Se o jornalismo está mesmo morrendo, o que se pode dizer das atividades ligadas a ele? Estaríamos prestes a presenciar um efeito dominó que, com o fim do impresso, aos poucos acabaria com as gráficas, empresas de celulose e inviabilizaria a existência da banca de jornal na esquina de casa?
É difícil prever o que vai acontecer com os setores que dependem da produção jornalística, mas não há como negar que a crise da imprensa já está mudando a maneira de trabalho de muita gente, principalmente do profissional que até pouco tempo era considerado o patinho feio da comunicação. Esse cara é o assessor de imprensa.
Ainda hoje sinto que muita gente tem dúvida sobre o que faz um assessor de imprensa. Há algumas semanas estava com um grupo de amigos quando um conhecido, estudante de jornalismo, puxou conversa.
– Soube que você é jornalista. Trabalha onde?
– Numa agência de comunicação. Sou assessor, respondi.
O colega levantou a sobrancelha e disparou:
– Hum, você faz release?
– Isso mesmo, respondi para não alongar a conversa.
Talvez a atitude correta fosse explicar pedagogicamente quais são as atividades diárias desse profissional. Afinal, o garoto é só um estudante, está aprendendo, precisa saber que o trabalho de um assessor vai muito além de atividades corriqueiras como produzir release e fazer follow-up. Podia ter dito tudo isso, mas não o fiz.
Como explicar a alguém que cursa jornalismo que a profissão que ele escolheu está sendo ultrapassada por um bando de blogueiros e tuiteiros? Pois é isso que acontece. Aos poucos, a existência de um intermediário da notícia deixa de ser necessária com a popularização das redes sociais e o crescente número de pessoas conectadas. Hoje já se sabe aonde encontrar informações. Elas estão nos blogs, nas comunidades do Orkut, Facebook, LinkedIn e no Twitter.
Essas novidades estão mudando não só a forma de se fazer jornalismo, mas também a forma de se fazer assessoria de imprensa. Agora, em vez de passar o dia pendurado no telefone, fazendo contato com o jornalista, o assessor 2.0 (ou PR digital, que vem de public relations ou relações públicas) entra de vez na blogosfera e outras redes, interagindo diretamente com o público final.
Portanto, se você ainda não se atentou para as mudanças que estão ocorrendo na área de assessoria de imprensa, vale um alerta: não se enferruje junto com o jornalismo. [Webinsider]
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Daniel Agrela
Daniel Agrela (danielr@ciadainformacao.com.br) é jornalista e atua como PR Digital na Cia da Informação.
7 respostas
Apesar do texto ter um inegável fundamento argumentativo, decretar que o jornalismo está acabando é inaceitável. Apesar da facilidade que encontramos em disseminar uma notícia, é necessário fazer isto de forma habilidosa – tal qual um jornalista estuda 4 anos para conseguir. Não são blogueiros tuiteiros que vão fazer com que a profissão se extingue. Haverá uma maior concorrência? Sim, mas estamos anos luz distantes de uma profissão ultrapassada e em fase de “extinção”.
Sou estudande de jornalismo e fiquei bastante surpreso como a profissional foi tratada nesse texto.
É fato as mudanças do cenário com o fervilhamento das redes socias, blogs e etc, mas considerar a profissão ultrapassada na minha opinião é exagero.
Acredito que nenhum meio de comunicação contrata assessores, jornalistas, reporteres sem formação e muito menos empresas que cada vez mais estão ampliando sua área de comunicação irão contratar um ótimo twitteiro em razão de um profissional formado.
A nação ainda enxerga o mundo pela notícia, pra mim comunicação ainda é a profissão da atualidade.
De carona na pergunta da Marina, escrevo aqui o que mais me incomodou no artigo – e invariavelmente vem incomodando nos últimos tempos em que mais um estrangeirismo se incorpora no cotidiano da comunicação brasileira.
O que é mais essencial dizer? PR (public relations) não é sinônimo de RP (relações públicas). Esta confusão é a mais primária, e a mais perturbante. PR, nos EUA sobremaneira, é sinônimo de assessoria de imprensa. No Brasil, RP é uma profissão regulamentada que tem na imprensa UM DE SEUS PÚBLICOS de relacionamento, em que UMA DAS ESTRATÉGIAS é eventualmente enviar releases e o cotidiano convencional de AI .
Quem utiliza PR está querendo dizer Assessoria de Imprensa. Não relações públicas, combinado?
Alguém me explica o por que ainda se utilizam do termo PR se RP já existe no Brasil?
Danilo e Guilherme, acho que concordamos em alguns pontos. Mas, como foi dito, essa é uma questão bastante polêmica. É difícil antecipar tendências, mas temos de ficar atentos a todas as transformações que estão ocorrendo em nossa profissão. Obrigado pelos comentários.
Abs
Daniel
twitter.com/daniel_agrela
Olá Daniel!
Falar sobre o futuro do jornalismo é um assunto complicado, né! Que dirá então do assessor de imprensa.
Só acho que a relação entre assessor e imprensa vá mudar quando os jornalistas de redação se converterem para a web 2.0 em seus trabalhos. Muitos mantem perfis em redes sociais, mas poucos usam isso para o trabalho. Estou dizendo isto em relação à busca de informações sobre as empresas que fazem assessoria de imprensa.
Vejo ainda nas redações o modelo antigo: rádios produzem pautas que descobriram nas rondas ou viram em portais de notícia; jornais se inspiram no rádio, nas rondas e nos portais de notícia; tvs se inspiram em rádios, rondas, portais de notícias e jornais. Redes sociais servem para conseguir personagens, na maioria das vezes.
Aliás, este é um assunto que dava pra prolongar muito, até porque, como disse no início, ninguém sabe pra onde vai nossa profissão. Mas concordo com você que não dá mais para ficar enferrujado e fechado ao que de novo se espalha pelo mundo.
Abraço!
Olá Daniel, concordo que a idéia de ligar para jornalista de redação para emplacar pauta já está se tornando algo anacrônico. Mas usar o mesmo modelo para emplacar assuntos em blogs é um erro grande. O contato com a blogsfera é algo completamente diferente e o modelo de PR para Web ainda precisa ser repensado – como o case da Petrobrás, por exemplo. A discussão é boa!