De onde vem, afinal, nossa extraordinária dificuldade de modificar certas posturas e modos de pensar quando o assunto é escrever?
E olhe que não faltam exemplos e provas incontestes da necessidade de se quebrar velhos mitos. A terceira onda, idealizada por Alvin Toffler, já chegou. A sociedade da informação e do conhecimento é uma realidade econômica; se não nos prepararmos adequadamente, seremos sufocados pelo tsunami de informações.
Primeiro mito: escrever muito é escrever bem.
Ao longo de mais de três séculos, fomos colônia de exploração e, desde então, temos vivido em uma sociedade predominantemente agrária. Por aqui, a industrialização é ainda recente e se limita a poucas regiões do país.
A natureza de nossa formação econômica conduziu-nos ao absoluto desprestígio das letras e à extrema pobreza intelectual. Nesse contexto, saber escrever se tornou privilégio de poucos e escrever muito, fator de distinção social.
Por mais que se tente mostrar as virtudes da objetividade e da concisão, o mito demonstra sua força e permanentemente se renova.
Das teses acadêmicas à comunicação corporativa, somos tentados a aumentar o tamanho de nossos textos, mesmo cientes de que essas esticadas certamente comprometerão a qualidade da informação.
A culpa, propriamente, não nos cabe. Na escola, ensinaram-nos a dourar a pílula: “acho que fui bem na prova, escrevi pra caramba”. E nas empresas somos permanentemente instados a esticar cada vez mais os relatórios, por exemplo.
Ocorre que a massa de informações aumentou substancialmente e o tempo se tornou a matéria-prima mais escassa do mercado.
Posso enviar para você agora cinco arquivos, cada um com mais de 100 páginas. Basta um simples clicar do mouse.
Só que seu cérebro não é uma máquina capaz de, em escassos segundos, processar mais de 500 páginas de texto, separar o trigo do joio, refletir sobre o que foi lido e partir para a ação.
Como é impossível acompanhar a velocidade da máquina, a frustração se torna inevitável.
Segundo mito: escrever é privilégio de poucos
Outro mito resiliente e difícil de derrubar. Muitos são os que ainda pensam que o ato de escrever requer talentos especiais, os quais apenas uns poucos dominam e que a maioria não tem.
Partindo dessa falácia, pouco há de se fazer para reverter o quadro de absoluta impotência e inércia redacional. A tarefa de escrever é própria dos predestinados, dos iluminados… Só esses conseguem, como num passe de mágica, passar ideias para o papel.
O mito da inspiração pode muito bem se sustentar nas sociedades agrárias – e, posteriormente, nas sociedades industriais.
Na primeira onda (agrícola), não havia por que escrever muito, já que as necessidades de comunicação eram pequenas e relativamente homogêneas. Um proprietário rural escreveria apenas para algumas dezenas de pessoas ao longo de toda a vida, a maioria delas membros de sua própria comunidade.
Da massa assalariada, esperava-se apenas que tivesse um mínimo de conhecimento sobre quando e como plantar e colher – aliado, é claro, à força física para trabalhar.
Na segunda onda (industrial), a comunicação era via de mão única e as decisões eram tomadas de cima para baixo. A maioria das pessoas era receptora passiva e do ser humano se esperava ser capaz de entender ordens e instruções – e que fosse disciplinado no cumprimento dessas normas.
A popularização do telefone, o surgimento da televisão e a institucionalização do sistema de múltipla-escolha são alguns dos tantos fatores que só vieram a reforçar a pouca necessidade de escrever.
Claro que não havia como pensar em desenvolver ferramentas mais sofisticadas de comunicação ou ainda investir na melhoria dos textos corporativos. Escrever bem poderia até ser tarefa admirada por muitos, mas essa seria uma atividade secundária e distante do mundo real. Um pensamento como “deixai a escrita para os poetas, os filósofos e os homens de espírito”.
Esse tipo de comportamento perdeu seu lugar na era da internet, do e-mail, do Google, do Twiter e de tantas outras ferramentas em que o domínio da comunicação escrita é vital.
Hoje, todos são produtores, receptores e consumidores de comunicação.
Você se comunica diariamente, e em tempo real, com dezenas, centenas de pessoas com formações, culturas e níveis de escolaridade distintos em todo o mundo.
Harry Beckwith (The Invisible Touch) foi extremamente feliz ao dizer que “Comunicação não é apenas uma ferramenta e sim a ferramenta”.
Seu sucesso pessoal e o de sua Organização dependerão substancialmente do trabalho de coleta de informações e de transmissão do conhecimento.
Terceiro mito: linguagem como sinônimo de erudição.
