Passei os últimos quatro anos afirmando para os meus alunos que os tempos tinham mudado na seara do Webwriting. Que o estudo da informação para a mídia digital havia ampliado os horizontes, indo muito além da redação online.
Agora, era preciso pensar informação como algo bem mais abrangente: fotografia, ilustração, ícone, gráfico, tabela, áudio e vídeo teriam, na balança, o mesmo peso que o texto no meio digital. Afinal, era assim que o presente – e o futuro – se configurava.
Então, tudo mudou.
Como mágica, a necessidade de um relacionamento mais estreito entre as pessoas, e entre elas e informação, rearrumou as peças do tabuleiro mais uma vez. Buscar pessoas e informação virou nosso objetivo – era o fim infância da internet e havíamos passado a dominá-la, finalmente. O conceito de web participativa era a semente das mídias sociais, que germinou e transformou nossas vidas e a relação com o meio digital.
No centro da mudança, estava a palavra.
Confesso que me pegou de surpresa. Que o Google havia dominado o mundo todos já sabiam, mas que os usuários da web fossem dominar seu uso, isso muitos não esperavam – inclusive eu. As empresas logo perceberam que era prioridade nível zero estar bem rankeadas, e o SEO estourou. A intrincada tarefa de otimizar sites e blogs para os mecanismos de busca virou default para o mercado, e conhecimento essencial para os webwriters.
Mudou, também, a relação com a palavra.
Quem antes se via apenas como redator, precisou rever seus princípios. Entender a palavra como um sinalizador, muito além de um elemento de comunicação, foi a grande (e difícil, para muitos) virada. Aquele que era redator, amante da frase, precisava se ver dali em diante como um gestor da informação digital, amante da palavra.
Mas as mudanças não pararam por aí.
Quando a web havia, enfim, evoluído de um quase sempre caótico emaranhado de informações – e estávamos quase nos acostumando com isso – para um universo em vias de se tornar estruturado, as mídias sócias nos apresentaram o Twitter, apenas para reafirmar a palavra como agulha que costura a relação entre as pessoas, e entre elas e a informação. Xeque-mate.
Faço mea culpa, aqui.
Quando o Twitter surgiu, cheguei a dar algumas entrevistas duvidando que a ferramenta pudesse ser abraçada por públicos que fossem além do que chamo de “quadrilátero digital”: estudantes e professores de Comunicação Social, profissionais da área de Comunicação e Marketing Digital e geeks, é claro. Quebrei a cara – muitíssimo satisfeito, a bem da verdade!
O Twitter é a “superbonder” do relacionamento online, a liga que sedimenta de vez nosso contato. Mais uma vez, para mostrar que a palavra não tem vocação para coadjuvante, lá está ela, como recurso básico e principal da comunicação do microblog. É a palavra que dá acesso aos outros formatos, e voltamos ao início.
O texto, assim como a sua alma, a palavra, dá ao ser humano o que ele mais precisa da informação: o básico, o essencial, o principal. Por isso hoje me faço uma pergunta que não me sai da cabeça – até quando a palavra será nosso norte, nossa ferramenta primordial, nosso guia rumo ao universo da informação digital? A palavra será, mesmo, eterna?
Até ontem, não era o vídeo que ia comandar a informação? Onde foi parar a ideia de que tudo viria a partir da imagem em movimento? Agora revejo minhas conclusões, minha visão de presente, de futuro próximo.
“No início, era o verbo” – seria para sempre, então?
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No final do ano passado fui contratado pelo Ministério do Planejamento (Governo Eletrônico) para desenvolver o padrão brasileiro de redação para a web, mais especificamente a “Cartilha de Redação Web”, que ficou pronta agora em junho e está disponível em www.governoeletronico.gov.br (logo na primeira página ou em “Biblioteca”) para todo brasileiro baixar gratuitamente.
Voltarei ao assunto, mas, desde já, fica o convite para checar a “Cartilha de Redação Web”!
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Em agosto inicio meus cursos “Webwriting” a Distância – para mais informações, você pode enviar um email para ead@facha.edu.br. Enquanto isso, no Rio, inicio uma nova turma do curso “Webwriting & Arquitetura da Informação” em 17/08 – infos via extensao@facha.edu.br.
A todos, até breve! 🙂
[Webinsider]
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Bruno Rodrigues
Bruno Rodrigues (bruno-rodrigues@uol.com.br) é autor do livro 'Webwriting' e de 'Cartilha de Redação Web', padrão brasileiro de redação online'.
8 respostas
Pessoal, pra quem curte redação, aí vai uma dica de blog http://discutindoaredacao.wordpress.com/2010/10/03/leia-o-post/
Pedro, você tem toda razão – o estudo do amplo benefício da palavra ainda está no início, por mais que isso pareça ‘resolvido’.
Daniel, tudo bem, rapaz? 🙂 Agradeço pelo seu comentário e fico muito feliz em saber que o Portal HSM tem à frente um profissional como você – parabéns e fique em contato! 🙂
Ótimo artigo, Bruno. Faz tempo que não nos falamos, mas fica aqui registrado que as suas reflexões e os seus ensinamentos permeiam as nossas ações na web. Digo “nossas ações” por que sei que todos envolvidos com webwriting – assim como estou hoje à frente do Portal HSM (hsm.com.br) – seguimos suas orientações. Valeu! Abraço.
Olá Bruno,
PARABÉNS pelo texto!
Carlos Alexandre Borghi, comungo com sua ordem de prioridades quanto ao uso da palavra frente ao design no ambiente web.
Tenho pensamento semelhante quanto ao uso das comunicações web para os negócios, onde, no meu entendimento, o design e a tecnologia devem servir a estratégia e não serem privilegiados em detrimento desta, ou competir com esta.
Bruno, desde 1999 estudo o poder da criação da imagem mental provocada pela palavra que conduz o ser humano a uma ação e também questiono-me até quando ela manterá este poder.
Uma das soluções que vejo avançando e que pode competir com o poder da palavra é o entendimento pelos sistemas de busca da semântica dos textos, ou dos sons, o que aí sim, poderia fazer frente a grafia das palavras.
Muito Agradecido!
Fábio, seu elogio já valeu! 😉
Carlos, a informação, em seus diversos formatos, tem seus momentos: às vezes é o áudio, depois o vídeo… e a palavra a costurá-los. Por isso, vale sempre acompanhar este jogo de perto! 🙂
Olá Bruno bom dia,
Apesar de ser publicitário focado na forma e no design, acredito piamente de que a palavra como você citou e não somente ela mas como o conteúdo de uma maneira em geral deve sempre estar acima do design e do layout.
O conteúdo é que deve dar o norte para o design, e muitas vezes vemos o contrário não concorda?
Outro ponto que insisto e muito é a troca que a internet deve oferecer para seus utilizadores, o seu exemplo do twitter está perfeito – e muito digno da sua parte assumir uma previsão errônea, mas na comunicação corporativa, muitas empresas deixam a desejar não dando ao usuário, que está fora do quadrilátero, a experiência interativa.
Obrigado pelo excelente artigo Bruno.
Minhas saudações,
Carlos
Ótimo texto! Não tenho palavaras…