Todo dia, tento resistir à tentação de abrir minha página inicial do Twitter. É que, assim como a febre dos blogs entre 2001 e 2005, ler a tuitada alheia passou a despertar um sentimento aparentemente muito feio e mesquinho em mim: a inveja.
Se na época dos blogs eu achava que todo mundo tinha parado de trabalhar para viver blogando o que faz da vida, hoje em dia, com o twitter, eu quero é o emprego de todo mundo.
Eu vi um pombo cor-de-rosa na janela. Tuíte. Meu chefe chegou, hora de trabalhar. Tuíte. Cinco minutos depois, o chefe foi embora. Tuíte. Bom dia a todos. Tuíte. Vou ali almoçar. Tuíte. Tô cansado, hoje trabalhei demais. Tuíte. Até amanhã, twitters. Tuíte. Tuíte. Tuíte. Tuíte.
Se a ferramenta diz que cada pio deve ter 140 caracteres, não entendo por que metade das pessoas não se contenta e escreve três, quatro, cinco tuítes de uma vez só como se fosse um post de blog? Daqui a meia hora, vão escrever mais três ou quatro seguidos.
Não sou inteligente o suficiente para dizer que são burras e que é para tuitar uma vez só. Não sou médico para dizer que é um problema de TOC. Nem sou psicólogo para afirmar que deve ser uma grande carência dizer ao mundo que o sobrinho meteu o dedo no nariz e tirou uma catota linda. Sem esquecer de colocar uma foto do celular nesse tal de Twitpic.
Vejo coisas bacanas no Twitter. Quem vive de escrever ou escreve por prazer, consegue atrair um contingente de leitores que antes não conseguia. No meu humilde site de crônicas, quando jogo um link no Twitter a audiência sobe coisa de 50%, mas apenas por 24h, raramente por dois dias. Os especialistas em novas mídias têm toda uma tese para explicar esse ronaldo, digo, fenômeno.
(Sim, porque todo mundo que usa internet para trabalhar agora é um especialista em novas mídias, novas tecnologias, noves fora a casa de chapéu.)
O problema é encontrar os links e comentários interessantes perdidos no meio de 489 tuítadas de uma dúzia de pessoas. E aqui vem o problema maior: os brios alheios.
Por mais que eu goste daquele meu amiguinho virtual, não dá para abrir minha página do Twitter e ver que ele tomou conta de metade da minha tela num intervalo de quatro horas. Esse tipo de comportamento você não consegue reverter nem usando um leitor de RSS.
Se juntar com mais outra meia dúzia de pessoas que tuítam como quem bebe água, eu vou precisar apertar 87 vezes na tecla Page Down até começar a ler outras pessoas. Isto é, se você olhar o seu Twitter todos os dias. Se passar um dia sem olhar, multiplique a conta por oito.
E foi aqui que o Twitter me ensinou o que, hoje, tem sido o maior aprendizado internético libertador de toda minha extensa vida online: abrir mão de saber das catotas alheias.
Falar é fácil, mas quando você depende de internet para pagar aluguel, a conta da padaria e o fiado do bar, é muito difícil abrir mão de clicar em links que os outros dizem ser interessantes. Ou simplesmente ficar sabendo o que fulano e beltrano acham das (me perdoem) “novas mídias”.
Não é fácil, mas também não é impossível. Difícil mesmo é explicar aos amiguinhos virtuais (aquele povo que você nunca viu na vida, talvez nunca veja e até desconfia se existem de verdade) o motivo de você ter clicado em REMOVE (em caps lock mesmo, com força) no nome deles.
Como o Twitter também é cultura e aprendizado, levei toda essa ampla bagagem de conhecimento avançado em novas mídias para outras ferramentas digitais e redes sociais que uso, mesmo sem saber exatamente se uso ou não. Porque, de acordo com os gurus diplomados dos cursinhos cheio de grifes, só usa rede social quem interage. Quem apenas olha, não está fazendo nada.
Quando estou online, geralmente entro no MSN Messenger e/ou no Gtalk. Não por necessidade, apenas por hábito. Acontece que há muitos anos eu não abro a janela para saber quem está online, de modo que ontem eu não fazia a menor idéia quem eram as pessoas que contavam por 80% da minha lista de contatos.
Exportei a lista e tinha 472 criaturas, onze ou doze anos depois de eu fazer uma conta no Hotmail. Devo realmente trocar umas idéias com meia dúzia. Tem gente que lembro, é verdade, de quem trabalhou comigo há dez anos, de quem trabalhou no mesmo lugar por apenas três meses, de quem apareceu do nada e nunca mais reapareceu. Enfim, tem de todo tipo, mas em comum, 99% dos contatos não troca uma palavra comigo (olha a carência da catota do sobrinho) há meses, quiçá anos.
