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Em 1878, em um congresso literário, Victor Hugo disse:

“O livro, como livro, pertence ao autor, mas como pensamento, pertence – a palavra não é grande demais – ao gênero humano. Todas as inteligências têm nele direito. Se um dos dois direitos, o direito do escritor e o direito do espírito humano devesse ser sacrificado, seria, certamente, o direito do escritor, porque o interesse público é nossa preocupação única, e todos, eu declaro, devem passar antes de nós”.

A ousada declaração dispensaria qualquer comentário, não fossem os tempos que vivemos e que o gigante não conheceu.

Victor Hugo não sabia que menos de um século depois, o gênero humano se conectaria em rede, através da união anárquica e orgânica de bases de dados, pilotadas a distância por qualquer membro da espécie munido de um computador e da boa vontade atávica no desejo de aprender, crescer e dar sentido à vida.

Victor Hugo não sabia que a força que move essa união exponencia-se em função da mola motriz dos homens, a tecnologia e o consumo.

Victor Hugo não sabia que da extraordinária capacidade de processamento, integração e comunicação que a Internet permite, nasceriam uma produção intelectual, cultural, científica e humanista sem precedentes.

Victor Hugo não sabia que a Internet seria tão vital à sobrevivência humana quanto o ar que ele respirava.

Mas ele sabia que, dos confins de uma espécie de consciência primitiva, o homem é egoista. Que o domínio do saber e do pensamento é um privilégio e uma arma de opressão. Ele também sabia que o domínio público é mais forte e mais fértil.

No final do século XIX, antes mesmo de existir, decretou-se o fim do copyright. [Webinsider]

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Fernand Alphen (@Alphen) é publicitário. Mantém o Fernand Alphen's Blog.

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10 respostas

  1. DVD´s esses que foram editados com esmero para reproduzir um “TRABALHO” e que, na ganância dos PIRATAS, é violentado para os fins do lucro fácil e desonesto.

    Que a cultura seja democratizada, SIM. Mas não que seja com lucro para a pirataria e com formatação de LIXO.

  2. Há que ser feita distinção muito séria entre direito autoral sobre um trabalho e pirataria.
    Creio que Victor Hugo falava sobre o uso de livros, por exemplo, que um estudante sem dinheiro copia de alguém que o comprou, por pura necessidade e não para comércio.
    Agora, sobreviver e ou enriquecer, ficar milionário vendendo aos montes, produtos alheios, como acontece atualmente, não dá para aceitar que seja um DIREITO que chegou como previa Victor Hugo. É pura PIRATARIA messsmo!
    Senão, VIVAs!!!!! aos que enganam o consumidor com dvd´s que custam R$2,00, mas que vão direto para o lixo

  3. Mais uma mostra de como gênios literários tocam em questões fundamentais acerca do ser humano, de ordem atemporal, e que portanto até hoje encontram eco e/ou continuam prementes. E um deles é a questão da liberdade e libertação inerente à produção e divulgação do conhecimento, como é abordado por Victor Hugo; também compartilho do mesmo pensamento dele: não quero defender que o copyright seja brutalmente violado e/ou que os autores nada recebam pelas suas obras, mas que o domínio público – a autêntica democratização do saber – seja preponderante acima de qualquer outra questão.

  4. Acredito que nenhum de vocês é um artista ou vive de sua arte.
    Acredito que nenhum de vocês é autor de algum livro ou vive de escrever livros.
    Acredito que nenhum de vocês trabalha de graça.
    Acredito que pensam, então por favor, pensem:
    Se não recebermos pelo nosso trabalho, porque continuaríamos a fazê-lo?
    A Abolição da escravatura aconteceu com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
    Também no final do século XIX.
    Meu Deus.

  5. direto na mosca… e digo mais…

    pirataria nao é crime, é movimento social, um movimento popular que se afirma cada dia mais.

    Somos bombardeados de todos os lados por propaganda, somos vítimas de um sistema que insere em nossas mentes a NECESSIDADE de adquirir inúmeros produtos, só pensando em faturar milhoes. Isso faz de pessoas simples, alvos fáceis do consumo desenfreado.

    Campanhas subliminares já nao sao novidade e sempre fizeram parte de camanhas publicitárias.

    Faço uma proposta, eu deixo de piratear qq coisa assim que perceber que os preços se tornaram justos.

    Assim que as licenças dos programas forem mais acessíveis, assim que a tv por assinatura for mais acessível, assim que esses tiranossauros se estinguirem…

    e tenho dito.

  6. Eu concordo que o conhecimento e a cultura devem pertencer a todos. Entretanto, existe uma coisa que nos atrapalha e muito: o dinheiro. Um autor de um livro, ou um artista que grava um disco não sobrevive dos “nossa, que ótimo artista ele é”. A nossa civilização precisa de dinheiro. Existem vários profissionais envolvidos na produção e fabricação de um livro ou disco, e eles também precisam de dinheiro para viver.

    O dia que o dinheiro não for mais necessário, poderemos voltar a falar sobre isso. Antes disso, é utopia.

  7. Sou pela morte do copyright e de forma geral compartilho do espírito do autor do post.

    Mas discordo que o egoísmo seja a natureza do espírito humano. Se eu considerar a coloboração também poderia estar falando do espírito humano, certo?

    O copyright nasceu no século XVIII, na verdade. E já no século XVI há decretos na Europa protegendo propriedade intelectual.

    No meu blog tem um artigo que fala sobre isso, “O negócio do conhecimento”.

    Abraço.

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