A restauração e a preservação são elementos chaves na exposição de filmes vindos dos acervos dos estúdios, para a apreciação das gerações vindouras. Os recursos atuais vêm contribuindo muito para a concretização desse objetivo.
Restauração e preservação são as duas palavras mais importantes do dicionário dos preservacionistas, e são duas ações não excludentes, que se fazem presentes há muitas décadas, para nos assegurarmos de que nada artístico criado nos campos da música gravada e do cinema sejam esquecidos ou impedidos de passar para as próximas gerações.
Em ambos os casos é fácil perceber que o momento em que o ato de criação do artista é capturado, ele se torna singular e difícil de ser repetido. Daí a importância da preservação de qualquer obra. E, se para preservar, é preciso restaurar, deve-se lançar mão do que se tem disponível, e repeti-la quando meios mais modernos e eficientes estiverem ao alcance. E aqui não se trata de nenhum tipo de obsessão pela restauração, mas sim o fato de que processos restauradores mais recentes oferecem recursos que os mais antigos não ofereciam.
Existe, e é bom que se enfatize, uma diferença significativa entre preservação e restauração: a preservação é a manutenção rotineira de uma obra, que se consegue por uma cópia 1:1 pura e simples, enquanto que restauração é todo e qualquer processo de recuperação da obra que, por motivos diversos, se deteriorou ao longo do tempo.
A restauração é sempre seguida de preservação, ou seja, uma vez terminada, a obra precisa ser copiada, usando-se um meio adequado, de tal modo que o original seja de novo resguardado. O preservacionista é também um arquivista, e a ele cabe pesquisar todo o material de fonte armazenado pelos estúdios.
E ninguém pense que é só a informação analógica que necessita de cuidados! A mídia digital também pode sofrer os males do tempo e necessita a devida atenção. Não faz tanto tempo assim, que a gravadora alemã Deustche Grammophon descobriu que as fitas magnéticas contendo gravações digitais estavam se apagando, e a partir daí, partiu para cópia do que foi possível ainda recuperar. Se a gravação digital é feita em disco rígido, é preciso copiar o conteúdo para outro disco rígido ou mídia ótica.
O problema maior da preservação é que quase ninguém consegue determinar com precisão qual seria o meio ideal para aumentar a longevidade do material registrado. Em função disso, é comum estúdios de cinema, por exemplo, terem usado formas de duplicação do original, as chamadas matrizes de preservação.
A preservação do cinema é complexa!
O cinema registra imagens em seqüência, acompanhadas ou não de áudio. A película de filme tem uma base (suporte) no qual a emulsão do material fotográfico é depositada. Ao longo do tempo, esta base mudou de composição química, trazendo consigo vantagens e desvantagens.
Devido à instabilidade da base usada para o filme de cinema, os primeiros estúdios tomaram o cuidado de fazer uma cópia de contato em papel fotográfico de cada fotograma. E o interessante é que, em plena era de mídia digital, essas cópias permitiram a recuperação completa de filmes feitos nos primórdios do cinema mudo. A passagem da cópia em papel para película novamente tem sido um trabalho feito principalmente pelos técnicos da Biblioteca do Congresso Norte Americano, e por muitas organizações e entidades sem fim lucrativo.
A instabilidade química da película de cinema
Os estúdios antigos que não fizeram estas preservações em papel perderam todos os seus filmes. O motivo é que a película cinematográfica é quimicamente instável.
Até a década de 1950, a indústria cinematográfica fez uso de película à base de nitrato, tanto para filmagem quanto para cópias de exibição. O composto usado na fabricação do filme de celulóide, conhecido como nitrocelulose, é altamente inflamável. Uma ilustração da periculosidade deste tipo de película é vista numa cena do filme Cinema Paradiso.
Desnecessário dizer que, para os preservacionistas, lidar com a recuperação de material de cinema à base de nitrato é como mexer com um estopim de pólvora! Além disso, a tendência do nitrato é reagir com o oxigênio do ar, formando ácido nítrico (HNO3), que ajuda a corroer o que sobrou de filme.
Para resolver de vez o problema de inflamabilidade do filme de nitrato, a indústria se voltou para a base de polímero de acetato, chamada de “safety film”. A combinação do ácido acético com a celulose forma o composto esterificado acetato de celulose, sintetizado ao fim do século 19. O filme de acetato de celulose evoluiu até a criação da base do triacetato de celulose, usado em filmes a partir do abandono das bases de nitrato. Este foi talvez um dos primeiros passos no sentido de aumentar a preservação de filmes, passando-os de nitrato para o “safety film”.
