Hoje é a estreia mundial do remake de Sexta-feira 13 (Friday the 13th, EUA, 2009), cujo original é de 1980 e, para quem não lembra, Jason nem aparece. O personagem surge apenas no segundo filme, de 1981.
A releitura de 2009 sobre Jason Voorhees inclui passagens dos quatro primeiros filmes da franquia e poderia ser apenas mais uma estreia qualquer do final de semana, a exemplo de tantas outras. Mas, não é.
Não pela proposital e previsível coincidência de datas, já que hoje é realmente sexta-feira 13. Enquanto a indústria de entretenimento e os estúdios de cinema se afogam em discussões inócuas sobre os prejuízos ?milionários? causados pelo download de filmes na internet, Sexta-feira 13 é a recorrente prova de que esse discurso só convence os ingênuos e os executivos de uma era jurássica onde internet é novidade e banda larga é luxo para poucos.
Merece reflexão a estratégia do estúdio Platinum Dunes – a distribuidora é a New Line/Paramount – em relação ao filme. Até esta sexta-feira, praticamente ninguém conseguiu assistir ao filme antes do lançamento oficial. Muito menos baixar da internet.
Os primeiros votos no Internet Movie Database (IMDB) só começaram a aparecer na madrugada do dia 12 para o dia 13, embora Sexta-Feira 13 tenha estreado no dia 11 em dois países, Bélgica e França. Em outros sete países, por conta do fuso horário ou pormenores de programação, a estreia ocorreu no dia 12. Caso de Argentina e Portugal, por exemplo. Brasil e o restante da maioria ficaram para o programado dia 13. (uma pequena lista de países só poderá conferir nos meses seguintes, março e abril)
O IMDB é o maior e mais crível termômetro do gosto da audiência mundial, não apenas pela monstruosa base de dados, mas sobretudo pela referência ímpar. O segundo termômetro, tão crível quanto, é o torrent.
Quem procurou por Sexta-Feira 13 em torrent, só encontrou as versões sem cortes e os relançamentos do filme original de 1980 e suas continuações. Até o dia 12, o filme simplesmente não existia na rede, à exceção de um ou dois links meio fantasmas e não conferidos. Nem mesmo naquelas versões horríveis filmadas dentro da sala de cinema, com câmeras mini-DV ou celular.
É um caso praticamente inédito para filmes americanos do circuitão. As filmagens caseiras se tornaram quase uma obrigação nos Estados Unidos, sobretudo para as produções bastante aguardadas ou conhecidas. A cópia do DVD pode até demorar no torrent, mas as reproduções de dentro da sala se espalham na internet feito pulga em cachorro bem antes de o filme chegar aos cinemas comerciais.
Não que a pirataria tenha respeitado a superstição da data. Trata-se apenas de uma ação bem orquestrada do estúdio, provavelmente em conivência assumida com a distribuidora. Há muito tempo, muito tempo mesmo, todos os setores da indústria sabem que o ?prejuízo? de filmes na internet, antes que cheguem aos cinemas, não vem das filmagens toscas de nerds com celular bacana ou mini-DV.
Os filmes mais quentes vazam dos DVDs promocionais enviados para críticos de cinema e imprensa especializada, dos funcionários que costumam “liberar” cópias não-autorizadas para os amigos e, sobretudo, da exibição digital em festivais ou sessões antecipadas.
É curioso notar como, de um lado, a indústria quer nos empurrar o download pago de filmes e músicas com Digital Rights Management (DRM). Do outro, sucumbe ao conservadorismo e à inércia, permitindo o vazamento deliberado de DVDs promocionais que contêm os filmes inteiros.
Será de propósito? A Microsoft já fez isso, no passado, com seus principais softwares. Durante mais de uma década, aliás.
Mais curioso ainda é ler o e-mail da distribuidora, via assessoria, solicitando “atenção para os requisitos”, em relação às cabines de imprensa. Para quem não é do meio, uma rápida explicação: cabine é como chamam as sessões fechadas aos jornalistas (e eventualmente a convidados da distribuidora), sem acesso do público em geral. Um fato corriqueiro para que o leitor possa ter acesso às críticas do filme (no jornal, na revista, nos sites…) na véspera de lançamento ou, pelo menos, no dia da estreia.
Agora falam em requisitos como não portar celular com câmera, autorizar ser revistado antes de entrar nas salas etc. Na hora de enviar os DVDs sem proteção pelos correios, ou não ter o mínimo de cuidado com os vazamentos internos, parece não haver tantos requisitos assim.
E aqui fica outra dúvida. Por que os executivos de entretenimento se preocupam mais com esse tipo de pirataria, em vez de procurar oferecer mais qualidade ao público fiel que, mesmo diante de tantas facilidades da tecnologia e tantas dificuldades da economia, persiste em ir ao cinema? Com direito a ingressos superfaturados, programação defasada, lançamentos atrasados, salas nem sempre limpas decentemente e infraestrutura com muito a desejar?
Talvez porque não seja um filme. É tudo um grande teatro. [Webinsider]
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Paulo Rebêlo
Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.
2 respostas
Interessante sua observação. Realmente a pirataria compete com as salas de exibição, e estas últimas não fazem lá grandes coisas para ganhar da concorrência.
Pra ter uma idéia, a última vez que fui ao cinema aqui na minha cidade, foi pra ver Star Wars, ep.1 – Phanton Menace. No meio do filme a imagem saiu do foco e eu saí de dentro do cinema pra não voltar mais. Preços altos do ingresso, refrigerante e pipoca idem, desisti.
Como sugestão para atrair público, além de bons filmes, que tal sortearem camisetas temáticas, livros sobre o filme em sessão, vale ingressos para outras exibições. Que tal levar atores dos filmes nacionais, mesmo que não sejam os principais, para um bate-papo com o público?
Hoje sou adepto do cinema em casa: torrent e emule. E ficará melhor: faz nem 10 minutos comprei – on-line – meu LCD de 42. Agora que não saio de casa.
Bah! Disse tudo!