Fui ver Tron Legacy há alguns dias atrás, na sala 2 reformada do Cine Roxy, em Copacabana. Não era 3D nem dublado, graças a Deus. Depois, li a interessantíssima análise de Gilberto Alves Jr. neste site, tendo notado a aguda percepção sobre o filme escrita pelo autor.
Numa discussão em novembro passado, sobre a remasterização do filme “original” Tron no site Bluray.com, da qual eu havia participado, ninguém ainda tinha certeza de que os estúdios Disney estavam lançando nos cinemas um novo filme: Tron Legacy, próximo de ser editado em Blu-Ray, em algum momento de 2011. Mas, isto é apenas o começo!
Uma entrevista em vídeo publicada naquela página mostra o diretor Steven Lisberger anunciando em alto e bom som que a edição em Blu-Ray conterá correções diversas na tessitura do filme, que não foram possíveis quando o mesmo foi produzido. Ficou mais ou menos óbvio que a edição de Tron em Blu-Ray distanciar-se-á fotograficamente do original em definitivo. Este “original” está transcrito no DVD THX do Disney, vendido anos atrás. Isto quer dizer que quem ter o “original” em casa é melhor não jogar fora o DVD.
As edições em Blu-Ray de produções antigas têm sido uma espécie de play-ground dos cineastas. Eles vão para o laboratório e saem corrigindo tudo digitalmente, com a desculpa de que quando o filme foi feito, o resultado esperado não era bem aquilo que saiu na tela.
Vejam o exemplo de Operação França, de William Friedkin: no final da farra digital com o negativo, o seu fotógrafo Owen Roizman viu o resultado e ficou horrorizado.
Tentativas de explicar a modificação foram feitas, mas o resultado para quem conhece o filme é, convenhamos, muito estranho. Mas houve defesa para o diretor, vinda do arquivista e restaurador Robert A. Harris.
Se Bill Friedkin está certo em sua decisão de mudar o visual do filme e se tem o direito de fazê-lo, o fato é que quem queria o filme como ele era ficou na saudade, ou então, tem que esquecer a versão em Blu-Ray e ficar com o DVD.
Tron, o “original”, está indo pelo mesmíssimo caminho, mas esperamos nós, não tão radicalmente. Na edição dupla em DVD, os cineastas expõem as dificuldades de transpor o storyboard para o filme. Essas dificuldades vão desde a variação do estoque de filme negativo, até a criação da interface entre computação gráfica e filmagem ao vivo dos atores.
É bom lembrar que as experimentações de computação gráfica daquela época estavam na sua infância. Se a gente observar bem, vai notar que a intromissão de cenas computadorizadas é relativamente pequena, e muitas delas foram feitas com o emprego de compósitos e pinturas em vidro (matte painting), no lugar do background ou cena criados com computadores.
As inovações técnicas de Tron
Tron, apesar das suas limitações, não deixa de ser uma maneira nova de encarar a realização de um filme. Concebido inicialmente como um filme de animação com recursos computadorizados, não havia recursos na época para transformá-lo em realidade, como se faz hoje. Mesmo assim, visualmente o filme é um achado.
Entretanto, sob os auspícios dos estúdios Disney, os cineastas conseguiram executar um projeto ambicioso, com fotografia principal em negativo de 65 mm e efeitos especiais em VistaVision 35 mm, em melhores condições do que, por exemplo, Star Wars, que usou técnicas semelhantes.
A dinâmica do filme impediu, entretanto, que ele tivesse sido uma obra de assimilação fácil pelo chamado grande público. E eu creio que isto foi devido ao fato de que, ao lado da parte puramente lúdica dos jogos e da aventura, o roteiro usa termos da informática, os quais, diga-se de passagem, são de difícil tradução até hoje por muita gente, para explicar o desenvolvimento da trama.
Durante anos, eu pensei que “Tron” se referisse ao termo de programação do comando de rastreamento “TRace ON”, mas em documentário recente o cineasta esclarece se tratar da corruptela de “ElecTRONics”. Quer dizer, o personagem Tron é movido a eletricidade, tal como pulsos do clock de um chip.
A linguagem do filme é dividida entre as expressões do cotidiano e o chamado computês praticado entre os iniciados em informática, na década de 1980. É de se presumir que quem tinha noção de armazenamento de memória em disco, carregamento desta memória na RAM de um sistema, etc., poderia entender melhor a trama do filme.
Mas Tron foi mais ambicioso. Mesmo nesta época, era de se prever o domínio da informação digital, da prevalência e do aperfeiçoamento dos algoritmos de inteligência artificial em aplicações diversas, a ponto de digitalizar a vida do cidadão comum, em um banco de dados qualquer da memória de um sistema. E o filme antevê que uma vez o sistema corrompido, ele é de difícil controle.
Tron, o programa em si, não deixa de ser uma ferramenta semelhante como aquela que dispomos para proteger o nosso computador doméstico da invasão de vírus e programas espiões, escritos com o objetivo de roubar informações nossas no background e controlar a nossa vida cibernética como um big brother digital, à la 1984, de George Orwell.
A verdade me parece ser que, se nos anos de 1980 a verborréia computacional ainda era do domínio de um segmento pequeno da sociedade, nos dias de hoje a situação não é muito diferente, em função do uso em massa de sistemas operacionais com interface gráfica com o usuário, que transformam termos como diretório e subdiretório em pastas ou subpastas, tal como previsto nos trabalhos pioneiros dos laboratórios Xerox Parc, antes de Tron ser feito.
