Há 10 anos, em 2000, quem precisava contratar especialistas digitais frequentemente se deparava com um personagem batizado por Michel Lent (VP de Criação da Ogilvy Interactive) de “estragadinho da web“: jovem, entre 20 e 25 anos, com uma autoestima hiper elevada, totalmente fora da realidade salarial e com baixíssima capacidade de entrega real.
Como a escassez de mão de obra era imensa, o mercado atuava “estragando” jovens que, sem orientação, experiência e principalmente sem formação acadêmica, se vendiam ao maior lance do leilão. Este era o cenário no ano 2000, pouco antes do estouro da “bolha” e da evasão de mão de obra que se seguiu.
De 2000 para cá aconteceu um grande gap: um crescente desinteresse pelas profissões relacionadas à internet devido à “tragédia” vivida por quem apostou na Web em 2000 e viu o sonho se desfazer de uma hora para outra. Os que persistiram e continuaram apostando no mercado digital são hoje os poucos profissionais sêniors que se desdobram para dar conta da oferta de oportunidades e necessidade por parte das marcas existentes.
Hoje vivemos um segundo boom de oportunidades de desenvolvimento digital.
Anunciantes percebem que a participação das classes C e D na internet é uma realidade. Saber o que fazer neste ambiente e estabelecer presença no meio digital é imperativo e requer uma estratégia bem traçada.
Aí está o nó da questão do mercado de trabalho:
1. Ainda não existe um direcionamento digital estratégico consolidado em grande parte dos clientes, agências, veículos, produtoras e consultorias.
2. A mão de obra operacional, que foi esvaziada da época da bolha para cá, é ainda escassa contribuindo para o “troca troca” de profissionais entre empresas, o que acaba gerando a segunda leva de “estragadinhos”.
Para Olavo Ferreira, diretor comercial do Yahoo Brasil, que trabalha com midia digital desde 1998 quando decidiu deixar a Abril S/A para arriscar-se no novo mercado, 10 anos atrás, “ninguém sabia nada. A linguagem era desconhecida para todos. Quem sabia um pouco ganhava espaço logo. Você encontrava muitos jovens em cargos altos… Jovens com conhecimento em tecnologia mas sem nenhuma escola em negócios, gestão, mídia.”
Pouca bagagem já fazia muita diferença. O cenário hoje é outro.
“A indústria avançou e temos agora vales mais sustentáveis. As empresas definem suas estratégias e para isto precisamos de gente que entenda de internet, que tenha bagagem digital, mas, mais do que isto, que tenha experiência em gestão, negócios, que seja um profissional mais completo”, diz Olavo.
Como solucionar este gap, este “apagão de mão de obra” digital?
Falta gente capacitada na área de marketing do anunciante, nas agências, nos veículos, produtoras e consultorias. “Ao invés das empresas ficarem literalmente roubando os talentos umas das outras, deveríamos ter sempre gente nova sendo treinada”, conclui Olavo.
Para ter gente boa, fluentemente digital e capaz de dar conta de tantas oportunidades, o mercado tem que investir na formação de profissionais o mais rápido possível.
Um exemplo de boa gestão e de investimento em formação de novos profissionais é o da agência F.biz, que, nascida em 2000 e operando como agência completa desde 2005, orgulha-se de ser uma empresa que investe pesado em recrutamento, seleção e treinamento de novos talentos para o mercado digital.
“Nossa retenção é muito boa e procuramos sempre criar oportunidades para os nossos colaboradores, seja através de um plano de carreira, avaliações semestrais, programa de estágios… para você ter uma ideia, um de nossos sócios hoje era nosso estagiário”, afirma Paulo Loeb, sócio e responsável pela área de Atendimento da agência.
Paulo acredita também que temos um cenário um pouco diferente do de 2000. Para ele o cliente está muito mais conhecedor do meio digital, mais exigente e demandando das agências uma inserção mais estratégica. Isso tem feito com que as agências digitais tenham que começar a integrar em suas disciplinas além do conhecimento especialista digital, o tradicional e secular conhecimento de marca, posicionamento, estratégia de comunicação.
“O desafio agora é entender e traçar uma proposta de valor para as marcas dentro de um novo raciocínio, que engloba toda a inovação digital”, finaliza Loeb.
