O gênio da lâmpada e a comunicação dirigida

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

A era da comunicação de massa já era.

Basta ver que termos como “horário nobre” perderam toda a sua nobreza com a evolução das mídias fragmentadas – como internet e celular – em que as pessoas são impactadas a qualquer hora, de qualquer lugar. Assim, o “um por todos” cada vez mais dará lugar ao “todos por um”, fazendo com que ações “focais” se tornem – em tempos de crise – tão importantes quanto as virais. E muito mais rentáveis.

Afinal, o poder passou de uma vez por todas para as mãos do consumidor, cada vez menos receptivo às publicidades “tradicionais”. Ele agora quer interagir com a mensagem, alterar o conteúdo, fazer sua própria versão e convidar os amigos para ver o resultado. Deixou de ser apenas um número nos relatórios de audiência para ter nome e endereço completos. E sentindo sua importância crescer, muitas vezes ousa até desafiar as próprias marcas.

Fico imaginando, por exemplo, como seria a receptividade ao gênio da lâmpada nos dias de hoje. O “consumidor moderno” provavelmente duvidaria bastante da tal mega oferta dos três pedidos. E, principalmente, teria uma imensa dificuldade para engolir aquele discurso genérico padrão – já que, hoje em dia, cada consumidor pode responder aos estímulos de uma forma diferente.

Acho que seria mais ou menos assim:

1. O desafiador

– Nossa, é o que eu estou pensando? Deixa eu esfregar esse troço pra ver se…

– Ó meu amo! Obrigado por me libertar!

– Não acredito! É o gênio da lâmpada!!!

– Eu mesmo, ó meu novo senhor! E em retribuição por ter me libertado de séculos de sofrimento, concedo-lhe o direito de fazer três pedidos, ó meu amo.

– Jura? De verdade???

– Sim, ó meu novo amo e senhor.

– Então, antes de mais nada, me esclarece uma dúvida: por que te chamam de “gênio da lâmpada” se esse troço de onde você sai não tem nada a ver com uma lâmpada?

– Bom, ó meu amo e senhor… na época em que fui aprisionado, ainda iluminavam os cômodos dos palácios com recipientes assim cheios de óleo incandescente?

– Sorte sua: com essa barriguinha aí, você ia sofrer muito mais pra entrar em uma lâmpada incandescente dos dias de hoje… Isso se não te obrigassem a entrar em uma fluorescente?

– Mas, graças ao meu novo amo e senhor, eu?

– Primeiro pedido: para de me chamar assim. Pode ser?

– Pedido concedido, ó meu brou.

– Isso, bem melhor assim. Agora me esclarece uma outra dúvida: e se eu pedir algo impossível de ser realizado?

– Eu farei o possível e o impossível para poder lhe retribuir o favor, ó meu nego.

– E se for um pedido que você não pode realizar de jeito nenhum?

– Eu posso realizar qualquer pedido, ó meu chapa.

– Ah é?

– Hum-hum.

– Então agora eu quero ver: desejo saber quantos anos tem a Glória Maria.

2. O capitalista

– Três desejos? Posso pedir qualquer coisa, né?

– Sim, ó meu novo amo e senhor.

– Então vamos lá, sem perder tempo. Pedido nº 1: quero que o meu número de pedidos seja multiplicado por 1 milhão.

– Mas, meu amo… Apesar de ser eternamente grato ao senhor, poderei realizar somente três deles.

– Tudo bem, sem problemas. Realiza esse meu desejo então?

– Desejo realizado, ó meu novo amo e senhor.

– Perfeito. Pedido nº 2: quero que todos os meus pedidos sejam realizados em dobro.

– Mas, meu amo… não sei se…

– Não pode qualquer coisa? Não é isso que tá no contrato?

– Sim meu amo, mas?

– Então, não tem o que discutir. Pode realizar, senão te processo.

– Está certo. Desejo realizado, ó meu novo amo e senhor.

– Falta mais um, né? Vamos lá: desejo que, a partir de hoje, eu passe a ocupar o seu lugar.

– Mas, meu amo? aí o que seria de mim?