Talvez seja o mito mais resiliente – e passível de causar danos mais severos. Se não é complicado, não é sério; se não é sério não merece ser lido.
O ranço colonial, que impingiu em boa parte da elite intelectual brasileira o conceito do “quanto mais confuso, melhor” continua provocando verdadeiros estragos em nossa sociedade.
O profissional que faz do seu texto uma arma e vincula o ato de escrever ao uso recorrente de palavras complexas, pedantes e artificiais, perde pontos preciosos com o leitor.
O que dizer de construções assim? Apenas que seus criadores (advogado, linguista, economista, administrador, quem quer que seja) estão preocupados apenas em enfatizar o domínio da língua e impressionar (ou esmagar) o leitor com suas incursões eruditas.
Saber explicar situações, definir conceitos, instruir processos, recomendar ações e apresentar soluções criativas e inovadoras são alguns dos diferenciais do profissional da sociedade da informação.
Você é o que você escreve. Sua redação é a evidência persuasiva de sua competência, personalidade e capacidade profissional.
A terceira revolução está acontecendo agora. A sociedade da informação e do conhecimento exige do trabalhador a capacidade de desenvolver novas competências.
A revolução digital vem modificando por completo a sociedade: informação interativa, intensificação das relações pessoais, negociações online, notícias em tempo real, compras pela internet, entre outras tantas atividades cotidianas, abrem novos e interessantes espaços para a comunicação escrita, historicamente relegada a um plano menor.
Nesse contexto, clareza, funcionalidade, pertinência e objetividade no trato das informações são virtudes a serem sistematicamente treinadas e trabalhadas pelos profissionais em qualquer empresa.
Investir em comunicação não é despesa; é lucro. Quem não tiver a necessária sensibilidade para perceber que o conhecimento se tornou o substituto último de todos os outros meios de produção deixará de gerar riquezas—e estará inevitavelmente fadado ao rápido esquecimento. [Webinsider]
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José Paulo Moreira de Oliveira
José Paulo Moreira de Oliveira é consultor sênior do Instituto MVC na condução de treinamentos e consultorias.
8 respostas
Ótimo complemento de Alfredo, é bem relativo essa quantidade no que tange o tamanho do texto. A informação necessita ser transmitida de forma que o leitor entenda,e que seja clara, objetiva e suscinta.
para escrever bem faz-se necessário uma boa leitura, organização de idéias,conhecer o conteúdo, convencer o leitor, e filtrar possíveis críticas.
adorei =)
Somado ao texto de José Paulo, o complemento exposto por Alfredo Salvador é algo que vivo consistentemente no dia a dia de nossos clientes.
No que chamamos de cartas de vendas, entregamos as informações que consideramos adequadas e necessárias ao público alvo, independente do tamanho do texto e mês a mês a resposta de mercado na forma de contatos comerciais constatam que estamos acertando muito!
Forte Abraço,
Pedro Mizcci Majeau
WEB Marketer da Negócios de Valor
Especialista em Prospecão de Clientes na WEB
Gosto de coisas simples. Não escrever mais do que o necessário. Mas, francamente, todo mundo é produtor de conteúdo. Acho isso ótimo para a liberdade de expressão. Porém, o fato de todo mundo ser produtor de conteúdo não significa que saibam escrever. Já viram quantos blog horríveis (pra não dizer outra coisa) existem por aí? E todo mundo acha que pode escrever. Bom, escrever pode, mas nem todo mundo alcança o objetivo desejado com a sua escrita.
Há talvez outros mitos sobre a escrita. Um, inclusive, é muito parecido com o primeiro, mas segue na trilha oposta: “escrever bem é escrever pouco”.
Em seu livro sobre redação publicitária, João Carrascoza mostra que escrever bem é escrever o que for preciso para comunicar: se poucas palavras forem necessárias, escreva pouco; se for preciso escrever bastante, escreva. O público alvo do seu texto, se você conseguir interessá-lo, lerá o que for escrito, independente do tamanho. Só pra exemplificar, com um exemplo que me é muito caro: “Eduardo e Mônica” e “Faroeste caboclo”, ambas canções do Legião Urbana, possuem letras imensas; no entanto, os fãs acompanhavam a banda cantando de cor.
Realmente o mito de que “escrever é privilégio de poucos” é muito forte na sociedade.
Acredito que escrever bem requer basicamente conhecimento e domínio do que está escrevendo, como você disse:
“Você é o que você escreve. Sua redação é a evidência persuasiva de sua competência, personalidade e capacidade profissional.”
Gosto do jeito que você estrutura o texto, separando os parágrafos em blocos, facilitando no entendimento da mensagem.
Utilizo sempre esta estrutura nos meus textos.