Nessa última Campus Party, ouvi o Luli Radfahrer usando o termo “livro de 240 por 5” ou alguma coisa perto disso. Ele se referia às publicações como o Cauda Longa que têm algumas centenas de páginas para explicar algo que caberia em cinco.
Lembrei disso hoje por conta do livro Free do Chris Anderson, autor do best seller Cauda Longa. Depois de ler a resenha do Wall Street Journal sobre a obra, me ocorreram duas coisas:
1. Apesar de estar disponível grátis, vai vender pra caramba porque é um produto feito com requinte para atender às demandas de leitura leve e ligeira dos frequentadores habituais dos saguões de aeroportos e também a expectativa de atualização dos currículos dos cursos de MBA; e
2. O mote do livro seguramente foi explorado pelo autor com inteligência e riqueza de exemplos por todos os ângulos imagináveis, mas cabe em três parágrafos. Se você tem tempo sobrando, pode ler no monitor as 288 páginas, é grátis. Se não, invista dez minutinhos para terminar de ler este post.
A ideia promovida com mais de um ano de antecedência é que ao criar um produto ou serviço para ser oferecido pela internet, o custo de torná-lo disponível para uma audiência potencialmente infinita é próximo de zero. Se eu escrevo o código para permitir que pessoas se comuniquem via internet usando áudio e vídeo (como faz o Skype), custará praticamente a mesma coisa se o número de pessoas que tirar proveito dele for um ou um milhão. Na medida em que o produto é adotado e se torna parte do dia a dia de milhares de pessoas, a operação se paga pelo oferecimendo de serviços “freemium”, um algo a mais que um grupo pequeno de usuários estará disposto a pagar para ter.
Todo mundo que usa a internet conhece isso. Eu pago US$ 49 por ano para ter espaço ilimitado no Flickr e conheço várias pessoas que fazem o mesmo. É em torno de US$ 4 por mês por um serviço que eu uso de verdade, aproveito, é um brinquedo e uma atividade social, totalmente integrado ao meu blog, faz parte da minha vida e, convenhamos, custa menos por mês do que um lanche no Mac.
Não sei quais são os números do serviço, mas imagine: se o Flickr tiver 10 milhões de usuários registrados e 1% pagar os US$ 49 por ano, são 100 mil pessoas gerando perto de US$ 5 milhões por ano. E na medida em que mais pessoas aderem à ferramenta, o custo de manutenção e desenvolvimento são praticamente os mesmos e o retorno aumenta.Não sei se seria precipitado dizer que tudo que funciona na internet, a começar pelo Google, é uma variação desse modelo, mas, que eu saiba, os joalheiros da arte de explorar esse novo cenário são os sócios de uma empresa chamada 37 Signals.
O fato de ser uma equipe pequena – a última vez que eu soube eram só quatro pessoas – faz com que eles ganhem em capacidade de comunicação e coordenação. Eles se entendem, se conhecem, têm muita confiança uns nos outros e, por isso, economizam muito em gestão e em desgaste emocional. Os produtos deles seguem esse espírito: contém o mínimo de funcionalidades para oferecer o máximo de resultado.
Conclusão: eles são adotados e recomendados por milhares de usuários e um grupo pequeno desses está disposto a pagar pouco – em relação ao benefício percebido – para ter acesso a diferenciais relevantes.
E esses caras do 37 Signals são tão bons que conseguiram virar esse mundo digital de cabeça para baixo: eles cobraram por um arquivo em PDF cujo conteído estava disponível integralmente em HTML. Há uns anos eles lançaram um livro sobre o modelo de funcionamento da empresa. Cada exemplar em PDF custava US$ 20 e virou um hype total na web. Quando eu comprei o meu, dias depois dele ter sido lançado, me lembro que mais de 20 mil pessoas já tinham feito o mesmo.
O detalhe é ao comprar, o sistema gerava um arquivo com o nome do comprador em todas as páginas. Ou seja, não valia a pena, no curto prazo, uma pessoa apagar página por página para disponibilizar o livro online e o custo do livro não era maior do que se paga por um produto equivalente. (A diferença, para eles da 37 Signals, é que não houve gasto com impressão e nem com distribuição, essa economia ficou integralmente no bolso. E de quebra, foi uma super promoção positiva para a empresa e os serviços oferecidos.) É a síntese do free que dá dinheiro apresentado pelo Chris Anderson.