No Twitter, mesmo que ninguém conheça ninguém, você pode dormir feliz da vida se achando um verdadeiro sucesso social por ter 300 mil seguidores. Mas e no MSN, que apenas você tem acesso? DELETE (em caps lock de novo) neles, de com força e com os dois pés, que nem tirador de coco na praia.
Devo ter apagado 90% da minha lista no MSN e 50% no Gtalk, que por natureza (e por ser mais novo) já tinha. Isso também evita, ou vai evitar, aquele inútil hábito de digitar bêbado na janela de alguém achando que é outra pessoa. Hoje eu voltei a abrir a janela do MSN para ver quem está online. E é um alívio indescritível ver que tem apenas meia dúzia de pessoas online e, diante do júri, poder dizer exatamente quem são elas e como elas chegaram ali.
Minha próxima hercúlea missão é organizar minhas três contas de e-mail. Com quase seis meses sem conseguir olhar direito a caixa postal onde recebo releases, propagandas e boletins, hoje meu Outlook tem exatos 6200 pretinhos. Os pretinhos são aquelas mensagens negritadas que significam ?não lidas?. Fora outros milhares da caixa de spam automático, mas estas prefiro nem olhar. Os falsos negativos que me perdoem. E eu adoro ler boletins, não sei como o Outlook foi chegar a esta conta incrivelmente absurda.
Todo dia, abro o Outlook, respiro fundo e fico a apenas um clique do botão LIMPAR TUDO. Mas tenho esperado. Talvez eu precise entrar mais vezes no Twitter, aprender mais. Até porque, se nem o Belchior encontrou uma solução para fugir das dívidas tão fácil, não sou eu que irei conseguir transformar 6200 emails em um tuíte de 140 caracteres. [Webinsider]
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Paulo Rebêlo
Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.
27 respostas
o como eu gosto muito de joga futebol mai ai dda eu vol se um profisinao como ronaldinho
Parabens meu caro! Melhor texto que já li a respeito dessa ferramentazinha chamada “Twitter”. Cheguei a conclusão que preciso fazer uma limpeza no meu Messenger!
Abraços!
deletei os contatos do meu orkut e consequentemente sem saber os meus contatos do gmail também se foram! mas sinceramente achei isso ótimo, porque foi como se eu começasse do zero q agora todos os contatos que eu tenho são de pessoas que eu realmente quero ter e tenho contato! queria poder deletar todas as minhas redes sociais, mas filtrar quem você acessa é bem mais fácil e divertido! você que escolhe… escolha treinar o desapego virtual! minha meta pras férias é ficar todo o período longe do computador… será??? hehehehe… 😉
Acabei de conhecer o Paulo e já gosto dele. Primeiro que já melhorou meu pc no trabalho com umas ferramentazinhas básicas. Segundo por causa deste texto. Concordo…é viciante você estar plugado com zilhões de pessoas..conectado 24 horas por dia…mas, se já me sinto dependente do gmail e do famigerado google…estou tentando manter distância do twitter…se é que vou conseguir por muito tempo…nada contra quem usa…mas, preciso de mais tempo para bater papo direto com alguém e ver uma tevezinha alienante de vez em quando (alienar, verbo em extinção)…desligar é preciso…se informar, sempre que der…mas relaxar é fundamental…
viu? não consigo falar pouco…
Paulo Rebêlo, você merece parabéns pelo artigo O que eu aprendi com o twitter. Muito bem elaborado, pois de forma divertida, vc conseguiu retratar a realidade que vivenciamos diariamente.
Excelente a expressão aprendizado libertador; muitos twitteiros não conseguem avaliar os benefícios pessoais que determinada rede social pode lhe oferecer.Participam apenas para que sejam aceitos pelo grupo social ao qual pertence. Minha opinião sobre o twitter:
No mundo virtual existe espaço suficiente para divulgarmos nossos pensamentos e ações. O importante é sabermos dosar pausadamente nossas postagens, para que ninguém se enfade de nossas palavras.Quando falamos demais terminamos?falando sozinhos?. Entre os twitteiros, essa atitude pode significar uma queda bastante expressiva no número de nossos followers.(postado no meu blog)
Com o twitter aprendi a ser mais objetiva e mais suscinta em minhas palavras.
ótimo texto.
parabéns
me esclareceu muita coisa, inclusive que o Twitter não serve pra mim (por enquanto).
um abraço a todos.
eu quero um twintter
Acho que, mais cedo ou mais tarde, toda pessoa de bom senso acaba um dia chegando a conclusão que você chegou neste post.
E quanto aos e-mails, eu não uso outlook. Prefiro controlar tudo pelo site mesmo. Hoje em dia com conexões rápidas é bem melhor. Além do mais, assim fica tudo online, se eu baixar pro pc, só vou poder ler nele e ainda corro o risco de perder tudo caso o windows resolva dar pau e precise formatar…
Bahhh, blogs são legais. Twitter sux… Big Time…
Can I Sell A Twitter Account?
tsc tsc, acada tecnologia que nasce, tem uns 10% de dinossauros que nao sabem lidar com ela e metem o pau dizendo que é bobagem e perda de tempo. acordem vovôs, hoje ou vc está conectado, ou está morto =D
Twitter é de comer?????? rsrs Conheço-o superficialmente mas não apeteceu-me! ufa, menos um né Paulooo!