Os primeiros grandes estúdios a tomar esta iniciativa foram M-G-M e Disney. Além desses, Charles Chaplin e Harold Lloyd, produtores independentes e donos dos seus negativos de nitrato, fizeram o mesmo. Supostamente, esta nova base de filme deveria durar por muitos e muitos anos, sem se decompor!
A síndrome do vinagre
O que a indústria de cinema não sabia de início é que também a base de acetato tem seus próprios problemas. A sua decomposição se dá por hidrólise da ligação éster, que liga o acetato à celulose. Aqui cabe um pequeno esclarecimento aos não iniciados em química orgânica:
A formação de um éster se dá pela combinação do grupo hidroxila de um álcool com o grupo carboxila de um ácido orgânico. A estrutura genérica desta reação é dada pela equação: R1-COOH + HO-R2 ? R1-COO-R2 + H2O. R1 E R2 são dois radicais orgânicos, de um ácido (-COOH) e de um álcool (-OH), respectivamente. A união desses dois grupos gera um éster, com a combinação dos elementos restantes (o hidrogênio H da carboxila e o HO da hidroxila) formando água como subproduto da reação.
Assim, grupamentos hidroxila são potencialmente capazes de reagir com ácidos orgânicos, mas a reação é também potencialmente reversível, como indicado na equação acima. Neste caso, o processo inverso é chamado de hidrólise.
A síndrome do vinagre ocorre por conta da reversão da reação de combinação do ácido acético com a base de celulose. Ou seja, a hidrólise do polímero regenera o ácido acético, dentro da lata de filme estocado. O ácido acético (CH2-COOH) é nada menos do que o nosso conhecido “vinagre”, usado na cozinha de casa. Quando o filme em decomposição é aberto, o cheiro característico deste composto é imediatamente reconhecido.
A presença de ácido acético na lata de filme é apenas o sinal de que a película está se deteriorando. A deterioração ocorre em várias etapas, e por isso quando mais cedo a síndrome for detectada, menos problemática será a recuperação dos originais contidos na lata. A estratégia do procedimento de restauração, nesses casos, pode ser feita caso a caso.
Descoramento da película colorida
Os filmes coloridos (negativos ou positivos) são alvo de outro tipo de problema: diversos tipos de corantes são usados na emulsão dos filmes. A estabilidade desses corantes é bastante variável. Idealmente, para que uma cor dure indefinidamente, ela deveria ter o mínimo de exposição à luz, o que no caso do cinema é impossível. A energia luminosa pode desestabilizar a estrutura eletrônica dos corantes, mudando assim a sua configuração original. O resultado, na prática, é o que se costuma chamar de “descoramento”, ou perda da cor ou do tom de cor, para outra cor diferente ou esmaecida.
Um filme de cinema usado anos para a projeção irá apresentar este tipo de descoramento, e o resultado na imagem vai depender de quais dos corantes originais irão se desestruturar eletronicamente mais rápido. Em geral, há uma predominância de tons de vermelho no filme descorado, resultante das perdas dos outros componentes, verde e azul, que ajudavam a composição da cor original.
No caso dos negativos, o descoramento irá depender do método de filmagem e do tipo de negativo usado. Os primeiros processos Technicolor usados no cinema usavam 2 (vermelho e verde) e depois 3 negativos (vermelho, verde e azul – RGB ou nas suas cores complementares ciano, magenta e amarelo – CMY, com o mesmo efeito). Este último processo de filmagem foi o que melhor reproduziu toda a gama de cores, por conter as três cores primárias que, uma vez combinadas em diferentes proporções, irão dar origem a todas as outras cores do espectro da luz visível.
Eventualmente, o filme Technicolor de três negativos (1932 a 1955) foi substituído por outro de apenas um negativo, contendo as três cores em camadas diferentes, a partir de seu lançamento em 1952. O antes e depois desta evolução é mostrado a seguir:
Technicolor com 3 negativos CMY separados |
Technicolor com 3 camadas RGB em um só negativo |
A preservação do filme colorido
Outro aspecto a ser considerado, principalmente no sentido da preservação de um negativo colorido contendo as três camadas é a duplicação do mesmo naquilo que se chama tecnicamente de “preservation masters” (ou matrizes de preservação), também conhecidas como preservation negatives (negativos de preservação).