Renato Dias, gerente de internet da Natura, desde 2000 no mercado web, acredita que a escassez de profissionais especializados será suprida naturalmente no médio/longo prazo, pois os meios digitais retomaram sua importância e tornaram-se estratégicos para as empresas. “Assim como em outros segmentos, a valorização de determinadas profissões é o que gera o interesse dos jovens por um ou outro mercado de trabalho”.
Renato destaca que a chegada da geração Y ao comando das empresas também influenciará neste cenário, uma vez que essa geração cresceu tendo a internet como seu principal meio de comunicação. “No entanto, a educação formal de profissionais é fundamental para acelerar este processo e suprir este gap no curto-prazo”, conclui.
Entidades como o IAB têm um papel fundamental nesta história. O IAB já sabe e está envolvido em várias iniciativas ligadas à educação.
Uma delas, o curso de Mídias Digitais da Fundação Getúlio Vargas, nasceu das conversas entre Pedro Cabral, atual CEO regional do Grupo Isobar e presidente do IAB Brasil, e Amyris Fernandez, Doutora em Comunicação e consultora em Mídias Digitais, responsável pelo Comitê Transversal de Educação do IAB Brasil e atual coordenadora do curso de Mídias Digitais da FGV.
“O Pedro reclamava da falta de gente para trabalhar e eu há 12 anos lutava por poder concretizar o sonho de implementar um curso como este”, conta Amyris.
Para ela, que é uma entusiasta da educação voltada para mídias digitais, uma solução para “remediar” a falta de gente no mercado seria criar um curso de graduação completo e também investir na aculturação digital nos altos escalões. “É preciso sensibilizar o alto executivo para além das soluções pragmáticas. O ideal seria uma imersão digital dos dirigentes das empresas na realidade do usuário”.
Para termos um mercado maduro, forte e senhor de seus investimentos, é importante que os macro gestores realmente apostem, vistam a camisa e respirem digitalmente. Para isto é preciso ousar, arriscar e, principalmente, investir na educação digital estratégica dos gestores sêniors e na formação básica e contínua de novos talentos.
Com isto, com certeza teremos, para além das fronteiras do digital, o crescimento do mercado de comunicação como um todo. [Webinsider]
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9 respostas
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Funcionário aposentado do TRT da 5ª Região, BA.
O R&S no Brasil está vergonhosamente defasado e prostituído. Em paralelo, os Profissionais Qualificados assistem todo dia, na mídia, o alarde do “apagão de mão de obra” e a importação de Profissionais dos EUA, Europa etc..
A expectativa de vida do brasileiro aumentou, mas a baixíssima qualificação do R&S – terceirizado sabe-se Deus como e sem qualquer regulamentação, fiscalização ou atualização (avalia-se candidatos via Wartegg, Quati e Palográfico há 30 anos… agora aplicados por estagiárias de cofrinho de fora e lastimável Português…), exclui os Profissionais acima dos 40 anos.
Claro: não há comprometimento com o “core business” do contratante, não há postura ou competência para avaliar Profissionais Experientes. Com a geração “Y”, ao menos as recrutadoras podem entabular algum diálogo(???…).
No LinkedIn formaram-se diversos grupos de discussão a respeito. São os maiores, de maior longevidade, recordes em número de participantes e posts – todos a este respeito. Cada depoimento!…
Tanta indignação fez nascer uma Associação Formal, em busca de soluções. A coisa é séria e já se fala em incentivos fiscais ou sistema de cotas.
Eis o primeiro release divulgado pelo Grupo:
O OUTRO LADO DO “APAGÃO DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA”: ABEPEX
EM REDE SOCIAL, EXECUTIVOS E PROFISSIONAIS EXPERIENTES, “BABY BOOMERS” E “GERAÇÃO X”, REPUDIAM A CAMPANHA MASSIVA ATRAVÉS DA MÍDIA ACERCA DA FALTA DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA PARA CARGOS DE GESTÃO E LIDERANÇA NO BRASIL, E REAGEM AO ANÚNCIO DA IMPORTAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE PAÍSES RECESSIVOS. UMA ASSOCIAÇÃO FORMAL – ABEPEX, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EXECUTIVOS E PROFISSIONAIS EXPERIENTES – ESTÁ NASCENDO DA INDIGNAÇÃO E BUSCA CONSCIENTIZAR EMPRESÁRIOS, PODER PÚBLICO E ENTIDADES RELACIONADAS SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DA JUNIORIZAÇÃO EM CARGOS DE GESTÃO, VIA A TERCEIRIZAÇÃO DESASTRADA DE SERVIÇOS DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO.
A ABEPEX é fruto do Grupo ABEPEX, criado em um dos grupos de discussão de executivos experientes da rede social LINKEDIN (rede que conta atualmente com adesão de mais de um usuário por segundo), onde se destaca o Grupo “Brasil: Vagas Executivas”, no qual, desde novembro de 2008, 54.258 (número crescendo aceleradamente) participantes, em todo o Brasil, compartilham as dificuldades que encontram em sua busca por recolocação. Em menos de 1 mês, em fase avançada de formação e formalização – CNPJ, sede, estatuto etc. – a Associação já conta com cerca de 800 pré-membros ativos: Profissionais de nível superior e oriundos dos mais variados segmentos de Mercado; site em construção (www.abepex.org) e “representações” locais, com reuniões já em andamento.
O objetivo do Grupo e da futura Associação, em última instância, é defender os legítimos interesses de Executivos e Profissionais Experientes com vistas ao seu desenvolvimento humano e profissional; proporcionando permanente colaboração e patrocinando atividades que visam sua busca de atualização e recolocação no Mercado de Trabalho.
Executivos e Profissionais Experientes: vítimas do preconceito “etário” em um país onde a expectativa de vida ativa de Profissionais cresce e o Mercado, – após a “juniorização” em posições de decisão e terceirização do Recrutamento & Seleção via consultorias de RH -, não acompanha essa realidade e discrimina Profissionais acima de 40 anos, sob o mote da “desatualização” ou da “incompatibilidade com novas tecnologias”.
O Grupo ABEPEX chegou a esta conclusão através das inúmeras discussões constantes no LinkedIn, sempre acerca da mesma situação: a dificuldade de recolocação para executivos e Profissionais “Seniors” (a partir de 40 anos). Recorrentes depoimentos e desabafos, casos reais, questionamentos e busca de soluções geraram inúmeros tópicos de discussão – um deles o mais movimentado da Rede: “Como encarar o fator” idade “no mercado de trabalho e no mundo corporativo?”, com 2.921 posts, criado em 5/02/2010.
A discriminação é ilegal, mas praticada abertamente por “agências de emprego” – que se disseminaram em abundância e não sofrem nenhuma regulamentação. Diariamente são publicados “anúncios” de vagas com preconceito explícito acerca de idade, sexo, aparência, local de residência etc.. A ABEPEX pretende tornar pública esta situação para toda a sociedade, pleiteando ações imediatas por parte de Empresários, Gestores, Autoridades e Entidades reguladoras e formadoras de opinião.
A defesa do grupo de Profissionais “Seniors” já teve, na prática, algumas iniciativas, mesmo em âmbito político, que não foram adiante, por falta de interesse da sociedade ou de representatividade desta faixa de Profissionais. A ABEPEX quer trazer a questão à pauta e conscientizar sobre o interesse da matéria a TODA a população – pois todos passarão pela mesma situação, a curto ou longo prazo.
Sob a ótica do Grupo e da futura Associação, a prioridade de recolocação precisa ser dos Brasileiros, em seu próprio país, sendo inadmissível que um Mercado de Trabalho tão farto de Profissionais Experientes, de nível superior, Brasileiros, desempregados – embora comprovadamente qualificados -, como seus membros, seja livremente ocupado por estrangeiros vindos de economias recessivas – realidade claramente demonstrada pela quantidade de vistos de trabalho concedidos nos últimos meses, em paralelo à diária campanha de divulgação do falacioso “apagão de mão de obra qualificada”, nos mais diversos meios de Comunicação.
Após completa a sua regulamentação, a ABEPEX também promoverá a aproximação dos Profissionais e Empresas associadas através de treinamentos, cursos, consultorias de serviços, pesquisas, seminários, congressos e bancos de talentos para permanente intercâmbio de informações visando os processos de desenvolvimento profissional e humano de seus membros, sob a égide representativa da Entidade. Isto propiciará o constante aperfeiçoamento, a atualização profissional e o aprimoramento técnico e cultural entre os Participantes, mantendo-os aptos a exigir um relacionamento ético e respeitoso por parte do Mercado, via um organismo forte e representativo dos interesses dessa classe.
Em “bloco”, esses Profissionais “Seniors” pretendem obter maior força em suas reivindicações ao Mercado de Trabalho e à Sociedade Brasileira, e provam que, em termos de adaptação às novas tecnologias, participam e fazem uso ativamente do poder das Redes Sociais e da Mídia Digital.