Infelizmente, vou ter que concordar com o amigão ali de cima e copiar descaradamente o (sábio) recadinho que ele te enviou:
Queridão, o melhor do twitter é que ele é assincrono. Se você não gosta dos tweets de alguém, dá unfollow. Simples. [2]
Ahhhhhhhh, agora sim, descobri porque vc me deu REMOVE, de com força ;-), mas nem ligo! Amo o Twitter. Um cheiro.
larga de ser ranzinza, rebêlo. são os novos tempos. com tudo de bom e ruim que há neles. a gente tem que aprender a administrar tudo isso. cada um vai encontrando o seu jeito. o twitter é um lugar onde se espelha a natureza humana. se eu for dar unfollow em todo mundo que me incomoda em determinada hora, vou dar unfollow geral e ficar sozinha. para mim, tem sido um bom lugar para exercitar a convivência e tolerância com a diversidade.
Olha eu não entendo funfas dessa nova ferramenta de comunicação e entreterimento de pessoas, particularmente acho chato, mas é eficiente quando dizemos em comunicação expressa, espero logo que sai um livro passo a passo no Twitter, pois realmente se mostrou pelas minhas pesquizas que vale apena envestir nisso. Lendo seu artigo vejo que ainda estou com pensamentos do passado em relação a blogar, he he he.
Um grande abraço e sorte para você. meu blog é de religião se quizer da uma passada lá para fazer uma crítica construtiva lhe agradeço.
Rebelo, eu já no meu primeiro dia de Twitter percebi isso, algumas pessoas conseguem transformar essa ferramenta poderosa numa grande baboseira, um Orkut piorado até. O negócio é realmente seguir quem agrega alguma coisa, e é aquela história: Amigos, amigos, Twitter a parte!
Um abs!
Acho que o grande lance de todas as redes sociais é você fazer um filtro pessoal. Você é a única pessoa que vai saber o que lhe interessa ou não.
Quanto ao MSN, ótima saída. Tb estou precisando fazer o mesmo com o meu.. rsrs
Parabéns pelo post!
É bom saber que não sou o único…
Ótimo texto, parabéns!!!
Concordo com as colocações. Entretanto, vejo que o problema pode ser contornado, basta não seguir usuários que não achar interessante e utilizar ferramentas como plugins do firefox para acompanhar eventualmente as tuitadas dos seus usuários.
A questão dos contatos do MSN e outros, também é um fato relevante ao meu ver, pois isso realmente acontece com o passar dos anos. Talvez manter dois MSNs (um pessoal e outro de trabalho) possa ajudar.
Parabéns pelo post e trabalho que vem realizando!
Isso é a realidade de muitas pessoas por ae, até mesmo antes das redes sociais como você mesmo comentou.
Pesssoas com milhares de pessoas em msn, conhecendo pessoalmente nem uma centena, e mantendo contato real seja ele online ou não se resumia a uma dezena.
Depois foi a vez do orkut onde todo mundo era amigo de todo mundo. Coisas do tipo Adciona fulaninho, acontecia a balde.
E agora com o twitter pessoas com inumeras inutilidades, twitando que vão ao banheiro, que limpam a mão etc… este tipo de pessoa eu pessoalmente não sigo.
O twitter para meu uso é uma ferramenta de rss talvez, pois apenas leio, as pessoas que realmente possuem conteudo relevante a mim.
Considero também um problemão ficar sem um dia abrir o twitter ja havera mais de dezenas de tweets e não saberei o que esta acontecendo. No inicio de minhas aventuras pelo twitter se ficasse um dia sem ler voltava até exatamente onde havia parado. Mais pelo jeito não é assim que funciona pois eu sigo em media 25 pessoas e as pessoas que seguem mais de 200, se ficar um dia sem abrir o twitter e quando abrir no dia seguinte tera pelo menos um livro escrito.
Desculpe o comentário longo,
um abraço e excelente texto.
O problema do twitter é que a pergunta O que você está fazendo? é muito literal…
Em Redes sociais, o importante não é o conteúdo, mas sim a interação com outros indivíduos. Simples assim.
Paulo Rebêlo, meus parabéns !!!!!!
Simplesmente foi o melhor post que li nos últimos tempos… a verade nua e crua da realidade diária…
PARABÉNS com caixa alta prea você !!!!
Góra vo lá faze uma faxina no MSN e no Outlook !!!
Ótimo o texto. Quando li o título me interessei pois pensei que ficaria sabendo de alguma coisa útil do twitter,e depois que li vi que o mais útil é me manter longe.
Queridão, o melhor do twitter é que ele é assincrono. Se você não gosta dos tweets de alguém, dá unfollow. Simples.