Este processo é, na verdade, o inverso da captura de imagem pela câmera: usando-se três filtros RGB, copia-se o negativo em três filmes monocromáticos separados. Estes filmes têm uma maior resistência aos efeitos do tempo e do armazenamento, podendo depois ser usados para recriar o negativo em sua totalidade. O tipo de filme usado é de grão muito fino e baixo contraste, para se obter os melhores resultados de durabilidade e preservação.
O método de separação de cores foi primeiramente demonstrado pelo físico escocês James Clerk-Maxwell, em 1861: tratava-se de um processo fotográfico de três instantâneos preto e branco, cada um com um filtro vermelho, verde e azul (RGB), que depois eram transformados em slides e projetados em uma lanterna, com o uso dos mesmos filtros de registro de cor.
Em 1906, este trabalho foi facilitado com o aparecimento do filme preto e branco pancromático, cuja emulsão contém substâncias sensíveis a todo o espectro de luz visível. Isto possibilitou a obtenção de imagens coloridas de alta qualidade, usando o processo de separação por filtros.
Quando a restauração da cor é necessária
Existem vários casos onde a informação da cor, mesmo separada, sofre com a ação do tempo. Os preservacionistas freqüentemente se defrontam com situações onde uma das matrizes de separação está deteriorada, ou uma das camadas do filme colorido único começa a esmaecer. A partir desse tempo, a estratégia de preservação implica em restauração dos elementos disponíveis primeiro.
Uma grande ajuda, neste sentido, tem sido dada desde algum tempo, pela aplicação de softwares desenvolvidos para compensar esta perda. Se o negativo da separação está, por exemplo, mais encolhido que os demais, um halo de cor será produzido depois da combinação das três cores. Hoje em dia, é possível compensar esse desvio passando as imagens primeiramente por um computador.
Em outros casos, a perda completa de uma das partes pode ser compensada digitalmente, e a partir daí a cor original ser totalmente restaurada. Isso foi feito para a cópia em DVD do filme “North by Northwest” (“Intriga Internacional”), do diretor Alfred Hitchcock, cujo negativo apresentava descoramento da camada azul (amarelo no formato CMYK). A restauração completa só foi feita depois, com o relançamento do filme em Blu-Ray.
O casamento das três camadas por processamento digital ou a compensação da cor esmaecida de um único negativo colorido (caso dos filmes rodados em Eastmancolor), através de sofisticados programas de computador, é um dos maiores avanços da tecnologia, para a preservação e reapresentação de filmes.
A preservação singular dos desenhos animados
Walt Disney ganhou a reputação, dentro dos anais do cinema, de ter sido o primeiro a produzir um filme de animação totalmente em Technicolor de três negativos. O seu proponente e fundador da Tecnhicolor, Herbert Kalmus, convencera Disney a usar o processo para a fotografia dos filmes de animação. De fato, em 1932, os estúdios lançaram “Flowers and Trees”, em technicolor, na sua série “Silly Simphonies”:
Os estúdios Disney ainda iriam trabalhar com o conceito de captura de três cores separadas, para outros de seus projetos. Um desenvolvimento de um processo específico para animação reuniu os técnicos da Technicolor com os do estúdio, resultando em um método revolucionário. É que a animação é feita com a exposição sucessiva de células desenhadas a mão, e fotografadas uma por uma. A idéia é prontamente aplicada, fotografando-se a mesma célula três vezes, com os filtros RGB. O método é chamado de “Technicolor por Exposição Sucessiva:
A técnica foi repetida com grande sucesso, para a produção do filme em Technirama de “A Bela Adormecida”:
Na edição em Blu-Ray de A Bela Adormecida é possível ver o resultado da recuperação deste tipo de fotografia. A exposição sucessiva coloca os fotogramas RGB no mesmo negativo. Assim, qualquer pequena alteração do mesmo irá afetar todos os segmentos indistintamente, e tornando quase que impossível o desalinhamento dos registros de cor, como acontece nos casos onde as matrizes de separação se deterioram de forma desigual.
