O mas-funcionalismo e a propaganda

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

James Lovelock, ambientalista de primeira hora, costuma dizer, para desespero dos eco militantes, que a terra, Gaia, com homem ou sem homem, com ou sem xixi no banho, vai aquecer. Estamos dedicando energia de mais para salvar e de menos para nos adaptar.

Da mesma forma, comunicar, com ou sem inteligência, com ou sem criatividade, vende. Fazer propaganda funciona. E o argumento do ?funciona? é um poderosíssimo álibi intelectual.

Felizmente, não somos tão primários. Felizmente gostamos de comida bem-preparada, de casas bonitas, roupas elegantes, carros modernos. Felizmente comida não é só nutrição, casa só habitação, roupa só pudor, carro só locomoção.

Então, sofisticamos o raciocínio e, ao invés de justificar nossas escolhas por um blasé ?funciona?, acrescentamos-lhe um ?mas?: ?mas funciona?. Nosso álibi torna-se consolo e compensação emocional. A comida tava ruim, mas não temos fome; a casa é feia, mas não dormimos na rua; a roupa é cafona, mas não revelamos nossas vergonhas; o carro é simplesinho, mas é melhor que ir a pé. E os mas-funcionalistas ganham a cada dia mais espaço e voz na propaganda brasileira: ?a propaganda é uma porcaria, mas funciona?.

Pouco importa aqui desconstruir esse raciocínio preguiçoso. Até porque provavelmente ninguém assumiria o ?mas? como conjunção do ?porcaria?. Os mas-funcionalistas não gostam muito de perder tempo com argumentações intelectualoides e onanismos mentais.

No entanto, para outros, propaganda que funciona é tão excitante quanto se alimentar com sonda intravenosa, tão confortável quanto um abrigo antinuclear, tão sexy quanto uma bata de batik, tão poderoso quanto um passo-doble. Funcionar? Mas é claro que deve funcionar e provavelmente funcionaria ?comigo ou sem-migo?.

A propaganda que se quer é uma que rentabiliza de verdade o investimento ? e não apenas fazendo cálculos de frequência e cobertura. A propaganda que se quer é uma que assuma sua responsabilidade de moldar culturas.

O que mais pode-se fazer além de funcionar?

Essa é a pergunta que faz alguns poucos levantarem-se de manhã e resistir ao precipício medíocre da sobrevivência. São aqueles para quem propaganda não é função, é vocação. [Webinsider]

.

Fernand Alphen (@Alphen) é publicitário. Mantém o Fernand Alphen's Blog.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

Uma resposta

  1. Gostei, principalmente qdo fala que a propaganda molda a cultura, a propaganda o tempo todo relembra a nossa cultura, prepara para nosos rituais, aniv. de 15 anos, carnaval, casamento etc
    é como uma convocação. gostaria de receber artigos escritos pelo senhor. BOA SEMANA, Sarah

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *