Nenhum fenômeno de bilheteria lançado em 2010 conseguiu surpreender tanto quanto “A rede social”. Ancorado na popularidade do Facebook, o filme oferece como maior atrativo contar a história de Mark Zuckerberg – o mais jovem bilionário no ranking da revista Forbes.
Aos 20 e poucos anos, Zuckerberg apresenta, no limite – como mostrado no filme –, as virtudes e os vícios dos jovens inteligentes, impetuosos e ambiciosos da “era digital”.
Uma particularidade dos cerca de 73 milhões de pessoas entre 20 e 30 e poucos anos denominada de Geração Y? Não! A história é pródiga em exemplos de jovens extraordinários e que mudaram o mundo. Talvez o fato novo seja que jovens como o criador da mais popular rede de relacionamento estejam revolucionando o mundo dos negócios. Aliás, estão criando o mundo dos novos negócios e novos mercados.
Um fenômeno da Era Digital? Em grande parte sim. A Era Digital, com suas possibilidades quase ilimitadas, acende a fogueira da curiosidade (e das vaidades, claro) e da tentação de testar limites, algo inerente aos jovens. Uma conseqüência é o pânico dos nascidos na transição analógico-digital (Geração X) e os nascidos na era analógica (baby boomers) em gerenciar o que é ingerenciável (como pais ou como gerentes): paixões! E um mundo de possibilidades nunca antes imaginadas.
Uma característica dessa realidade, ao mesmo tempo instigante e deletéria, é a velocidade, a urgência e ansiedade gerada pela sensação de obsolescência. A inovação de ontem será ultrapassada amanhã. A abundância, e não a escassez de recursos, informações e de possibilidades se torna um problema. E gera culpa, nunca mitigada, numa geração quase sem culpa. Não mais a dicotomia: capitalismo ou socialismo? Só a urgência: ser feliz aqui e agora! (sem as questões filosóficas que “ser feliz” pode suscitar).
Quem, além da geração Y, está mais adaptado a um mundo em que a única certeza é a mudança contínua e vertiginosa?
Quem, senão um Y, exposto a dispositivos digitais desde a infância, pode lidar, com invejável desenvoltura, com as novas tecnologias, incluindo a grande capacidade de navegar e explorar a Internet de forma intuitiva?
O que resta ao menos adaptados, os X, os baby boomers e aos que vieram antes, senão criar as condições para que os da Geração Y façam o que sabem fazer melhor?
Vivendo nas redes sociais, os Y estão mais propensos em confiar naquilo que se espalha no marketing viral do boca a boca do que na publicidade tradicional, e por isso se adaptam facilmente a rotinas de trabalho mais colaborativos e desenvolvidos em equipe. Sim, neles, cooperação e individualismo coexistem. Deles, não espere reuniões monótonas, impositivas e prepare-se para uma apaixonada defesa de pontos de vista e um desconcertante pragmatismo.
Porque tudo lhes parece fácil e simples, e porque estão conectados com muitas pessoas e muitas informações simultaneamente, podem perder o foco e, não obstante a criatividade, podem não transformar as ideias em inovações ou produtos e serviços úteis.
E é aí que pessoas de gerações anteriores podem ser eficazes: como mentores ou coaches dos Y. Mas esqueça os estilos gerenciais que fizeram as gigantes empresas da era industrial o que foram décadas atrás. A autoridade que aceitam é aquela advinda da competência técnica e da reputação de quem pretende comandá-los. E sabem distinguir autoridade de autoritarismo – que rejeitam. Para eles, ordem e progresso não andam juntos. Progresso, sim; ordem, nem tanto.
Quer que um Y seja produtivo? Ele será, se o gerente aprender a negociar o resultado esperado. A Geração Y gosta de “trocar”: trocar ideias, trocar coisas, trocar resultados e comprometimento por um trabalho com significado, desafio, aprendizagem, liderança inspiradora, ambiente de trabalho agradável e divertido.
A Geração Y gosta de lugares e pessoas divertidas. Aliás, está ensinando às gerações precedentes que o trabalho pode e deve ser divertido. Expressões como IFT (índice de felicidade no trabalho) e FIB (felicidade interna bruta) fazem parte do léxico corporativo.
Mas é esse o habitat de um Mark Zuckerberg? Pode haver um Zuckerberg na sua empresa?
É quase certo que não. Se há outros – e deve haver – ele provavelmente deve estar criando mais uma nova empresa por aí. Está criando um novo mercado (e você ainda vai comprar dele algo que ainda nem sabe que precisa). Ele talvez até já tenha passado por sua empresa e você não reparou. Talvez seja aquele jovem cheio de ideias que ninguém levava muito sério e para quem os gerentes não tinham tempo nem paciência. Ou aquele empregado-problema, rebelde, irritante, insubordinado, que não cumpria horário, estourava prazos, orçamentos, e só fazia perguntas quando você queria respostas.