Para as edições em discos para o consumidor e mesmo para a preservação de filmes, a vantagem de se trabalhar com o negativo original de câmera é óbvia: a resolução do negativo é muitíssimo maior do que a melhor cópia obtida com ele!
Para a recuperação de A Bela Adormecida, foi ainda possível escanear cada fotograma do negativo separadamente, à semelhança de filmes comuns no processo de telecine digital, porém recombinando os segmentos RGB para compor o fotograma colorido completo.
Dá para perceber, na captura da animação para vídeo, a vantagem do próprio negativo armazenar as matrizes de separação numa só seqüência. Porém, nada impede que o estúdio use esses fotogramas RGB para preservar o negativo separadamente, como em qualquer outro filme colorido.
A contribuição da mídia moderna: você vê (e ouve) muito mais do que devia!
Freqüentemente, filmes vindos de estúdios diversos contêm imagens com pouca nitidez ou resolução, o que nada tem a ver com o desgaste natural ou com a idade do filme. Com os recursos de hoje em dia, entretanto, é possível tornar esses filmes melhores do que os seus originais de câmera, em certos casos, com resultados até surpreendentes. Por causa disso, é bom que se diga, nem tudo que se vê em mídia moderna (DVD, Blu-Ray) é o reflexo do trabalho de restauração do original, mas o aprimoramento de um material que não teve na sua origem tanta qualidade assim!
Além disso, todos os filmes pré década de 1950 e a maioria dos filmes na década de 1970 nunca tiveram trilha original para exibição em som multicanal. No entanto, até mesmo filmes mono antigos são revitalizados com extensão para áudio em formato 5.1.
Uma situação digna de nota é a restauração de A Conquista do Oeste, pela Warner Brothers. O filme, originalmente produzido e rodado em Cinerama de três películas, teve cada uma delas escaneada digitalmente com 2 mil linhas de resolução, limpadas e unidas, de tal maneira, que os traços de separação das três películas não são mais vistos! O resultado pode ser visto em todo o seu esplendor, em sua versão em Blu-Ray, já comentada nesta coluna.
Para a preservação dos acervos, o armazenamento é a chave de tudo!
À baixa temperatura, tanto filme em base de nitrato quanto triacetato de celulose podem durar anos a fio ou até nem se deteriorar. Sem armazenamento adequado, filmes à base de nitrato simplesmente viram pó ou incendeiam.
Muitos estúdios, inclusive aqui no Brasil (caso da Atlântida Cinematográfica) perderam seus negativos de nitrato em incêndios, quando então a perda é de 100% do acervo.
O advento da televisão fez muitos estúdios acordarem. Até então, os filmes produzidos eram estocados após algum tempo de exibição e depois nunca mais viam a luz do dia. A televisão, precisando de material de cinema, mudou tudo. A necessidade de exibir filmes arquivados pelas emissoras de TV fez a maioria dos estúdios revirarem os seus arquivos. Daí para frente, a consciência de que a restauração é necessária para se preservar a memória, tornou-se peça chave no movimento preservacionista.
A telecinagem e a passagem do filme, usada para videodisco, videocassete, DVD e agora Blu-Ray também foram formas de escoar as produções dos estúdios, e estimular a preservação de matrizes, áudio e fotografia. O estúdio lucra hoje em dia muito mais com a mídia doméstica do que com a exibição nos cinemas, até mesmo a curto prazo. Lançamentos de filmes exibidos recentemente em DVD ou Blu-Ray, deixaram, por isso mesmo, de causar surpresa! [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
14 respostas
Prezado Paulo,
Sou jornalista e entusiasta da história do cinema brasileiro, sobretudo de sua fase primitiva, que compreende o período entre 1896 a 1908. E nesse período do que convenciono chamar da pré-história do cinema brasileiro, um personagem sempre me atraiu, Afonso Segretto, jovem imigrante italiano responsável pela primeira filmagem no Brasil.
Há algum tempo tenho pesquisado e trabalhado o projeto de escrever sua biografia. Na verdade, uma biografia romanceada, uma vez que terei que me valer da ficção para preencher aspectos da sua vida jamais levantados por pesquisadores.
A rápida passagem de Afonso pelo Brasil é pouco conhecida e está fortemente eclipsada pela atuação do irmão mais velho, Paschoal, sobretudo na área de entretenimento do Rio na virada dos séculos XIX a XX. A bibliografia do cinema nacional restringe a história de Afonso a um parco registro de pouco mais de uma década como cinegrafista da empresa do irmão. Não oferece informações sobre sua vida pregressa, na Itália, nem fornece pistas sobre seu destino. Nos primeiros anos da segunda década do século passado, Afonso, simplesmente, “desaparece” da história oficial do cinema brasileiro.
