Embora todos saibam da necessidade da regulamentação da profissão de TI como um todo, pela qual venho esforçando-me na medida do impossível, chega uma hora que todos nós precisamos trabalhar ?de verdade? ou empregar mão-de-obra. E a questão que surge é: qual a melhor forma de contratar alguém?
O freelance cresce absurdamente na área de TI. Algo que era para ser uma modalidade de contratação para uma rápida empreitada, de não mais de três meses, passa a ser a regra nas contratações de tecnologia. Conheço pessoas que são ?freelancers? há anos em empresas, cumprindo horários, recebendo ordens e remunerados para isso…
Mas por que o ?freela? é a onda da vez?
Inicialmente, não se deve confundir freela com empresa/firma individual ou informal.
O empresário individual é pessoa jurídica com CNPJ, mas que não pode adotar uma denominação como ?XPTO Sistemas?, tendo que usar firma, ou seja, o nome da pessoa física do empresário, como ?José da Silva ? firma individual?.
Já o informal é aquele que presta o serviço, enfia o dinheiro no bolso e dane-se – sem impostos, sem previdência, sem recolhimentos, sem encargos, ou seja, o que pensa só no ?hoje?, assumindo correr riscos legais de ser ilegal. Um dia a casa cai com 100% de multa, se tiver que explicar carro importado e apartamento na praia sendo um desempregado ou sem contratos.
Existe também o ?informal quebrantado?, aquele que toma emprestado notas de outras empresas e que sempre vai ser contratado para o ?servicinhos?, deixando os grandes para os que têm condições de se constituir legalmente.
Emprestar nota é crime contra a ordem tributária.
O freelancer se enquadra na legislação brasileira na modalidade de trabalho autônomo. Segundo a Lei 8212/1991, trabalhador autônomo é a pessoa física que exerce por conta própria atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não.
Isso mesmo, sem patrão, sem horário, sem salário, mas obedecendo preceitos e recebendo uma remuneração pela atividade. O freelancer também não se vincula ao local de trabalho e pode trabalhar em casa, na praia, no shopping. Enfim, o freela é independente e a princípio não tem exclusividade com um cliente. A aparente maravilha não é bem assim…
Não deve ser novidade aos leitores, mas o custo e o risco de um freela legal em uma empresa é maior. Este profissional pode emitir nota fiscal ou recibo de profissional autônomo (as famosas RPAs), cujos encargos são maiores do que o de uma pessoa jurídica prestadora de serviços (PJ).
O contratante tem que arcar com o Imposto de Renda do freela, na fonte; igualmente deve recolher 11% de INSS (a época da elaboração deste artigo). Já o freela deve ter um PIS e um cadastro na Prefeitura, arcando com o ISS (Imposto sobre Serviços), por nota ou presumidamente.
Moral da história: você é chamado para um serviço, a empresa pergunta se tem nota e você diz que sim! Na hora de apresentar, dá uma de ?João-sem-braço? e boom! A empresa recebe uma pancada para pagar.
E se não recolher? Pode ser multada futuramente. E se recolher os encargos a menos achando que o freela era um PJ? Se o leão pegar, vai ter que realizar retificação de Imposto de Renda na fonte e ainda pagar uma multinha.
Moral da história dois: a empresa vai pagar por seu serviço, mas será o primeiro e o último serviço que você presta a ela.
Para o empregado, acontece das empresas contratarem freelas e simplesmente ?esquecerem-se? ou assumirem os riscos da multa pelo não recolhimento do INSS (?espertices brasileiras?). E então, naquela hora crítica da vida em que você mais precisar receber seu benefício previdenciário… Como diria o padre e sábio filósofo Quevedo: ?Isto non ecziste!?
Assim como você é independente agora, deverá ser independente no futuro, sabendo que não terá direito a férias, 13º, FGTS, vale transporte, vale refeição, plano de saúde e demais benefícios trabalhistas de um trabalhador vinculado. Por outro lado, é livre e pode contratar o número de clientes que sua capacidade física, temporal e mental suportar.
E por falar em benefícios trabalhistas, o freela é mais caro que um PJ para um serviço, mas para algumas empresas não é mais caro do que um empregado registrado e vinculado a ela e que a qualquer momento pode ingressar com uma reclamação trabalhista parruda…
Pensando assim, adivinhe o que alguns clarividentes fazem?
Simples: vamos mandar todos os caras da TI embora e fazer uma proposta indecente do tipo: ?A empresa passa por problemas, quem quiser continuar e suar a camisa terá que aceitar ser freela. Ou seja, desligamos todos e contratamos de novo. Tudo fica praticamente como antes…? Revoltante?