Na prática, é assim possível que Tron seja hoje tão hermético quanto foi na época de seu lançamento nos cinemas. Isso, somado ao fato de que a tecnologia e as mudanças que ela acarreta geralmente passam transparentes para a maioria das pessoas, ou porque elas não são formadas com o conhecimento necessário ou porque simplesmente elas não se interessam ou não querem se envolver com coisas deste tipo.
Se Tron, como filme, não chegou a ser tecnicamente revolucionário, ele abriu as portas para aqueles cineastas que acreditaram haver um imenso potencial no uso de computadores para a composição das imagens.
Por outro lado, o temor de seus cineastas, de que não poderia haver precedência da tecnologia sobre o lado criativo das pessoas que a usam, nunca deixou de ser infundado, visto o número enorme de filmes feitos hoje em dia, que abusam dos efeitos especiais e são completamente vazios no seu conteúdo.
O Legado de Tron
O novo Tron, talvez o primeiro de uma franquia, é interessante, mas não é exemplar. Algumas falas são copiadas ipsis verbis do roteiro anterior, mas nós podemos encarar isso como uma espécie de tributo ao filme que o precedeu. O mais chato, creio eu, é observar aquela rotina de esquecer o lado ficcional da estória, para acrescentar uma porradaria que não tem mais fim. Este tipo de problema, que está presente em filmes como a Trilogia Matrix ou a Trilogia do Senhor dos Anéis, desgasta desnecessariamente o desenrolar da estória e distrai o espectador interessado na trama, tirando o foco do assunto principal, que está amparado, no caso, em uma ficção científica.
Vai depender muito, é claro, de quem está assistindo, de aceitar ou não as intermináveis cenas de pancadas e brigas e de gostar mais do filme por causa disso, do que pelos seus méritos como obra de ficção.
Outro aspecto repetitivo de filmes recentes que está incluso em Tron – O Legado é o lado messiânico do principal personagem. Em The Matrix, por exemplo, “Neo” (“o novo”) é uma espécie de salvador da raça humana; em E. T., de Steven Spielberg, o alienígena morre, ressuscita e sobe aos céus, tudo isso para salvar o amigo terrestre Elliot. Em Aliens, de James Cameron, Ripley salva a inocente Rebecca das garras do monstro predador de outro planeta. No Legado de Tron, Sam Flynn arrisca a vida para salvar seu pai. E Olivia Wilde admite ter se inspirado em Joana D’Arc, para compor o seu personagem digital Quorra.
E finalmente, Tron – O Legado deixa a porta aberta para uma seqüência de outros filmes da saga, coisa que o original nunca pretendeu. Se isto é bom ou ruim para seus potenciais espectadores, eu não sei, mas certamente será ótimo para os estúdios norte-americanos que não se importam de ganhar mais alguns trocados, em filmes que nada mais acrescentam ou que nunca se propõem a fazer história no cinema. [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
3 respostas
Paulo Roberto,o que mais me impressionou em Tron ,o legado foi terem recriado o ator JEFF BRIDGES de 25 anos atras.Lembrei-me daquele antigo anuncio da Pepsi em que Elton John contracenava com vários atores e atrizes do passado e já desaparecidos.Dizem até que o último filme do Bruce Lee que ficou inacabado devido a morte do ator e finalizado com um duble,foi recentemente refeito por computação sem poderser exibido devido a problemas autorais.
O mesmo acontceu em Gladiador com o ator Oliver Reed,que teve aexibição garantida.
Imagino que vários filmes que nãio puiderma ser lançados pelo mesmo mmoticvo,vomo Something
Oi, Miguel,
Eu não tenho e-mail de contato no site por opção minha, frente ao editor, que me deu esta liberdade.
Esclareço que não faço testes ou análises de equipamentos, por não dispor de bancada ou instrumentos, e por não receber equipamento de nenhum fabricante.
Sobre o seu problema com borrão de tela, eu não tenho experiência especificamente com o HD Natural Motion da Philips e presumo se tratar de um modelo com varredura mínima de 120 Hz.
Se for este o caso, das duas uma:
1 – a sua TV não foi otimizada para a imagem de entrada. Os adaptadores de movimentam têm parâmetros que permitem ao usuário fazer um ajuste fino do sinal de entrada. O assunto foi ventilado nesta coluna anteriormente: http://webinsider.uol.com.br/2010/02/10/lcds-com-leds-parte-ii-a-eliminacao-dos-artefatos-de-movimento/
Se este ajuste for corretamente feito, a imagem terá uma tendência a ficar mais nítida e mais detalhada.
É possível, entretanto, que ainda persistam artefatos de imagem, na forma de fantasmas ou arrastes, exibidos momentaneamente na tela. Se isto lhe incomoda, é aconselhável desligar o adaptador de movimento por completo.
2 – o processador usado pela TV tem problemas ou é mal desenhado. Neste caso, é aconselhável procurar a Philips e reclamar do problema, para obter uma solução, como por exemplo, uma atualização de firmware do processador usado.
Não encontrei email de contato, então vou perguntar por aqui. Você já viu alguma tv da Philips que usa o efeito HD Natural Motion? Em geral ele deixa os movimentos mais fluidos, só que fica meio estranho e borrado em alguns casos. Tem preferência entre deixar o efeito ligado ou desligado?
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