A “vista” da entrada da baía da Guanabara (Rio de Janeiro) feita por Afonso Segretto a bordo de um navio vindo da Europa é tida oficialmente como o primeiro registro em película do país de uma imagem em movimento.
Essa fita teria sido perdida no incêndio, naquele mesmo ano, que atingiu o prédio em que se localizava a empresa cinematográfica de Paschoal. O incêndio foi causado pela autocombustão do suporte em nitrato de celulose daquela película pioneira e demais dezenas ou centenas de fitas inadequadamente armazenadas naquele local.
A descrição do incêndio abrirá o primeiro capítulo da biografia. E gostaria de descrever a origem desse incêndio de maneira pormenorizada, a partir da reação de degradação da nitrocelulose, motivada por sua combustão pela elevada temperatura do ambiente interno onde as películas se encontravam, devido à forte onda de calor por que atravessava a cidade.
Vale dizer, descrever o passo a passo do processo de combustão do nitrato de celulose, em nível molecular. Explicar didaticamente como as moléculas de hidrogênio, oxigênio e nitrogênio do nitrato de celulose se comportam para reagir e gerar a combustão, desencadeada pelo calor do ambiente externo.
Daquilo que venho pesquisado, me parece que grupamentos de nitrato (~NO2) são altamente instáveis, especialmente em contato com moléculas orgânicas (TNT = triNITRO [3 moléculas de nitrato] + glicerina [molécula orgânica]). Em termos de termodinâmica, isso significa que a energia de ativação desses compostos é baixa.
Li, também, que a reação de degradação da nitrocelulose (NC), pode se dar de duas formas: na primeira, que é intrínseca à molécula, a NC perde um grupo de óxido de nitrogênio; na segunda, que ocorre inicialmente em decorrência da primeira reação, a recém-formada molécula de óxido de nitrogênio “ataca” e degrada a molécula de NC.
Não sei se fui claro sobre a informação de que preciso ou o que disse, acima, está correto ou faz algum sentido, mas gostaria muitíssimo de contar com sua ajuda, que será devidamente creditada nos agradecimentos do livro, para que me esclarecesse as dúvidas aqu colocadas.
Caso você queira mais informações, fique à vontade para me adicionar no whats’app.
O número do meu celular é o 55 27 98131 5599.
Aguardo retorno
Atenciosamente,
Alcindo Pacheco Netto
Olá, Julio,
Eu ando afastado de bibliotecas faz anos, me restringindo a pesquisas on-line, de documentos ou fontes que eu acho confiáveis (nem todas são, infelizmente). A maioria dos links eu deixo no corpo do texto da coluna.
Como eu expliquei na resposta anterior ao leitor Ney, os melhores contatos são aqueles com as pessoas de fato envolvidas com o laboratório de restauração: Cinemateca Brasileira, Cinédia e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
O Labocine, que também fazia restauração de película, fechou as portas, caso contrário seria também uma boa alternativa.
Mais do que isso não posso lhe ajudar, e boa sorte no seu esforço!
Boa noite Paulo, li seu artigo e achei muito bom. Estou em processo de elaboração de um projeto de pesquisa no que diz respeito à restauração e conservação de filmes e gostaria de saber se você tem conhecimento de alguma pesquisa relacionada ou bibliografia sobre o assunto para que eu possa aprofundar mais o assunto? De antemão digo que o seu texto já faz parte da pesquisa. Grato
Prezado Ney,
A minha sugestão é que você entre em contato com o pessoal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro ou da Cinemateca Brasileira, em São Paulo (http://www.cinemateca.gov.br/).
Infelizmente, mandar material para mim não iria lhe adiantar nada, porque a minha área de química é outra e eu estou longe de qualquer laboratório há muito tempo. E é uma pena que o Labocine tenha fechado as portas, porque eles lá faziam este tipo de trabalho.
Outro contato que talvez possa lhe ajudar é o da Cinédia (http://www.cinedia.com.br/). A sua atual proprietária, Alice Gonzaga, filha do lendário cineasta, fez toda a restauração do acervo sozinha, e portanto com larga experiência em película de nitrato ou celulose.