– Não se preocupe. Você passa a trabalhar como meu assistente e, em troca, te dou 10% dos pedidos realizados. Fechado?

3. O economista

– Só três pedidos?

– Sim, ó meu novo amo e senhor.

– Eu não posso parcelar em mais vezes?

– Creio que não, ó meu novo amo e senhor.

– Mas quando esse valor vai ser reajustado?

– Temo que não haverá reajustes, ó meu novo amo e senhor.

– Hmmm, entendi? Política de contenção de gastos, né?

– Mas o senhor pode pedir o que quiser, e farei de tudo para realizar qualquer um de seus desejos, ó meu novo amo e senhor.

– Então posso gastar só um pedido agora e guardar os outros dois?

– Bom, geralmente eu costumo realizar todos os pedidos de uma vez só, ó meu novo amo e senhor?

– Mas eu preferia estudar melhor o mercado de desejos antes? Analisar todos os riscos com calma, e fazer um estudo mais apurado, sabe? É que você me pegou meio desprevenido?

– Tudo bem, ó meu novo amo e senhor. Se esse é o seu desejo, assim será: faça um pedido agora e realizarei os outros dois quando o senhor assim desejar.

– Legal! Posso pedir?

– Sim, ó meu novo amo e senhor.

– Desejo passar um dia dentro da cabeça do Barack Obama.

4. O desconfiado

– Por que três pedidos? O que eu fiz pra merecer isso?

– Me libertou de uma maldição que me obrigou a passar séculos preso dentro dessa lâmpada, ó meu novo amo e senhor.

– Lâmpada? Que lâmpada? Eu só dei uma chacoalhadinha nesse suporte de molho de salada para ver se ele ainda tava cheio…

– Mas esse seu gesto acabou com minha interminável agonia, e agora me sinto obrigado a retribuí-lo, ó meu novo amo e senhor.

– Que papinho mais estranho esse, hein? Me chamando de “amo”, querendo me agradar… O que você tá querendo em troca, hein?

– Não quero nada. Quero apenas realizar três dos seus desejos como forma de gratidão por ter me livrado dessa maldição, ó meu novo amo e senhor.

– Isso tá me cheirando a golpe… Quando a esmola é muita…

– O que eu posso fazer para provar que desejo apenas gratificá-lo, ó meu novo amo e senhor?

– Você jura POR DEUS que não vai pedir nada em troca? Jura?

– Posso jurar por Alá, ó meu novo amo e senhor.

– Então ajoelha aqui na minha frente e jura.

– Mas, meu amo… eu não tenho pernas.

– Sabia! Impostor sempre tem umas desculpinhas esfarrapadas.

5. O sádico

– Ó meu novo amo e senhor! Em retribuição por ter me libertado de uma maldição que me condenara a séculos de sofrimento, concedo-lhe o direito de realizar três desejos.

– Três? Precisa não. Um só já é suficiente.

– Como quiser, meu novo amo e senhor. E qual seria esse desejo?

– Quero que você volte lá pra dentro.

6. A masoquista

– Ó minha nova ama e senhora! Em retribuição por ter me libertado de séculos de aprisionamento, concedo-lhe o direito de realizar três desejos.

– Muito obrigada querido, mas só quero uma coisinha simples?

– Assim como desejar, ó minha nova ama e senhora. E qual seria esse único pedido?

– Me bate!

Ou seja, brincadeiras à parte, a marca que não fizer comunicações dirigidas para cada um de seus públicos estará condenada à pior das maldições: ficar esquecida para sempre.

E não precisa ser nenhum gênio para chegar a essa conclusão. [Webinsider]

.

Avatar de Eco Moliterno

Eco Moliterno é publicitário.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

4 respostas

  1. é… o mesmo produto(os 3 desejos) mudando a abordagem, já que todos em comum precisaram dos desejos. o marketing para cada perfil.

  2. O gênio ficou 10000 anos aprisionado por um problema grave de usabilidade…

    No lugar de esfregar, a lãmpada tinha um botão vermelho com o texto Click Here que ficava piscando.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *