividades: uma produz informação e a outra, opinião.

O dilema é que ao mesmo tempo em que os horizontes profissionais e as oportunidades se expandiram para quem trabalha com comunicação, o jornalista resiste à mudança, despreza o blogueiro pelo amadorismo e usa a internet como uma amante secreta, fonte não creditada de muitas idéias, argumentos e pautas.

Falando descompromissadamente com a Patrícia, me dei conta que tinha algumas reflexões mais ou menos organizadas sobre esse assunto, resultado de leituras, vivências e conversas com profissionais da comunicação, tanto os que continuam fiéis ao offline como os que, por necessidade ou interesse, se arriscam pelos caminhos ainda incertos do mercado de trabalho online.

Elas não foram desenvolvidas em um estudo formal, testadas cientificamente e nem estão conscientemente alinhadas com uma ou outra corrente de pensamento, mas são importantes para mim e quero compartilhá-las com quem se interessa pelo assunto.

[Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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2 respostas

  1. Pingback: Dicas de 4.9.2008 a 24.9.2008 | Livros e afins
  2. Olá!

    Sou jornalista e tenho um blog há 1 ANO. Concordo que a maioria dos colegas de profissão ainda tem resistência a essa nova proposta de comunicação, tanto na parte de produção de conteúdo, como na parte de divulgação do blog.

    Existem jornalistas que sabem blogar e ainda conseguem informar de uma maneira mais dinâmica, empreendedora e opinativa. Creio que o maior desafio do jornalista é sair do pedestal que a redação o colocou durante décadas: nós não somos mais a fonte de informação, mas sim organizadores de conteúdo.

    Quando o jornalista blogueiro começa a ter consciência da atividade de organizador de conteúdo e formador de opinião, por meio de suas análises, o blogue ganha vida. Ser jornalista e blogueiro é um aprendizado único que não deve ser menosprezado. Falta mais empreendedorismo no jornalismo, principalmente na condução da sua carreira no mundo online.

    Claro, vc tocou num ponto chave: existem jornalistas famosos que fazem um gilete press nos posts do blog, copiando notícias de grandes portais, ou simplesmente colocando vários links. Isso não é jornalismo no blog, é clipping. O leitor que ver conteúdo original e opinião nos blogs. É preciso que, antes de tudo, jornalistas, blogueiros e webmasters, comecem a ver o blog como um veículo de comunicação, cujo leitor mereça ser respeitado por ter dedicado tempo a essa leitura.

    Abraço,

    —————————–
    http://cafecomnoticias.blogspot.com

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