História das marcas: a inovação da Toyota

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Toyota – Japão. Automóveis. 1935.

Note a importância das fábricas de automóveis. A grande maioria dos processos de desenvolvimento econômico dos países considerados de primeiro mundo passou necessariamente pelo crescimento da indústria automobilística.

Não por acaso a maior economia do mundo foi também responsável por iniciar tal processo, fazendo com que o sistema criado por Henry Ford fosse um exemplo de produção para todo o planeta.

Sim, Ford mudou o capitalismo com sua técnica de produção em massa. Por causa dele os carros demoravam menos tempo para ficarem prontos, fato que diminuia o preço e conseqüentemente aumentava o consumo. O modelo Ford/Taylor de linha de produção foi copiado por diversos outros setores fabris.

Sem essa dupla não teríamos a conjuntura de consumo e produção que temos hoje. No entanto, apesar de ter sido referência durante décadas, o sistema que Ford e os EUA julgavam ser eficiente se transformou em amadorismo quando os japoneses resolveram criar sua própria proposta de linha de montagem.

toyota-logoFoi assim que a última grande revolução no sistema de produção capitalista surgiu na pequena fábrica de teares do senhor Sakichi Toyoda.

Em 1891 Toyoda patenteou seu primeiro modelo de tear. Desde pequeno tivera contato com esse tipo de máquina, uma vez que na vila onde morava existiam pequenos produtores de tecido. Certamente era um gênio, pois não teve qualquer educação formal em engenharia. Em alguns anos Sakichi mudou para a capital do Japão no intuito de vender mais teares. Seus produtos tinham muita qualidade e custavam menos que os importados. Em pouco tempo a pequena fábrica se firmou no mercado e passou a crescer.

Em duas décadas Toyoda estava não só estabilizado financeiramente, mas também era dono da uma das maiores indústrias do seu país. Sua fábrica de teares era próspera e seu filho Kiichiro tornara-se seu braço direito na administração. E foi ele que, durante uma viagem aos EUA, entrou em contato com a nova e crescente indústria automobilística criada por Ford.

Ao voltar para o Japão, Kiichiro disse ao pai que os carros eram o futuro. Aos poucos, usando o lucro dos teares, os dois passaram a pesquisar maneiras para produção de motores de combustão interna. Os testes foram tão bem sucedidos que Sakichi, agora quase aposentado, decidiu se desfazer de parte de sua fábrica de teares e investir no segmento de automóveis.

Essa foi a sua última grande decisão, uma vez que Toyoda pai morreria dali um ano. Kiichiro assume a missão e passa cinco anos para apresentar o primeiro protótipo.

Finalmente em 1935 surge o modelo A1, carro inaugural da empresa, seguido da caminhonete G1, a qual seria o primeiro produto exportado pela então Toyoda. Os dois carros tinham muitas das suas partes copiadas de automóveis Chevrolet e Chrysler, porém não foi a mecânica dos veículos que se tornou o diferencial da companhia, mas sim a maneira como os carros eram produzidos.

Inicialmente a ideia era copiar o método criado por Ford: produção rápida, em linha de montagem, grandes estoques. No entanto, o fato era que o Japão não podia contar com a mão-de-obra, mercado consumidor e os recursos que existiam nos Estados Unidos. Por isso, até o fim da II Guerra Mundial, a Toyota não produziu tantos veículos.

Mesmo depois do fim do conflito os problemas continuavam. O Japão tinha uma população pequena, trabalhadores não especializados e escassas matérias-primas. O que fazer? Copiar o modelo de Ford não era possível, então sobrou para Toyoda encontrar um método que servisse para seu país.

Nesse ponto entra em cena Taiichi Ohno. Funcionário dos Toyodas desde a época dos teares, Ohno era um engenheiro chinês dos mais geniais. Ao entrar no segmento de automóveis e lidar com os problemas de produção do Japão, ele pensou no seguinte: ora, se não temos mão-de-obra especializada, precisamos educá-la. Se não temos mercado consumidor, temos que fazer produtos baratos, agradar os clientes para que eles comprem mais e exportar ao máximo. Se não temos matéria-prima, teremos o mínimo estoque possível e faremos produtos de qualidade, tudo para evitar o desperdício.