E quase certo que você quisesse reter um Mark Zuckerberg se ele tivesse as virtudes do gênio que ele é, mas não vícios do homem açoitado por paixões e interesses nem tão virtuosos assim (pelo que se depreende do filme). Mas aí ele não seria a personalidade do ano. Seria?
Na dúvida, melhor dialogar com os Y que habitam sua empresa. Quer saber o que pensam? Pergunte a eles o que querem, pensam e sentem. Exatamente como faz com os seus clientes especiais.
Quem sabe você não descobre em um Y de seu time de talentos com potencial de um Mark Zuckerberg? [Webinsider]
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Luiz Alberto Ferla
Luiz Alberto Ferla é CEO do DOT digital group, considerada uma das 100 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil/2014.
15 respostas
Super interessante o texto só contribui mais ainda com minha teoria que a geração Y é como a letra nariz em pé, mas que tem sempre dois lados pra te mostrar, quer ver?Eles vão ser legais te ajudar e depois pensar neles, não quer?Eles vão olhar pra o seu elo central e beijo me twitta!
Quem fala é uma jovem empreendedora da geração Y ,que já fez muita besteira e já foi muito como no texto acima com todas as qualidades e birras da geração Y, mas que aprendeu na marra com a geração X que não é assim que a banda toca, precisamos de um meio termo.
A geração X abaixa a bola e tenta entender e nos ouvir a minha geração a Y empurra a bola e olha pra trás entendendo que tem que lançar, mas nunca deixar de olhar pra trás para não cometer erros de falta de humildade por exemplo.
Beijos, twitte comigo? @xpdmidia
Zuckerberg eu não sei, mas já trabalhei em um lugar onde o programador um dia pediu as contas e levou embora todo o sistema que estava desenvolvendo para a empresa…
Assisti o filme, e como vi em todos os comentários que vi acima, fiquei empolgado.
Um filme motiva as pessoas, como em:
Velozes e Furiosos: virou uma onda todo mundo colocar neon no carro e andar com carros turbinados (ou virtuais) pelas ruas da cidade.
Tropa de Elite: amigos se motivaram e sairam da área de web para virar PM. No 2, todo mundo ficou com vontade de dar um morro no deputado.
A Era do Gelo: companheiros de classe se motivaram a estudar 3D para trabalhar na Pixel ou Dreamworks.
…e por ai vai!
O que acontece que as pessoas se identificam, motivam-se, mas se esquecem! Não estou dizendo que o Facebook irá acabar ou que não existem pessoas capacitadas a criar um produto ou negócio revolucionário, mas que as pessoas se acomodam.
A abordagem citada acima, é uma realidade, a geração Y é diferente, mas acomodada. Os pais não tem autoridade para cobrar resultados, deixando nas mãos das instituições de ensino esse papel, que infelizmente a maioria não corresponde.
Um documentário interessante sobre o assunto é o We All Want to Be Young (http://www.youtube.com/watch?v=ZidBmzFFSyk), quem não assistiu, vale a pena investir alguns minutos nele.
Há 1 mês estou me dedicando a projetos próprios, abandonando a comodidade de um trabalho fixo, e ao conhecer a história de Mark Zuckerberg, me motivei ainda mais tentar criar um produto/serviço/negócio próprio 😉 #ficadica
E incrivel como os chefes autoritarios e o pessoal de RH com seus textos prontos somem nessa hora, ninguem quer admitir a culpa por ter mandado embora ou nao contratado um Mark da vida
Corrigindo: A única coisa que fica boa com o tempo é fruta e não ser humano.
Para complementar, alguém pode citar a possível arrogância de um Y. Mas, pelo que tenho visto na prática, muitos da X e a maioria dos baby boomers é que NÃO aceitam correções e conselhos de mais jovens. Tudo porque se apoiam na idade. A única coisa que fica boa com o tempo não é fruta e não ser humano. Somente ficar parado acumulando anos NÃO te torna mais sábio / mais inteligente / mais paciente etc. É a busca pelo conhecimento e pela sabedoria que te torna. Neste sentido, há tantos e tantos X e baby boomers que tem muito mas muito menos visão de mundo do que Y. Infelizmente, como falei, já peguei várias tranqueiras em ambiente de trabalho. Sai humilhado e ainda por cima, com a culpa e “queimado”.
Nem a Sabedoria vem assim de graça, mas pela “busca da mesma”.
Outra característica, aliás, de mtos X e da maioria dos baby boomers, pelo próprio testemunho oferecido no dia e em ambiente de trabalho, é que em certas oportunidades se consideram a ÚNICA fonte de informação, conhecimento, bom senso e de inovação, não acreditando ser possível isso vir de outro mais novo. Triste, mas muitos e muitos talentos, sonhos, esforços e esperanças são desperdiçados e oprimidos.