É, você não é obrigado a saber de leis. Mas o espertalhão agora tem uma equipe praticamente composta de trabalhadores vinculados, mas legalmente são freelancers, a um custo e risco mais baixos.
Existem empresas e ?empresas? e para o contratante honesto é preciso dizer também que existem freelas e ?freelas?. Cuidados são necessários. O primeiro deles é atentar para que da relação não se crie um vínculo de natureza trabalhista. Se o freela prova que cumpria horário pontualmente, era insubstituível, tinha superior hierárquico e recebia para isso, pronto. É o suficiente para a justiça declarar que de freela ele não tinha nada: ele era é empregado!
O contratante deve sempre respeitar o objeto do contrato do freela, sem solicitar ou permitir que o freela faça nada além disso (e como tem freela que faz mais do que deve só pra depois ingressar com uma reclamação trabalhista!). É interessante também formalizar um contrato, com cláusula expressa de ausência de vínculo e exigência de inscrição no Cadastro de Contribuintes do freela, bem como comprovação de regularidade tributária (de que está pagando os impostos).
Enfim, o freela deve ser entendido como um ?meio-termo? entre o ?empregado? que não tem condições de estruturar uma atividade empreendedora e o ?empresário?, pessoa jurídica, que pode arcar com o ônus de um negócio próprio.
Lembre-se, freela não é PJ, mas sim uma modalidade legal de se trabalhar profissionalmente e dentro da lei. Embora mais oneroso às empresas, pode ser uma alternativa a uma grande parcela de pessoas da área de TI. No entanto, como toda modalidade de trabalho, tem seus prós e contras, que devem ser analisados e sopesados com cautela em cada caso, tanto por parte do profissional, como por parte do tomador dos serviços.
Ao trabalho, fique esperto e faça um seguro de vida! [Webinsider]
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José Antonio Milagre
José Antonio Milagre (@periciadigital) é Perito e Advogado especializado em Tecnologia da Informação. Site: www.legaltech.com.br.
5 respostas
Acho que hoje em dia a contratação de forma correta de freelancers é necessária. Como diz no post, trabalhos de curta duração. Perfeito e funciona!
Vale lembrar, no entanto, que QUALQUER forma de contratação onde o colaborador fica as 8hs por dia, dentro da empresa, recebe ordens, tira X dias por ano de folga (férias), recebe na sua conta pessoal todos os meses da mesma empresa sempre nas mesmas datas, etc, etc, etc isto é sim vínculo empregatício.
E isso é para o freelancer e para o PJ. Isso mesmo o PJ. A lei é muito clara nesse sentido. Não estou dizendo que aquele técnico que vai de vez em quando na empresa para dar suporte no servidor não pode ser um PJ, claro que pode. Mas de maneira geral tem vários profissionais da TI que trabalham como PJ e (teóricamente) não poderiam.
Mas… é aquela coisa. Se não for assim não vai ter emprego para a maioria. A gente dança conforme a música não é?
Muito bom o artigo. Aqui na empresa eventualmente contratamos profissionais autônomos para serviços de curta duração e sua explicação condiz muito com nossa realidade.
Abraço,
Luciano Ayres
http://blog.lucianoayres.com.br
Gostei Muito do Texto…
aprecio sempre os artigos do Milagre :´D
Acho que estou tomando o cano na Agência em que trabalho… rs… Abriu meus olhos.
Engraçado que a desculpa sempre são os encargos trabalhistas né? Concordo que o governo ferra bonito com os empregadores fazendo seu funcionário custar o dobro do salário pago para ele… mas não coloquem só a culpa no encargo trabalhista. Se não pode contratar, não contrate. Arrume um pj ou um freela e faça um contrato decente e não nas coxas como muitos que ja vi por ai. Nessas condições é dar brecha pro esperto enfiar um processo guela a baixo do empregador.
1) O problema de contratação do Brasil chama-se imposto. Temos uma carga tributária que praticamente pune o empregador. Logicamente, isto reduz a quantidade de contratação.
2) Lei extremamente engessada, que não permite nem um pouco de flexibilidade. Para nenhum dos dois lados. Estamos vendo isto agora com a crise que as empresas não querem demitir mas também não podem modificar muito o contrato de trabalho. Assim, vão acabar por demitir mesmo.
3) NENHUM ou quase nenhum contrato de prestação de serviço que bater na mão de um juiz vai ser levado em conta. Já li casos de pessoas que contrataram seguranças, garçons por uma ou duas noites e depois tiveram um trabalho do cão (e coloque ai também, tempo e dinheiro) para provar que eles não haviam empregado e sim contratado um serviço sem nenhuma natureza empregatícia. Assim, os juizes precisam deixar de ser socialistas / comunistas e mais realistas, visto que acabam por criar transtornos desnecessários e sem assumir o custo que isto implicou.