Note que a restauração tem um custo alto, mas se o filme que você achou for importante é possível você ter o custo arcado com a entidade que fará o trabalho.
Prezado Paulo Roberto,
Li sua matéria sobre restauração e preservação do cinema. Necessitava entender sobre a deterioração de fitas cinematográficas fechadas em rolos metálicos. O que me levou a esta pesquisa foi que ganhei de um amigo um rolo de filme muito antigo totalmente fechado numa embalagem metálica com uma etiqueta bem desgastada pelo tempo que trás o nome da origem do filme: MINISTÉRIO DO EXÉRCITO. O título do filme consegui ler com uma lupa: TEMPO FUTURO TEMPO. Consegui abrir a embalagem metálica e a situação do filme estava como relatou em sua matéria, tinha ocorrido a síndrome do vinagre e deteriorou o carretel, gerou muita ferrugem e comprometeu a fita. Limpei o excesso da sujeira e pensei que estava tudo perdido e fui desenrolando a fita e para surpresa minha, duas ou três voltas do filme estavam de fato deterioradas, mas o restante dava para ver as imagens, por isso penso que tem recuperação. Se houver interesse, me envie um email que mando umas fotos para você dar uma olhada e ver se tem como recuperar, pode ter alguma matéria muito interessante por se tratar de um filme antigo do Exército. A fita estava todos esses anos num ferro velho e nunca foi aberta.
Muito Agradecido.
Oi, Rafael,
Pena que o Webinsider não é meu site. Eu cheguei aqui a convite do jornalista Paulo Rebêlo, que muito me honrou.
Vi o seu blog, e o seu currículo. Sendo você um professor e pesquisador da área de cinema, não sei que tipo de ajuda lhe poderia prestar. Em todo o caso, eu lhe mando um e-mail, e a gente pode trocar algumas idéias, com todo o prazer.
Abraço e obrigado pela leitura.
Caro Paulo Roberto,
Foi um prazer descobrir o seu site a partir dos artigos que li na http://www.in70mm.com. Percebo que temos vários interesses em comum e gostaria de entrar em contato para conversarmos melhor. Além de manter um blog sobre preservação audiovisual, estou realizando pesquisas sobre a tecnologia do cinema brasileiro, especialmente sobre a passagem para o cinema sonoro no Brasil nos anos 1930.
Parabéns pelo site e espero manter contato.
abs
Rafael de Luna
Olá, Rogério,
O processo de colorização de filmes não está de todo abandonado. Na versão em Blu-Ray do filme “It’s a wonderful life” (“A felicidade não se compra”, de Frank Capra, a cópia colorizada está incluída em disco separado.
De tempos para cá, a colorização é feita com o uso de programas de computador, que analisam os níveis de cinza e “interpretam” a cor mais próxima da qual eles são derivados. Se você reparar bem, o processo é apenas uma aproximação, e não a reprodução da cor exata.
A colorização de filmes nunca foi, é bom que se diga, bem aceita pela comunidade de cineastas ou cinéfilos. E o motivo é simples: os efeitos fotográficos, sejam monocromáticos ou coloridos, são idealizados pelo cineasta, de comum acordo com o seu diretor de fotografia, tornando-se assim parte integrante e indissociável da linguagem cinematográfica. Ao colocar cor numa captura de cena que foi projetada para filme monocromático se adultera as intenções do cineasta.
Na época em que essas colorizações tomaram impulso, Orson Welles fez campanha contra Ted Turner, para que Cidadão Kane não fosse colorizado. É fato que foram feitos testes com o filme (eu cheguei a ver clipes num documentário), mas o projeto foi cancelado, segundo historiadores porque o contrato de Welles com a RKO rezava que o filme fosse preto e branco, e com isso os advogados de Turner o teriam desaconselhado a mexer no filme, para evitar algum processo na justiça.
Como cinéfilo, e se você me permite dar a minha opinião nisso, eu acho a colorização uma adulteração criminosa, porque ela destrói a obra dos cineastas, sem acrescentar nada de útil a ela. Imagine você o oposto: digamos que alguém pegue a magnífica fotografia em Technicolor de “E o vento levou” e a transforme em preto e branco. Toda aquela dramaticidade estaria perdida, concorda?
