Quando nossa inspiração é uma beleza desconhecida

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Escrevi um poema para falar sobre um sentimento que penso que permeia todo o nosso trabalho. Tenho estado em muitas conferências sobre internet e publicidade e tecnologia e percebo que há um sentimento no ar, um tipo de consciência coletiva, um espírito do tempo que eu só consegui expressar neste poema.

Beleza Desconhecida

Uma moça caminhando
Arruma o cabelo, a roupa
Rebola discreta
É bela e sabe
Qualquer um sabe

Beleza default
Beleza imagem
Beleza nenhuma

Fashion-Faccismo
Formas de Platão
De plástico no prato

A beleza desconhecida
No além, como a morte
Não se reconhece bela
Não é reconhecida bela

Quando percebida
Enquanto ando
Causa espanto

É a única beleza possível
Indisponível nos catálogos
Nos supermercados
Nas passarelas.
Elas passam
Invisivelmente

Única beleza:
Desconhecida
Além, como a morte
E quando a conhecemos
Ela morre

Mas acho que posso explicar um pouco mais.

Conferências são todas iguais. Podem até ser chiques, ser feitas em hotéis bacanas, ter palestrantes ilustres: beleza defaut. No imasters Intercon deste ano pudemos experimentar dois palestrantes ao mesmo tempo e a audiência zapeando entre eles: beleza desconhecida.

Além disso, palestras sobre um mesmo assunto que não se repetiam, mas se complementavam, como se houvesse um maestro por trás de tudo. E havia. Vimos o Luli Radfaher chorando, estávamos emocionados também. É o que a beleza desconhecida nos causa.

Vimos o “protesto” do Marco Gomes contra essa maneira antiga de se fazer publicidade digital, distraindo e interrompendo o usuário do conteúdo que lhe interessa. E vemos, numa foto da Gisele Bundchen carregando um Macbook no colo e um Converse nos pés, se abrir uma caixinha com publicidade relevante. Beleza!

No evento NBC, Russel Davis pediu para a audiência fazer uma montagem que ficasse em pé com fios de macarrão cru, fita adesiva, fio dental e um marshmellow.

De aproximadamente 100 pessoas que trabalham com publicidade, só um dos grupos de quatro pessoas conseguiu a façanha. Depois ele mostrou que quando se faz a mesma experiência com crianças, menores de oito anos, elas sempre conseguem construir montagens incríveis. Uma delas fez um dinossauro.

As crianças não aprenderam ainda a reproduzir a beleza default, não conhecem as fórmulas, não sabem planejar, elas fazem e aprendem fazendo.

Quando a agência de Russel pegou a conta da Honda, todos os anúncios de carros eram bonitos, igualmente bonitos, todos iguais. Eles fizeram um anúncio escrito em uma banana, sem o carro aparecendo. Fizeram outras experiências também.

Uma delas é aquele anúncio no qual peças desmontadas do carro vão batendo e acionando umas às outras como uma pilha de dominó. Não conheço uma pessoa que não tenha se espantado com este filme quando o viu pela primeira vez.

“Quando fazemos algo que dá muito certo, é muito difícil não se repetir”, ele disse. É verdade. Assim que a beleza desconhecida é conhecida, deixa de ser desconhecida, passa a ser banal.

Ano que vem, se a Intercon não tiver nenhuma novidade além dos palestrantes múltiplos e a possibilidade de zapear entre eles, não vai ter a menor graça.

O problema é que se a beleza é desconhecida, não sabemos como atingi-la. Nos lançamos então simplesmente ao desconhecido. Às vezes saem coisas feias, bem feias. Mas os fracassos deste caminho são muito mais louváveis do que a mera reprodução das formulinhas batidas.

Estive na conferência de software livre no mês passado. Vi quanta coisa interessante está sendo feita por aí. O Brasil não tem condições de competir no mercado mundial de tecnologia com mão de obra barata, como podem os indianos. Nem com o poder de investimento e infra-estrutura como os estadunidenses. O Brasil só pode competir fazendo o que sabe fazer muito bem: a beleza desconhecida.

Veja quantos sites e aplicativos, web 2.0 principalmente, temos no Brasil que são copiados de acertos lá de fora. Quantos deles se tornaram sucesso, seja em termos de audiência ou de negócio ou qualquer coisa? O nosso Videolog, no entanto, foi o primeiro site de compartilhamento de vídeos do mundo e é um grande sucesso.

É claro que às vezes, a maioria das vezes na verdade, não podemos fazer qualquer coisa senão repetir a mesma ladainha técnica-teórica de sempre. Não me tomem por um romântico, estou falando de uma utopia.

Mas são as utopias, aquilo que não está aqui ainda mas que estamos buscando, aquilo que já existe nos nossos sonhos, é isso que nos move, que nos faz ir adiante, em direção à beleza desconhecida. [Webinsider]

.

Gilberto Jr (gilbertojr@gmail.com) tem experiência no mercado digital como designer de produtos, fundador de duas startups, gerente de projetos em agências digitais e gerente de produto no Scup. Agora procura um novo desafio. Veja mais no Linkedin.

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5 respostas

  1. Ele foi usando o verbo e as coisas foram aparecendo ai Ele olhava e via que era bom!era tudo novidade? depois soprou vida no barro e passou a conviver com ele depois fez uma companhia para seu companheiro e esses dois sairam por ai vivendo,curtindo e descobrindo coisas é uma serra pelada que não se esgota imprecionante!

  2. Gilberto,

    É por isso que a inventividade é algo mais que necessário – deixar o óbvio de lado e correr descalço sobre um caminho desconhecido.

    Aliás são essas ousadias que fazem o mundo ir para frente, afinal daquilo que é conhecido já sabemos todas as respostas.

    Um super abraço,

    .faso

  3. Quem barra nossa capacidade de inovação e criação é o próprio cliente, somente aceita prazos curtos e não aprova trabalhos inovadores.

    A inovação acontece realmente se faz algo para vc mesmo.

    Infelizmente vislumbrar a beleza desconhecida não é para todos, talvez para muitos não seja nem beleza.

  4. A beleza esta dentro de cada um de nós, infra-estrutura temos, precisamos de mais motivação, o cliente pede uma peça para uma semana, depois leva 2 semanas para aprovar! acho que isso resumo nossa motivação em criar e se diferenciar.

    Abraço e Boa sorte.

  5. Interesante sua linha de pensamento, pois ultimamente tenho refletido sobre este assunto e me questionado quando iremos deixar de valorizar a beleza default (o que todos fazem e copiam) e passaremos a valorizar o está escondido a sete chaves, nos porões da vida e que as vezes está ao nosso lado e não percebemos, porque não seguirem os padrões existentes.

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