As empresas de Tecnologia da Informação (TI) aderiram ao movimento da TI Verde. Há agora incontáveis referências ao tema em seminários, na web e nas revistas. É particularmente importante ver o segmento adotar a bandeira do ecologicamente correto. Não sei se já existe uma definição acadêmica do que é ?ser verde?, entretanto, é preocupante a simplificação e a carona ?marketeira? em torno do tema.
O lado bom da TI Verde é a provocação do tema e o reforço na mente das pessoas da consciência ecológica. O fato é que, por conta da vontade de ?ser verde?, as empresas passaram a fabricar equipamentos sem ou com pouco uso de componentes ou substâncias de teor poluente, que consomem menos energia elétrica, com melhor eficiência de refrigeração – particularmente em servidores -, envoltos em embalagens de material reciclado, e por aí vai.
Porém, hastear a bandeira ?verde? requer iniciativas e esforço de pesquisa, e reinvenção. É olhar para a eficiência, afinal até então o caminho mais curto era o da facilidade e o de menor custo.
Mas tem um fator que realmente incomoda nesta história de reciclagem: é a banalização do desperdício. Consumir produzindo material reciclável é menos ruim, mas não o adequado. O ideal deveria ser não desperdiçar. Reciclar tem ?despesa ecológica?: gasta água, gera CO2 e talvez até metais pesados.
O que é melhor: reciclar ou usar por mais tempo? Qual o impacto se for estendida a vida útil por mais um ou dois anos de um equipamento?
Observando a indústria dos computadores pessoais, os PCs, nota-se um crescimento em dois dígitos do volume de vendas. Estima-se que exista no Brasil um parque de 60 milhões e que, por ano, seja produzido um número superior a 12 milhões de novas unidades destes produtos. Tais computadores, segundo os padrões da indústria atual, devem durar até três anos.
Depois desse período, parte deles será reciclada, voltando, segundo algumas iniciativas mais atuais, às camadas menos favorecidas da população. Outra parte terá componentes introduzidos novamente na indústria através de reciclagem de materiais (plástico, metal etc.). E uma nada desprezível porção vai virar lixo definitivo e perigoso (metais pesados, pilhas etc.).
Veja que com isso se forma um enorme déficit ecológico. Mesmo para reciclar os materiais dos PCs, água terá sido usada, CO2 gerado e energia, consumida.
E se pudesse ser estendida a vida do PC por mais um, dois anos? E se pudessem ser eliminados centenas de quilos de matéria bruta na sua fabricação?
Talvez no Brasil estivéssemos retirando do lixo 10 milhões de PCs por ano e evitando a produção de outros 13 milhões. Como a sociedade deveria medir seu avanço digital: pelo número de PCs produzidos, ou pelo número de PCs utilizados?
As iniciativas que estão aí não são ruins, mas estão longe de resolver o problema. Ao executar qualquer ação de ?alma verde?, as empresas de certo modo fazem a sua parte para a preservação do meio ambiente. Uma empresa de TI diz que é ecologicamente correta porque a fabricação de seus produtos é com plástico reciclável e livre de chumbo, quando o certo seria fazer produtos mais duráveis ? para serem descartados em um tempo mais longo.
Virtualização
O pensamento socialmente correto é reinventar a fabricação. É a criação de uma indústria de TI com consciência de longo tempo.
Vejo com bons olhos o recente movimento de virtualização na indústria de PCs. Creio que, finalmente, direta ou indiretamente, o problema de geração de lixo esteja sendo equacionado com computadores pessoais passando a durar (sem perda de performance) por cinco ou mais anos por conta da implantação desse conceito de otimização do uso de sistemas.
Os impactos na indústria serão grandes e muitas empresas terão de se reinventar. Muitas vão reagir negativamente, tentar negar e manter o modelo da vida curta, gerador de vendas consecutivas, com alto custo ecológico, além, é claro, dos custos diretos de capital.
De carona, pense um pouco se você, na sua rotina do dia a dia, não está banalizando o consumo sob proteção do rótulo ?reciclável?. Afinal, reciclar é apenas uma alternativa. O ideal é não usar. [Webinsider]
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André Vilela
<strong>André Vilela</strong> é diretor de diretor de Soluções Corporativas da <strong><a href="http://www.unisys.com.br" rel="externo">Unisys Brasil</a></strong>
7 respostas
Finalmente as leis ambientais no Brasil, ou pelo menos em Sao Paulo começam a mudar assim como em outros países que ja seguem a as diretrizes da WEEE (Waste Eletronic and Eletrical Equipments) desde 2002. Conheçam a Lei Estadual 13.576/09 no site da Ativo Digital Gerenciamento de Ativos e Resíduos Eletronicos. O site é: http://www.ativodigital.com
EU ADORO SER PROFESSOR E VEJO QUE VOCES SAO O MAXIMO
André, excelente matéria, realmente não adianta pensar em reciclagem e sim em produtos mais duraveis. O termo reciclagem foi inventado para alguém ganhar dinheiro com isso, menos o meio ambiente.
TI Verde então nada mais é do que salvar as verdinhas dos empresários, que não estão nem ai para a natureza, só olham para o próprio bolso.
Excelente abordagem. O marketing verde, como em tantas de suas outras facetas, usa a lógica da retórica e da maquiagem, enquanto quem realmente pensa o tema, vai mais fundo, como você o fez aqui. Parabéns.
André…
Boa reflexão, mas estamos diante de algo inequacionável… produtos verdes são efetivamente menos duráveis, ou você acha que a industria aderiu ao ser verde por responsabilidade social…Não, de um lado produzimos impactando menos o ambiente, e de outro, vocês consomem mais. 🙂 sai 0 x 0 concorda?
Realmente já discuti a tese que reciclagem é um grande vilão para produtos de ti, mas não tinha ninguém que compactuasse disso. Achei um!
Reciclar ti onera mais o ambiente que dispor do resíduo de maneira adequada, ou doar para uma ong ou familiares…´
É isso abs.
José Milagre
jose.milagre@legaltech.com.br
Bom dia André,
Muito bom o artigo! Creio que TI verde seja um diferencial até para o nosso modo de vida e cultura, principalmente para nossos filhos. Meu grande medo é isso se banalizar como mais uma estratégia de MKT.
O ruim é que o aumento da vida útil dos equipamentos vai de contra a produção/saída dos mesmos. Parece que nada foi feito para durar no intuito de você comprar um novo em menos de um ano, vide máquinas de lavar, por exemplo. Outra coisa, como seria o mercado de peças para pós-vendas se a vida útil de um equipamento fosse de 10 anos?
Eu troco de laptop pessoal de ano em ano e sempre repasso o antigo para familiares. E estes? Será que terão a mesma cultura? Será que existe algum incentivo fiscal do governo (estadual ou federal) para as empresas doarem equipamentos antigos para entidades ou ONGs?
Fico feliz em saber que trabalhamos na mesma empresa e que esta se preocupa com o meio ambiente.
Abraços.
De acordo!
E estenda isso para tudo o que é eletrônico, desde televisores (que parecem ter vida mais longa) até celulares (que têm uma vida curtíssima).
Realmente, o ideal é não usar.