E o pior que fica disso tudo, pra eles, é que o Y (eu no caso) sou “irritado” ou “não gosto de pessoas mais velhas” — ou seja, levam tudo para O LADO PESSOAL e não analisam atitudes. Preferem analisar pessoas e não atitudes. Quem não se auto-avalia não cresce e não deixa os outros ao redor crescerem também.
Na empresa onde trabalhei tinhamos vários destes candidatos a Zuckerberg, e igualmente tinhamos uma gerencia que procurava trata-los diferentemente dos outros ‘comuns’, estimulando-os. Ao final de algum tempo fica patente que estas pessoas dificilmente são capazes de criar algo verdadeiramente importante para a empresa. São capazes de grandes ideias mas de realizações pífias.Existem milhares de Zuckerbergs por ai, e francamente, não vão além de sonhadores, são as ‘cigarras’ da fábula. Morrem de frio no fim, enquanto as formigas dão duro. (será que não dá um bom filme, falar destes outros?) Infelizmente este tipo de artigo, falho e que vai na onda dos modismos passageiros, parece glorificar estas pessoas desajustadas, incentivando a ideia errada de que o trabalho duro é para as formigas, e que a genialidade é sempre premiada pela fama e a fortuna.
Tenho 28 anos e já convivi com chefes inseguros, inflexíveis e autoritários — todos com idade superior a minha e de outras gerações.
Um dos problemas é que por vezes acham que são a única fonte de solução de problemas ou conhecimento.
Acrescentando a este artigo, como experiência pessoal, estes mesmos chefes, ainda que vivendo uma vida profissional de letargia, ao perceberem o Y expondo suas idéias “despertarão” e lutarão “por dois”
Quando se é movido por inveja, o ser humano tem força duplicada.
Por amor, triplicada. Mas amor não é sentimento. É prática e é refinado no dia a dia.
Inveja, ao contrário, é natural ao ser humano, instantâneo e imediato. Não precisa fazer nada pra sentir inveja. Apenas seja você mesmo.
Para atitudes positivas é que é necessário empregar energia. Pra mudar a si é que é necessário “fazer algo”.
Interessante que os chefes problemáticos que tive, usavam toda a violência, força, “costas-quentes” e poder do dinheiro (ameaça de demissão) pra tolir uma voz que pensasse diferente — chamavam de “insubmisso” mesmo não sendo insubmisso mas, cordialmente, discordando.
É a velha geração que, não surpreendemente, trouxe o Brasil ao que nós somos hoje. Não todos, mas a maioria cheia de autoritarismos e explosões de raiva. Às vezes, com demonstrações fora de hora e forçadas de coleguismo.
Como citei, nem todos são assim. Mas infelizmente, o testemunho negativo da maioria é deste jeito mesmo. Sào eles mesmo produzindo provas contra si.
Não foram os americanos que nos trouxeram até aqui e sim nós mesmos. Ou melhor, pessoas de gerações anteriores. Parece óbvio mas como é tão negligenciado!
Parabéns pelo Artigo, Ferla! Muitos pontos interessantes para reflexão: o coach de hoje, o Zuckerberg de amanhã, ética…
Um abraço, Michele
Certamente muitos talentos são tolhidos por conta de mentes burocráticas e retrógradas que reinam em certas organizações. Infelizmente a estrela de alguns chefes não brilha e estes também não deixam a estrela dos subordinados brilharem.
E cá estou eu, de plantão num domingo, lendo este texto num PC conectado a uma rede cheia de bloqueios – principalmente redes sociais. Se havia um Mark Zuckerberg por aqui garanto que ele já deu o fora há muito tempo.
Cara, sempre que vejo alguém comentando o filme do zuckerberg aparece como ele representa não só um negócio que deu certo, e sim toda uma geração. Não assiti o filme, mas uso o facebook, e vejo muito desse retrato por lá… aliás, vejo por tda a internet toda essa galera fazendo e acontecendo, colocando por chão velhos paradgmas…
Me indiquei do início ao fim. Geração Y FTW.
Interessante este artigo… aliás ontem fui ver este filme e de uma certa forma me identifiquei muito com o protagonista: sonhador, ambicioso e que tem paixão pelo que faz (PS: trabalho no mundo da tecnologia).
Uma outra característica que me faz identificar-me com o “Mark” e também com este texto é a criatividade inerente das pessoas sonhadoras. Às vezes tenho surtos de criatividade que me deixam ansioso ao ponto de ter que respirar fundo para não deixar que as idéias me consumam.
Mas o sucesso só se torna verdade quando duas coisas se unem: idéia + ação. Sem idéia não é possível vislumbrar novas formas de produzir, de gerar riqueza. E sem ação as idéias morrem em nosso cérebro.
O funcionário de hoje pode ser o Zuckerberg de amanhã…e pior, poderá ser seu concorrente… 😛