A proposta de Ohno foi batizada de sistema Kanban. A ela muitos outros conceitos foram inseridos com o tempo (Poka-yoke, just in time, etc), no entanto vou usar essa denominação para me referir ao conjunto de iniciativas que firmou a Toyota no mercado. É claro, a linha de montagem de Ohno era baseada na ideia de Ford, objetivando a velocidade na produção.

No entanto, nada de estoques grandes e carros idênticos para todos. Na concepção de Ohno, primeiro era preciso ouvir o cliente. Que cor de carro ele queria? Potência do motor? Cor dos bancos? Todas essas informações eram enviadas para a fábrica (usando a kanban, uma ficha), fazendo com que a Toyota soubesse a preferência de seus consumidores.

Unindo isso a uma linha de montagem dinâmica, na qual poderia construir produtos diferentes, Ohno foi capaz de produzir apenas por demanda. Sem estoque, não havia possibilidade de prejuízo com mercadoria (dinheiro) parada, aumentando o capital de giro.

Outros melhoramentos foram implementados com a ajuda de Toyoda filho. Ao contrário da Ford, a Toyota não se preocupava em ser responsável pela fabricação de cada uma das peças de seus carros. A empresa terceirizou tudo, ficando à cargo somente da montagem dos veículo. Isso dava a possibilidade de pechinchar com os fornecedores, abaixando preços.

Outra vantagem do sistema Kanban era que ele exigia que os funcionários não se restringissem a saber somente sua parte na produção. Eles deviam estudar e conhecer o processo de montagem do carro como um todo, sempre preparados para impedir a produção de mercadorias com defeito (eliminação dos desperdícios).

Criando carros com essa mentalidade, rapidamente e Toyota cresceu. Imagine vender produtos baratos, adequados aos clientes e de qualidade superior? Apesar disso, muitos fabricantes pensaram que esse modelo de produção só serviria para o Japão. No entanto, devido às crises de consumo na década de 70, o princípio de produzir por demanda pôs a fábrica sob os holofotes e logo outros empresários mudaram de ideia.

O modelo da Toyota, assim como o de Ford, se espalhou por outros segmentos, adaptando-se perfeitamente à fabricação de eletrônicos. Esse foi um dos fatores que deu ao Japão a liderança desse mercado. Já a Toyota continuou sua trajetória até roubar da GM em 2007 o título de maior montadora de automóveis do mundo.

Curiosidades de sobremesa

1. A Toyota recebeu dinheiro do governo japonês no início de suas atividades no ramo automobilístico. Na verdade, a fábrica tinha como missão também produzir carros militares a serem usados na II Guerra Mundial.

2. E por que o sobrenome dos fundadores é Toyoda e da fábrica é Toyota? Mais um caso de termo mudado para que a pronúncia no exterior ficasse mais simples e fácil de lembrar.

3. Obviamente o sistema Toyota de produção superou Ford, uma vez que conseguiu corrigir seus aspectos negativos. Por isso a Toyota é hoje a maior fabricante de carros do planeta. Mais interessante é notar que a revolução econômica e industrial dos EUA e a do Japão começaram por causa dos automóveis.

4. A administração dos recursos humanos da Toyota sempre foi diferente das demais empresas. Entre os 260 mil funcionários, existem aqueles que têm cargos vitalícios e a diferença entre os salários dos operários comuns e do presidente da empresa não é tão grande.

5. Como a General Motors tomou a liderança da Ford e ficou na frente da Toyota por tanto tempo? Veremos isso em outro texto, sobre a General Motors. Até lá. [Webinsider]

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Eduardo Nicholas (eduardonicholas@uol.com.br) é escritor e mantém o blog Dicionário das marcas e o Twitter @eduardonicholas.

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