E agora que você economizou várias horas do tempo que gastaria lendo o Free, que tal gastar uns reles segundinhos recomendando a leitura deste post para os seus amigos? [Webinsider]
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Juliano Spyer
Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.
8 respostas
Juliano embora o livro já tenha alguns anos, ele continua mostrando bem o momento e as oportunidades que estão no mercado. O segredo me parece ser encontrar o modelo de negócios para rentabilizar este tipo de iniciativa. Parabéns pelo post.
Falo sobre o Long Tail no meu livro “Blogs Lucrativos”, sobre a aplicabilidade na pesquisa online.
Os termos de pesquisa que são “hype” no Google podem até gerar picos de tráfego, mas o melhor são os da “cauda longa”, que geram tráfego continuamente.
Para quem se interessar, o livro Blogs Lucrativos está aqui: http://bit.ly/livroblogs
Olá Juliano,
Ainda não li o livro, mas conheço o conceito. Ótimo post e concordo que temos que olhar para o futuro e adaptar a cada área.
Quando se trata de conteúdo, com a evolução do conceito open source – tendo o WordPress e o Joomla! como grandes estrelas na gestão de blogs e sites – a gestão de conteúdo na web também está caminhando para o FREE.
Abraços,
Marcio Okabe
Saiu um pdf do livro: http://www.mininova.org/tor/2866515
O Luli é um amigo querido, mas também um cara muito polêmico. Todo mundo sabe. E ele provavelmente falou isso depois de ter lido o Cauda Longa inteiro. Acho que você deveria fazer o mesmo antes de vir ao WebInsider falar do Free.
Eu estou lendo o livro impresso e, de fato, a idéia central já está entendida por todos que leram as amostras que a wired publicou ou primeiro capítulo do livro.
No entanto, assim como no A Cauda Longa, os detalhes, as histórias, os fatos históricos, são muito enriquecedores e fazem uma enorme diferença.
Arranje um tempo e leia o livro. Aliás, sempre precisamos arranjar tempo para ler livros.
abraços!
Juliano, você já devia saber que não se deve acreditar em tudo o que se lê na Internet. 😉
O modelo freemium não é novidade nenhuma. Até eu já pus em prática. Acho que você deveria também tentar antes de tirar conclusões baseado apenas no que leu.
O que lhe posso dizer que funciona sim, mas não na proporção e rapidez que tanto se apregoa.
O grande problema é que os serviços gratuitos atraem muitos usuários mão de vaca, aqueles que não querem pagar nada por nada nunca. É dificil, mas não impossível, convencer muitos desses que o que vão pagar vai fazer toda a diferença para eles. Os poucos que pagam são levados por vezes por razões emocionais, como por exemplo simpatia pela empresa disponbilizar coisas boas de graça.
O exemplo da 37Signals é bom para mostra onde quero chegar. Eles raramente falam em detalhes de faturamento, e quando falam são sempre com número que não podem ser comprovados porque a empresa deles é de capital fechado e não existem auditorias públicas.
O que existe é muito hype e arrogância dos sócios dessa empresa. Enquanto a empresa deles for de capital fechado e não for auditada, só acredita em maravilhas quem quiser.
Agora voltando ao mundo real, veja por exemplo o Google. É uma empresa de capital aberto e por isso tem de publicar relatórios sobre a origem do seu faturamento. Na última vez que li sobre isso, menos de 1% do faturamento do Google vinha de serviços freemium. A quase totalidade vinha de publicidade, que de fremium não tem nada.
Conclusão, é melhor cada um experimentar implementar os seus serviçoes freemium antes de tirar conclusões.
Concordo com o que foi dito sobre oferecer serviços freemium. Mas acho que, no fundo, é a publicidade quem deve sustentar esse modelo de negócios.
Muito bom o resumão!
Tenho o Cauda Longa e o Getting Real e recomendo a todos os gestores, agências e qualquer pessoa que tenha algum projeto na web.
Acredito muito no mercado de web services (SaaS, Cloud, etc) pois o futuro será integrar classes de consumidores, dar acesso a TODOS os tipos de usuários (0800 e os que pagam fee), manter a colaboração e a integridade dos dados acabam agregando valor a marca. Vide flickr, Google…
Pena o FREE ainda não estar em português para alcançar mais pessoas. Eu pedi ao autor uma versão em PDF em inglês mas creio que ainda não está circulando além mar 🙁
Abraços,
Rafael Xavier