Eu não tenho coragem de assistir o filme de Capra, com aquelas tomadas expressivas do rosto da atriz Donna Reed, com uma cor que não convence, e é nesses momentos em que o comércio não pode ter precedência sobre a obra do cineasta, sob qualquer hipótese.
Olá Paulo
Brilhante esta matéria, afinal o que seria o cinema de hoje sem as experiências do passado ? Afinal o processo do cinema atual aprendeu (e muito) com as películas antigas. Mas queria citar um tema, que não tem sido abordado a muito tempo:
A colorização de filmes.
Paulo, por que as distribuidoras pararam de realizar o processo de conversão de filmes de grandes bilheterias de P&B para Colorido ?
Por acaso poderia informar como é feito ?
Esse é um tema que desperta muito minha curiosidade.
Olá, Honório,
É claro que essas questões são importantes, não só para os aficionados como também para os colecionadores.
Deu a Louca no Mundo foi lançado nos Estados Unidos em 2.55:1 em DVD, mas no Brasil não. A única falha da edição americana foi omitir todo o segmento da música de abertura, contida na edição de luxo em laserdisc, que eu tive anos atrás.
O filme foi rodado em Ultra-Panavision (2.75:1), para ser exibido em Cinerama 70. Na sua primeira exibição no Brasil, ele foi mostrado em Panavision (2.35:1), mono. Depois, foi reprisado em toda a sua glória, no fim dos anos 60, em Cinerama.
Uma relação das cópias e versões está mostrada nesta página: http://www.imdb.com/title/tt0057193/technical
O disco americano ainda está à venda, e de repente você consegue alguma revenda que o traga para você. O pessoal de DVD World acho que pode fazer isso. Não há, por enquanto, sinal do disco em Blu-Ray.
Bom dia, Dr. Paulo. Acabo de ver o anúncio de lançamento[DVD WORLD] de “DEU A LOUCA NO MUNDO”. Mas, verificando as especificações do DVD, é 3 x 4 [standart]. lembro-me que em 1.967 projetei esse filme no cinema no qual trabalhava e era cinemascope. Mas, como sei que foi lançado em 70mm, pergunto: Este DVD estaria adaptado, com cortes nas laterais,se copiado do 35mm, ou, se copiado do 70mm não teria tanta diferença?
Comprei “AVATAR”, sendo copiado do IMAX[deduzo],ficou com uma tela muito bonita[wide scren]
Desculpe-me incomodá-lo. Mas para mim não são questiúnculas. è que tenho comprado vários DVD’s por paixão e depois vem o arrependimento por não ter notado antes esses quesitos.
Procurei muito, muito mesmo, esse DVD no Mercado Livre e em outros sites. E agora está aí. Tomara que o sr. possa esclarecer. Em contrário não vou comprar. Continuarei “na saudade”.
Sabendo que o Celso Daniel vai ler. nem vou escrever para ele. Já espero e agradeço informação dele também, se tiver.
Obrigado.
Oi, Celso,
Pois é, tudo isso é verdade. Mas, algum tempo atrás, eu li reclamações em fóruns, de operadores e pessoas ligadas à distribuição de cópias, que películas contendo trilhas em Dolby Digital e principalmente SDDS, estavam se deteriorando com muita facilidade.
Uma das maiores dificuldades dos atuais “revivals” de películas em 70 mm é justamente o fato de que cópias antigas estão totalmente descoradas, a maioria com um tom avermelhado no fotograma todo. É possível ver o estado delas em alguma clipes de vídeo do Youtube, se você tiver paciência para pesquisar.
Se isto não é um forte motivo para se preservar originais, então eu não sei mais o que dizer.
Boa tarde Paulo,
Ótimas informações que você nos passa. Eu não sabia que os filmes eram copiados em papel fotográfico!
As cópias de antigamente não tinham muita resistência. Você certamente se recorda das falhas na projeção ocasionadas pela película que arrebentava com facilidade. Aqui no interior a programação era muito atrazada e quando chegava as condições eram ruins e era um deus nos acuda a cada projeção… O público evidentemente “chiava” sem entender o sufoco que o operador passava para colar e emendar os fotogramas danificados.
Hoje, o material é bastante forte e dificilmente ocorre o que acontecia no passado.
Tenho em mãos uma tira grande do 70mm. e não se consegue rasgá-la por mais força que se imprima.
Abraço.