São Paulo, 16 de abril de 2011.
Assessoria de Comunicação Grupo ABEPEX.
Contato para maiores informações:
Linda Cristina – lcristina123@hotmail.com – Presidente do Comitê de Fundação ABEPEX.
Willian do segundo comentario, voce disse tudo. Formacao tradicional nao quer dizer muita coisa. O que deve ser feito e’ acabar com esse preconceito que existe contra nos, os auto-didatas.
Olá Ana Clara Cemano,
O fotografia que você faz do cenário que se apresenta é fenomenal.
Quando você pontua a necessidade de Profissionais WEB dominarem mais do que Tecnologia, mais do que Design, como também Gestão e Negócios; nos últimos 5 anos é o que percebo junto aos meus pares.
Mesmo com a extensão do significado de Design, e a tecnologia que o suporta, muitas vezes Design e Tecnologia são colocados acima da estratégia e por fim a comunicação construida pouco cumprem função de negócios.
Muito Agradecido!!
Pedro Mizcci Majeau
Especialista em Prospecção de Clientes e Captação de Alunos
Ana, na minha opinião o cenário é um pouco mais pessimista. Temos 2 tipos de profissionais faltando:
1) o profissional técnico, que pode ser formado por meio de cursos, treinamento e de uma dose de talento.
2) o profissional administrativo – geralmente um profissional técnico que se torna administrativo com o desenvolvimento de sua carreira – esse é raríssimo, pois nem todos os técnicos conseguem desenvolver seu lado business.
O perigo é que hoje a internet não consegue atrair sequer os profissionais técnicos para um meio que continua crescendo aos dois dígitos. Além da grande oferta de vagas, o que a internet oferece? Altos salários? Plano de carreira? Qualidade de vida? Benefícios? Bônus?
Por exemplo, um engenheiro de software prefere trabalhar em um banco ou com internet? Se tivesse escolha, um recém-formado iria para uma agência on, off ou para o marketing de uma empresa?
Esse problema que não é específico de nossa área. Por exemplo, muitos engenheiros hoje trabalham no mercado financeiro, pois há perspectivas financeiras e de carreira maiores do que em engenharia.
Será que tem mesmo agências investindo em recrutamento, não é isso que eu vejo, o que eu vejo é sim esse jovens profissionais ocupando bons cargos e barrando a contratação de profissionais com poder elevado de entrega que possa comprometer seu cargo.
Fiquei aberto ao mercado por algum tempo e quase chorei por ver o despreparo de gestores de planejamento e mkt digital.
Vamos só corrigir uma coisa:
” – AS AGÊNCIAS – tem que investir na formação de profissionais o mais rápido possível.”
As empresas de verdade já fazem isso.
Por isso fiz parte desse GAP, migrei de agência para uma empresa de grande porte. Não volto mais! Talvez só como investidor.
Ana,
Tenho apenas um comentario sobre o assunto,analisando de forma clara e direta:
A mão de obra diminuiu, pois o stress das agencias, das pessoas e dos desenvolvedores esta tão grande, e o salario cada vez menos, que o ” GAP ” prefere trabalhar por conta propria.
O resultado é melhor, as agencias gastam apenas o necessario, e o mercado freelancer esta sendo a jogada da vez. Sendo assim o ” gap ” é a resposta dos webdesigners e desenvolvedores a prol de um resultado financeiro mais recompensante e menos setressante. Ser autodidata é um luxo, que apenas poucas pessoas tem capacidade de desenvolver naturalmente. E que a faculdade infelizmente não ensina na vida real, vide conta tenho muitos colegas formados em faculdades diversas , que não obtem resultados no mercado da publicidade, web e diversos em geral .
Até mais!
Ana,
Ainda acho que educação formal é a solução.
O Renato (Natura) disse tudo: “… a educação formal de profissionais é fundamental para acelerar este processo e suprir este gap no curto-prazo”.
O mercado ainda é excessivamente autodidata, vide a proliferação de ‘especialistas’ em mídias sociais nos últimos anos (eles multiplicam-se mais que gremlins em uma piscina).
O profissional autodidata foi essencial no início da web comercial, agora é um retrocesso.
Iniciativas com a da Amyris na FGV, e a de tantos outros(como eu mesmo, que fui chamado para criar a pós em Mkt Digital da FACHA em 2007), é que evitam tragédias maiores.
Roda, roda, e tudo termina no ponto crucial: educação.