Dependendo da idade, temperamento ou interesse, olhamos a mídia internet de diferentes maneiras.
Os mais conservadores insistem em comparar a web com o rádio e a televisão. Dizem eles: “é mais uma normal e tradicional mudança de mídia”. Por outro lado, os mais arrojados garantem que estamos lidando com algo, digamos, “sui generis”, um fenômeno que chega às raias de algo marciano.
De fato, a internet, como a chegada do rádio e da televisão, introduz uma nova mídia – isso é um fato. Mas é interessante notar que, tanto o rádio quanto a TV, que tiveram sua importância histórica nos rumos da sociedade, pois eram mídias que reforçavam e expandiam praticamente as mesmas vozes que se expressavam nos grandes jornais. Eram mídias – e são ainda – de forte controle em função dos elevados custos ou do seu fácil monitoramento.
Podemos chamá-las, assim, de mídias de reforço de estruturas vigentes de poder.
A web, entretanto, não se encaixa nesse tipo de ambiente, pois ela introduz na sociedade, a baixo custo e de difícil monitoramento, a multiplicação de vozes. Não, não se trata, portanto, de algo de Marte, pois tivemos o mesmo fenômeno (algo similar) com a chegada do livro impresso, frente ao monopólio do livro manuscrito – pilar este de dominação da Igreja e da monarquia na Idade Média.
Podemos chamar, assim, a web de uma mídia de oxigenação social, que abre espaço para novas vozes. Este fato – e não a tecnologia – marca (e marcará) as mudanças que assistiremos e já estamos assistindo.
Mídias de oxigenação social abrem um terreno fértil para a troca de ideias e, portanto, para amplas mudanças.
O livro impresso libertou os escravos
O livro impresso, lembramos, viabilizou a libertação dos escravos e o voto das mulheres, “introduziu” a alma nos negros e nos índios e criou uma possibilidade de terminar uma opressão – processo que nós estamos assistindo até hoje na sociedade. Além disso, introduziu o conceito de democracia, da economia do próprio capitalismo e da ideologia hoje vigente.
A próxima civilização que se abre com a possibilidade da troca de ideias pela internet fará um acerto de contas com este passado, fazendo uma revisão profunda em conceitos hoje já questionados, porém vigentes.
Passando, por exemplo, pela ecologia, pelo lucro das empresas, pelas diferenças sociais.
Estamos à beira de um upgrade civilizacional necessário, que estabelecerá uma nova elite, em outro patamar de civilização. Elite esta que deve controlar a mídia até que uma mídia venha oxigenar a sociedade, num fluxo civilizacional, que vai entrando e saindo de mídias para outras mídias.
É isto. Muito obrigado. [Webinsider]
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Carlos Nepomuceno
Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.
2 respostas
Realmente a possibilidade da produção de conteúdos na internet, que não necessáriamente são massivos e antendem a “nichos” de interesses, criam uma distância tremenda entre as mídias convêncionais. Sem controle as informações transitam e os setores “popularizados” precisam estar atentos com as solitárias vozes da internet que juntas ganham e movem opiniões.
Adorei o artigo, quase poetico e muito inspirador. Esta nova mídia ou como autor denomina a mídia de oxigenação pode não libertar os escravos de ontem,como os livros impressos, mas certamente libertou e liberta vozes que antes eram mudas.
A Globalização de ideias de trocas de informações está mais acessivel, mais digamos ” paupaveis” para uma classe antes ‘escravizada ” pela centralização do 4º poder.
Hoje o cidadão comum fala e há onde falar e há quem escute.